CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Pedro Celestino Pereira avatar

Pedro Celestino Pereira

Presidente do Clube de Engenharia e um dos líderes mais ativos na defesa do pré-sal

11 artigos

blog

Rumo à doralização da economia

Optar pela conversibilidade significa fixar as taxas de câmbio, emitir dívida pública denominada em moedas estrangeiras e faz com que o Banco Central deixe a oferta monetária se regular livremente. Ao estabelecer um lastro cambial, o governo não consegue interferir, nem taxa básica de juros da economia, nem na quantidade de moeda circulante

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Uma das condições de soberania é a capacidade do Estado emitir moeda denominada na unidade por ele escolhida, sem qualquer garantia explícita de conversibilidade. É um poder fundamental diretamente associado a nações soberanas. Optar pela conversibilidade significa perder a capacidade de fixar as taxas de câmbio e de emitir dívida pública denominada em moedas estrangeiras.  

Esse poder fundamental do Estado soberano está ligado à sua capacidade de impor tributos, o que o torna capaz de emitir moeda fiduciária, de definir a taxa de juros básica e de financiar seus gastos na aquisição de bens e serviços, mediante a criação de reservas bancárias, não sendo necessário que o Estado se endivide antes de gastar.   

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Nos últimos dias o governo Bolsonaro enviou  ao Congresso duas mensagens que abrem caminho à dolarização da nossa economia:  

1. A MP 897 que, entre outras providências, estabelece que a Cédula do Produtor Rural e os títulos do agronegócio possam ser emitidos com cláusula prevendo que se sejam referenciados em moeda estrangeira, além de estender a todo o mercado financeiro a possibilidade de acessar a equalização da taxa de juros (subsídios), antes restrita a bancos públicos federais, bancos cooperativos e confederações de cooperativas de crédito.  

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

2. Projeto de lei que avança na conversibilidade do Real, desprezando os ensinamentos de experiências econômicas que deram errado no Chile, na ditadura militar de Pinochet com o experimento neoliberal dos “Chicago Boys”, e na Argentina na época da ditadura de 1976 até 1981 quando o Ministro da Economia era José Alfredo Martínez de Hoz e no período de 1991 a 2001, com Domingo Cavallo. O nosso "Chicago Old" sabe que o experimento na Argentina quadruplicou a dívida externa e prejudicou a indústria local. O programa econômico tinha como objetivo a integração da Argentina na nova divisão do trabalho da economia capitalista internacional, com base nas vantagens comparativas oferecidas por seu setor primário, agrícola e de mineração. Na prática o programa provocou uma grande transferência de capitais para o exterior e a perda de poder aquisitivo para as classes médias e baixas argentinas.  Isso fez com que a indústria deixasse de ser o núcleo dinâmico da economia. Estimulou a conversão da dívida pública interna em dívida externa, sob a alegação de que se obteriam taxas de juros mais baixas e prazos de amortização mais longos. Considerava o investimento externo essencial para reduzir o custo social do processo de capitalização do país e acelerar sua taxa de crescimento, ao entrar nos setores agrícola e e de petróleo e mineração. Qualquer semelhança com o que está no plano do Ministro Guedes não é mera coincidência.   

Optar pela conversibilidade significa fixar as taxas de câmbio, emitir dívida pública denominada em moedas estrangeiras e faz com que o Banco Central deixe a oferta monetária se regular livremente, através da entrada e saída de moeda no país. Ao estabelecer um lastro cambial, o governo não consegue interferir, nem taxa básica de juros da economia, nem na quantidade de moeda circulante.  

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Na melhor das hipóteses a conversibilidade promoverá uma entrada expressiva de capitais, acentuando a desnacionalização da economia. O primeiro efeito será a apreciação do real, com deterioração da balança de transações correntes. O outro será a formação de bolhas de ativos, dada a pequena expressão dos mercados financeiro e cambial nacional diante dos mercados internacionais, com grande probabilidade de ocorrência de crises.  A opção de atrelar a nossa moeda ao dólar se insere no quadro da submissão da nossa política externa aos interesses dos Estados Unidos, abrindo mão de uma parcela da nossa soberania. O governo terá que tomar empréstimos em dólares ou obtê-los através do sistema tributário (em última instância, terá de vir de exportações), de forma a poder gastar. Finalmente, mas não menos importante, se em qualquer época seria um retrocesso a dolarização da nossa economia, no momento atual ela pode se transformar em um desastre, pois a economia internacional vive grande instabilidade, diante  da guerra comercial entre os Estados Unidos e China, do processo do Brexit, da grande turbulência no Oriente Médio e, no nosso caso, da crise na Argentina, que afeta de modo bastante duro a nossa indústria.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO