Rio de Janeiro: o jogo político-eleitoral do extremismo
As ações violentas no Rio de Janeiro acendem um novo alerta e situam as eleições de 2026 em um contexto mais amplo e problemático para o campo progressista.
A direita extremista precisava de uma nova bandeira para desgastar Lula, depois do erro provocado por Eduardo Bolsonaro, que resultou não só no tarifaço como no fortalecimento político de Lula e nos aumentos da aprovação do governo e nos índices da disputa eleitoral. Tentaram depois emplacar Tarcísio de Freitas, primeiro defendendo Trump; segundo, como negociador. Foi um desastre.
Tarcísio se revelou um político inábil, como suas críticas ao STF demonstraram, e inapto como gestor, como os casos de corrupção e ligações ao PCC no interior do seu governo têm evidenciado. Nesse contexto, é preciso levar em conta que a prisão por ora temporária de Bolsonaro talvez seja o combustível para as ações contra a economia e agora no RJ.
A extrema-direita ainda não achou o sucessor caso Bolsonaro realmente fique preso e inelegível. Tarcísio era quase certo; estão tentando Michelle e outros. A operação genocida produzida unicamente por Castro parece que tem a ver com uma situação puramente eleitoral e, portanto, demonstra a capacidade de que esta extrema-direita pode chegar.
As próximas pesquisas sobre aprovação do governo e das eleições presidenciais dirão se a imagem de Lula se desgastou. Se sim, os fascistas encontraram uma bandeira política, como foi em 2013, com as tarifas. Desta vez seria algo muito maior com a pressão junto a Trump usando a expressão "narcoterrorismo" para pôr fim às negociações da Malásia e possível intervenção. O que seria algo inimaginável. Mas a Venezuela está aí para exemplificar. Acho que não é para tanto.
Não foi à toa que Claudio Castro foi em maio deste ano para o Departamento de Estado Americano fazer pressão para que os Estados Unidos reconhecessem o Comando Vermelho como uma organização terrorista, passando por cima do governo federal e em claro ato de sabotagem da soberania nacional.
Portanto, fica evidente que o objetivo é desgastar ainda mais Lula, tornar um candidato extremista palpável e vencer em 2026 nas eleições majoritárias e proporcionais. E as mídias corporativas que inicialmente bateram em Castro voltaram a tentar justificar a matança com suposto avanço do CV, sem mencionar a íntima relação dele com as milícias e o crime organizado. Não fez isso com Bolsonaro também. O que pode revelar uma tentativa de aglutinar as forças que apoiam o antipetismo e o antilulismo, mesmo que à custa de um massacre.
Em uma primeira avaliação, percebe-se que o governo federal agiu rápido para desmontar a versão fake de Claudio Castro, que tentou colocar a culpa em Lula pela ação na chacina. Porém, o tempo entre esta declaração e a suposta retratação para a ministra Gleisi Hoffman deu munição suficiente para as redes extremistas trabalharem no convencimento da opinião pública. Lula, neste contexto, assinou o projeto sobre a Lei Anti-facção para dar uma resposta mais palatável à opinião pública, o que deixou em segundo plano a repercussão da criação do sistema único de educação básica.
Em todas as pesquisas colocadas a público, o tema da segurança pública é o ponto mais frágil do governo Lula. A ação genocida também se deu no contexto da declaração infeliz de Lula ao afirmar que traficantes também são vítimas e que foi amplamente explorada pelas redes extremistas, apesar de o presidente ter reconhecido o erro.
A prática de violência extrema, utilizada como exemplo de combate ao crime organizado, também se fortaleceu e representa uma clara manifestação contrária à PEC da segurança pública, que é de iniciativa do executivo e está em ritmo lento de tramitação no Congresso. A proposição visa à unificação entre as forças de segurança da União e dos Estados, como ocorreu em ação recente contra o PCC em SP. No entanto, tem ampla resistência entre os governos que têm suspeita de relação com as milícias, como o de Cláudio Castro, que se posicionou contra a matéria.
As ações violentas no Rio de Janeiro acendem um novo alerta e situam as eleições de 2026 em um contexto mais amplo e problemático para o campo progressista. As condenações de Bolsonaro e dos golpistas do 08/01 não significaram recuo político e sim incentivo às ações contra a soberania nacional e a imagem do governo Lula. Não é cabível subestimar a reação conservadora agora muito mais organizada em nível mundial com a ascensão de Trump. Bastam ver Milei vitorioso nas eleições proporcionais na Argentina, as eleições na Bolívia, os ataques políticos à Colômbia e Venezuela e o massacre no Rio de Janeiro.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

