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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Respeito é bom e elas querem

"Num país em que a violência é elogiada, as armas são liberadas e a linguagem agressiva é a tônica a luta se torna ainda mais difícil. Somos capturados pelo estoque de machismo que ainda carregamos nas veias e, às vezes, não entendemos os limites estabelecidos pelas mulheres", diz o cartunista Miguel Paiva, sobre o 'machismo estrutural' do brasileiro

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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia - Não basta não ser machista, é preciso lutar contra o machismo. A frase usada para o racismo se aplica também ao machismo. Para nós, homens, essa é a grande luta Herdamos mandamentos seculares que nos colocam erradamente acima das mulheres, mesmo de modo gentil. Essa artimanha, alimentada pelos machistas mais espertos e generosos manteve a situação quase que imutável nesses anos de pós-feminismo. 

Tive a sorte de conviver, por amizade e trabalho, com mulheres pioneiras nessa luta, feministas históricas que me adotaram como dissidente dos machistas. Fui até apelidado de mulher barbada. Para a época me parecia justo e talvez fosse. Criei em seguida uma personagem dos quadrinhos, a Radical Chic que acabou sendo uma porta-voz meio torta das mulheres em transformação. Fui criticado por homens e também algumas mulheres, mas na soma total fui muito bem aceito. 

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A Radical foi uma personagem importante, transformadora e que refletia todos os questionamentos que eu intuía serem os das mulheres. Elas começavam a alcançar os lugares de fala que têm hoje, mas ainda era pouco e aí entrava a Radical falando por elas. Hoje não vejo mais porque fazer a Radical. Ela está lá, morando em Mauá fumando maconha ou em Paris tomando champagne. Não sei bem. É tudo a cara dela.

Dessa relação uma coisa ótima eu herdei. Não que tenha me transformado num feminista. Mulheres são e devem ser feministas. Homens devem ouvir e respeitar. E isso eu aprendi e continuo aprendendo todos os dias mas todos os dias me pego ainda com algum resquício desse mandamento herdado de macho alfa.

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Quando fazia a Radical todos ficavam admirados da minha sensibilidade e me chamavam de homem com alma feminina. Apesar de gostar da definição acabei rechaçando. Não tinha alma feminina coisa nenhuma. Vi que essa classificação livrava os homens, na sua maioria, de terem uma atitude justa e respeitosa com as mulheres. Afinal, não seria normal para um homem ter a alma feminina. Homens têm almas masculinas e essas almas masculinas precisam voltar para a escola dos gêneros. Foi o que fiz esse tempo todo. 

Tentei aprender e respeitar a linguagem feminina. Vi o quanto era diferente da nossa e o quanto poderia me ensinar em termos de esperteza, transparência, inteligência e criatividade. Talvez isso tenha mudado a minha "alma". Como eu acho que tudo passa pela linguagem e a linguagem é manipulada ao interesse dos mandantes, mergulhei direto nessa questão. Respeitar as diferenças é o primeiro passo para a igualdade e quando se fala em igualdade não tem atenuante. Alguns diriam que existe a diferença física. Ok, mas isso não justifica nada, apenas obriga a um maior respeito justamente a essas diferenças. Essa diferença física também acaba levando à opressão, à violência e ao feminicídio desenfreado como estamos vendo agora. 

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Justamente na hora em que as mulheres conseguem mais espaço e mais voz, elas são "punidas" com a morte. Antes de qualquer coisa o homem violento quer manter o poder. Esse é o coração do machismo. O poder ameaçado vira violência e para a violência existe a lei. A educação dessa galera é parte do projeto para o futuro porque só a lei não resolve. A lei dá o norte, estabelece limites mas a mudança vem com a educação em toda a sociedade. 

Aqui estamos longe disso apesar de avanços pontuais na emancipação feminina. Num país em que a violência é elogiada, as armas são liberadas e a linguagem agressiva é a tônica a luta se torna ainda mais difícil. Somos capturados pelo estoque de machismo que ainda carregamos nas veias e, às vezes, não entendemos os limites estabelecidos pelas mulheres. Não temos que entender. Temos que respeitar. 

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É esse machismo que temos que combater dentro de nós e nos outros. Hierarquicamente somos iguais e assim devemos permanecer. Todas as distinções que fazemos ao julgar atos e pessoas devem partir dessa premissa, são homens e mulheres, são seres humanos. Isso acaba evitando uma segregação sexual e uma curralização dos gêneros. 

Viver um amor e ser feliz pode passar pela relação entre homens e mulheres mas se não mudarmos a maneira de entrar nessa relação seremos colocados de lado e ficaremos à beira da estrada comendo a poeira daqueles que entenderam isso. A felicidade independe de gêneros mas se os gêneros não forem respeitados deixa de ser felicidade. Vira sacrifício. 

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