Rio, 460 anos: Carnaval, Soft Power e Insegurança Pública
"Infelizmente, a imagem de cidade violenta é quase tão ligada à identidade do Rio quanto a alegria dos blocos", critica Jandira Feghali
Hoje é aniversário de 460 anos do Rio de Janeiro. E também é o início oficial do carnaval carioca. Uma dupla felicidade para foliãs e foliões do Brasil e de todo o mundo, que, ano após ano, convergem para a nossa cidade para viver essa experiência mágica, ecumênica, democrática e até mesmo, para muitos, transcendental. Não é por acaso que o Carnaval é um dos mais poderosos símbolos do soft power brasileiro: há blocos que fincaram raízes, recuperam nossa ancestralidade, nossos autores, nossas demandas sociais e políticas, fortalecem a arte do encontro e da convivência coletiva e pacífica nas ruas da nossa cidade. O Carnaval mostra a força da nossa identidade e também internacionaliza nossa cultura, produz auto-estima - e é peça-chave da nossa economia criativa.
A expectativa para este ano é de que a folia movimente cerca de R$ 5,5 bilhões na economia do Rio. O Carnaval fortalece os negócios locais e gera oportunidades para os trabalhadores da cultura e do entretenimento - que nem sempre trabalham em condições adequadas, como o incêndio na fábrica de fantasias em Ramos, no pré-carnaval, tristemente atesta. Mas, além de seus problemas estruturais intrínsecos, essa potência econômica é ameaçada por uma chaga que assombra o Rio há décadas: a insegurança pública.
Infelizmente, a imagem de cidade violenta é quase tão ligada à identidade do Rio quanto a alegria dos blocos, o deslumbramento dos desfiles e a acidez política das marchinhas e sambas-enredo. Relatório recente do Instituto Fogo Cruzado Um novo relatório divulgado nesta terça-feira (11) pelo Instituto Fogo Cruzado mostra que houve uma "explosão na violência armada" nos municípios da região metropolitana, com aumento no número de tiroteios, mortos, feridos, vítimas de balas perdidas e baleados em roubos em janeiro.
A política de segurança pública do governador Cláudio Castro, que foca no confronto direto com o tráfico e a milícia em áreas urbanas e sem planejamento adequado, em vez de fortalecer operações de inteligência que preservem a integridade dos cidadãos, é fator de enorme responsabilidade pelo aumento da insegurança pública. E a solução para essa crise deve sim ter repressão ao crime, formar melhor e cuidar nas corporações policiais, mas não pode ser apenas repressiva. Assim, acaba por criminalizar a pobreza, e sabemos quem fica na ponta da arma. A resposta está na própria vocação da Cidade Maravilhosa para a inclusão, a criatividade e a festa.
O Carnaval dá todas as pistas para isso: movimenta o setor cultural, o turismo, a gastronomia, a hotelaria, o comércio, gera milhares de empregos diretos e indiretos - e alegra milhões de corações. Um plano estruturado de combate à desigualdade e à falta de oportunidades para a juventude e periferias, com educação de qualidade, geração de empregos, políticas sociais inclusivas certamente traria melhores resultados. Hoje, os efeitos colaterais da política de in-segurança são o terror, a morte de inocentes com dor e sofrimento, e a desqualificação da imagem do Rio.
A mera sensação de violência já é danosa. Já o estímulo permanente à indústria criativa, que tem no Carnaval um de seus principais motores, seria um presente e tanto para fazer do Rio uma cidade cada vez mais acolhedora, cosmopolita e Maravilhosa. Temos todas as ferramentas para isso. Este ano, quando estiver na folia, observe bem e sinta a força criativa das nossas ruas. A alegria popular é a nossa maior força de transformação.
Bom Carnaval! Viva o Rio de Janeiro!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




