“Retomar a relação com as bases”: a luta por um programa político revolucionário claro!
Pergunto ao caro leitor: como que essa relação vai ser reconstituída se as forças não mudaram em nada sua política?
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*Por Micnéias Róberth Pereira
No debate atual da esquerda brasileira é comum encontrar setores que defendam um “retorno às bases”. O que, na concepção destes, seria estabelecer uma nova relação com a classe trabalhadora e os setores oprimidos em geral. Neste artigo, pretendo estabelecer uma polêmica com a concepção abstrata de “relação com as bases”, apontando os buracos presentes e resgatando as lições da história recente do Brasil.
A premissa do debate:
Antes de tudo, é preciso dizer que o debate parte de um fato concreto da realidade brasileira: o afastamento entre as direções e os setores populares que elas buscam representar. Vide a insuficiente adesão das massas populares às lutas que afetavam diretamente suas condições de vida, no durante e no pós golpe. Esse afastamento tem sua origem na política majoritária adotada pela esquerda com a virada do século, a política reformista, eleitoral e por isso conciliadora. Mas, tem seu momento de maior clarificação, e não poderia ser diferente, a partir da crise que atinge o Brasil em 2012-2013; início das movimentações mais sorrateiras em prol do golpe de Estado no Brasil, que viria a ser vitorioso em 2016.
Aqui já aparece os primeiros moldes da divergência base, que levou à construção deste artigo.
Alguns argumentam, por exemplo, que era necessária a aliança feita entre o PT – principal força política da esquerda brasileira – e a grande burguesia interna. Mas, a questão fundamental não reside na aliança em si, já que naquele momento essa aliança representava avanços para a classe trabalhadora do País que tinha sido duramente atacada pelos governos neoliberais nos anos pós constituinte. Mas sim o que fez o partido e o restante das forças políticas presentes na aliança a partir dela. Na medida em que foram adentrando no emaranhado do Estado capitalista brasileiro, esses setores pregavam uma fé no mesmo, apelando para medidas governamentais ao invés de se apoiar na mobilização popular com vistas no rompimento da aliança – que é feita para um dia ser rompida.
Outros setores, com seu “revolucionarismo de boca” que disfarça sua posição reacionária, se limitavam - e ainda se limitam - à crítica inconsequente ao PT pela aliança feita, e na sua própria política fazem coro com as forças mais reacionárias presentes na cena política brasileira, os representantes do imperialismo. Vide os posicionamentos de forças minoritárias da esquerda em prol das manobras golpistas – conscientes ou não - como o mensalão, a lava jato, na crítica à realização da copa do mundo no país e, por fim, no processo do impeachment.
Com essas duas faces da mesma falta de clareza política e de combatividade foi que o golpe de Estado se desenvolveu e foi vitorioso. Uma presidenta eleita pela maioria do povo, contrariando as propagandas antipetistas dos grandes meios de comunicação em 2014, foi removida de seu cargo por um crime que nem sequer existiu. A partir daí, foi só ladeira abaixo; e para termos clareza do quanto ela é íngreme cito a PEC do teto dos gastos e a reforma trabalhista como expressões desse desastre. E essa unidade das faces se expressa quando observamos a tentativa de mascarar – em maior ou menor medida - a relação entre a atual situação e o golpe de Estado, a famosa tentativa de “virar a página do golpe”, por ambos os setores.
A divergência principal surge quando se coloca em questão o “como resolver”. A saída que se aponta não passa de uma repetição ao avesso da aparência do problema: “Já que perdemos essa ligação, que a retomemos!”.
Bravejam, de forma demagógica, que devemos “escutar o que a base nos diz”. Chamam de “vanguardistas” qualquer setor que tente reconstruir essa ligação de uma maneira mais avançada. Olham para a política de maneira basista, sem enxergar que todo o movimento dentro da sociedade de classes, surge de maneira piramidal; onde na ponta reside o setor mais esclarecido e a base vai tanto mais se alargando quanto mais justa for a política empreendida. Esses setores não passam de simples burocratas, que pregam um “horizontalismo”, um “democratismo” em suas organizações para esconder sua perpetuação nos aparatos de direção.
Pergunto ao caro leitor: como que essa relação vai ser reconstituída se as forças não mudaram em nada sua política? Como que podemos influenciar numa tendência à polarização e acumular forças se não fazemos nada mais do que repetir o erro mais gritante presente na esquerda nacional nas últimas décadas? Não adianta mudar de intenção se o fundamental da política derrotada não foi alterado. “De boas intenções o inferno está cheio.”
Não é possível reestabelecer esse vínculo sem a “argamassa” que o mantêm e o perpetua de maneira firme: um programa político revolucionário claro, com os interesses de classes e frações de classes que se pretende organizar; objetivando claramente o fim do sistema capitalista, sem abandonar os objetivos democráticos imediatos da revolução brasileira. Aqui está o primeiro passo a se dar para a construção de uma política transformadora, que faça valer as potencialidades históricas do nosso Povo.
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