José Reinaldo Carvalho avatar

José Reinaldo Carvalho

Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

498 artigos

HOME > blog

Rússia rejeita o falso cessar-fogo da União Europeia e alerta para intervenção imperialista

Moscou denuncia a tentativa de salvar a derrotada Ucrânia e reitera condições para uma paz duradoura

Bandeiras da União Europeia, Rússia e Ucrânia (Foto: Leonardo Attuch)

Por José Reinaldo Carvalho - A Rússia considera "inaceitável" a proposta de cessar-fogo por um mês na Ucrânia, apresentada pela França e pelo Reino Unido, segundo afirmou nesta quinta-feira (7) a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova.

“São necessários acordos firmes para chegar a uma solução definitiva”, declarou Zakharova em coletiva de imprensa, rechaçando qualquer proposta que não leve em conta as exigências da Rússia para a estabilidade na região. 

A diplomata criticou severamente as tentativas ocidentais de impor soluções parciais e superficiais, por serem inócuas, afirmando que medidas paliativas como essas apenas permitem que as Forças Armadas ucranianas ganhem tempo para se reagrupar e reforçar suas capacidades militares.

Zakharova afirmou que o real objetivo por trás da proposta europeia é "dar um respiro a qualquer preço" para o exército ucraniano, que se encontra em frangalhos no campo de batalha. Segundo ela, Kiev estaria interessada na proposta justamente para "fortalecer seu potencial militar" e preparar futuras "tentativas de vingança".

Ratificando esse posicionamento, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, voltou a se pronunciar também sobre a proposta de envolvimento militar europeu na Ucrânia, que vem acoplada com a do cessar-fogo. Disse alto e bom som que isto não seria visto como uma operação de paz, mas sim como uma intervenção direta da Otan no conflito, o que provocaria uma escalada, nunca a paz. 

“Isso não significará uma participação híbrida, mas uma participação oficial e não dissimulada dos países da Otan na guerra contra a Rússia. Não podemos permitir que isso aconteça”, declarou o chanceler. Na mesma direção, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov afirmou que a Rússia não permitirá qualquer presença militar estrangeira na Ucrânia, advertindo que isto aumentaria o risco de um confronto direto entre potências nucleares.

A Ucrânia já está derrotada, mas cobra um preço para chegar ao desfecho do conflito, exigindo o que chama de uma paz “real e justa”, cujo primeiro passo seria a trégua proposta por seus aliados europeus. Ao mesmo tempo, faz propostas irrealistas que liminarmente são um óbice incontornável às negociações com os russos. O presidente-fantoche Volodymyr Zelensky insiste na exigência da retirada russa dos territórios da Crimeia, Donetsk, Lugansk, Kershon e Zaporijia, já incorporados de jure e de facto  à Federação Russa, fato que, assegura, jamais reconhecerá. Igualmente, caudatário e submisso à Europa, Zelensky reivindica a presença de tropas estrangeiras como garantidoras da segurança ucraniana, alegando que a Rússia no futuro perpetrará novos ataques. Além disso, a adesão à Otan continua a ser considerada  uma importante garantia de segurança para a Ucrânia, algo que, em nenhuma hipótese, a Rússia aceitará.

Os imperialistas europeus, designadamente França, Reino Unido e Alemanha, hipocritamente dizem querer a paz, mas preparam-se para uma guerra de longa duração contra a Rússia. Dobram a aposta em uma política militarista própria, principalmente depois da mudança de postura dos Estados Unidos. A Comissão Europeia acaba de aprovar um pacote de 800 bilhões de euros a título de aumento de gastos militares. 

Enquanto isso, os Estados Unidos manobram propondo um cessar-fogo abrupto, sem garantias de segurança para a Ucrânia, e um acordo interesseiro com esta sobre minerais. A Rússia valoriza a reviravolta na conduta norte-americana mas não dá sinalização afirmativa à proposta de cessar-fogo. Coincide com a ideia de parar imediatamente a guerra, diz que está aberta ao diálogo e a negociações, mas considera as propostas de cessar-fogo emanadas pelos europeus ocidentais e a Ucrânia como uma mera fachada de paz.

Para compreender o contexto e a posição russa, é fundamental lembrar os motivos que levaram Moscou a desencadear a Operação Militar Especial em 24 de fevereiro de 2022.

Desde 2014, após o golpe de Estado em Kiev instrumentalizado pelos Estados Unidos, a União Europeia e a Otan, a Rússia alertou sobre a crescente militarização da Ucrânia, os ataques contra as populações russófonas no Donbass e o avanço da Aliança Atlântica sobre territórios historicamente ligados à Rússia. Moscou insistiu por anos em soluções diplomáticas, como os Acordos de Minsk, mas estes foram sabotados por Kiev e seus padrinhos ocidentais. 

Diante da iminente adesão da Ucrânia à Otan e da intensificação dos ataques ucranianos contra civis no leste do país, a Rússia considerou que não havia outra alternativa senão agir militarmente para garantir sua segurança e proteger as populações russas da região.

O governo russo já foi claro: a paz duradoura na região depende do atendimento de suas condições legítimas e razoáveis. Moscou exige a desmilitarização da Ucrânia, garantindo que o país não se torne uma base militar hostil na fronteira russa; o compromisso definitivo de Kiev de não aderir à Otan, evitando uma escalada de tensões militares; e a garantia de que nenhuma tropa estrangeira será utilizada como suposta "força de paz" para proteger os interesses ocidentais na região.

Diante desses fatos, a posição russa não apenas faz sentido, mas se mostra a única forma realista de evitar uma expansão ainda maior do conflito. Os imperialistas europeus ocidentais, ao insistir em propostas unilaterais que desconsideram os interesses russos e favorecem o regime fantoche, ilegítimo e belicista ucraniano apenas torna a paz mais distante. 

A história já demonstrou que soluções impostas por potências ocidentais sem levar em conta as realidades locais só resultam em mais caos e destruição. A Ucrânia não será exceção.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados