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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Sabotagens precisam ser denunciadas com estridência

Para a colunista Denise Assis, apesar da situação ser contornável do ponto de vista político e até mesmo acordada com o governo, o arranjo não apaga a sabotagem

Parte interna da Câmara, Abin, ministra Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, (Foto: Abr)
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 Para a colunista Denise Assis, apesar da situação ser contornável do ponto de vista político e até mesmo acordada com o governo, o arranjo não apaga a sabotagemOs políticos são como as águas de um rio. Não retornam. Seguem adiante e quando encontram pedras ou obstáculos no caminho, os contornam. É como funciona.

Foi assim, no final da semana passada, quando Lula enfrentou o risco de ver toda a trabalhosa montagem do organograma da sua gestão posta abaixo em áreas sensíveis. Mexidas portentosas na Medida Provisória enviada ao Congresso com esta finalidade, a de dar feição ao seu governo, reduziram poderes do ministério do Meio Ambiente, praticamente elevaram à condição decorativa o ministério dos Povos Indígenas, ameaçaram devolver a Abin para os militares enfim, tentaram emparedá-lo (foi a expressão que mais se ouviu).

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Do lado de cá, a plateia assistiu atônita ao espetáculo avassalador de tentativa de imobilização do governo. Como redução de danos, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, minimizou em público as manobras vindas de um deputado líder da base do governo – Isnaldo Bulhões -, cumprindo a missão de Arthur Lira, o presidente da Câmara, que vem insistindo em medir forças com o Executivo.

Houve grande repercussão. Até mesmo a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, manifestou-se no Twitter, pedindo ajuda. “Sobre o atraso ocorrido ontem no Congresso, vamos trabalhar pra que seja revertido. Se for preciso vamos ao STF pra reaver a estrutura do meio ambiente e povos indígenas. E Lula vai vetar a flexibilização da proteção à Mata Atlântica. Sobre o PL490 do marco temporal, vamos fazer pressão pra que o projeto não seja aprovado. A sociedade precisa nos ajudar a enfrentar a direita no parlamento”.

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Nunca a teoria da “modernidade líquida” de Sigmunt Bauman, foi tão justa se aplicada à política, no Brasil. Para lá de apropriada. Há fluidez e descompromisso nas relações entre os partidos e desses para com o país.

Depois da fala do presidente Lula, na Fiesp, onde naturalizou o episódio, dizendo que esse é o jogo da política, todos se apressam em fazer coro. E assim deve ser, pois como disse no início desse texto, os políticos, tal como as águas dos rios, seguem a correnteza. Sempre para frente. Porém, não se pode ignorar, com ar blasé, que apesar do Artigo 84 - muito bem apresentado e explicado pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, em entrevista ao colega Mário Victor -, garantir a formatação do governo, ao presidente, houve um solavanco.

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Fingir, como criança que cai no parquinho, esfrega a mão uma na outra e diz, com lágrimas nos olhos, para a mãe, que “nem doeu”, não minimiza a gravidade do fato.

O que a reação pública – à esquerda e à direita – significou, não foi uma condenação ao governo ou aos seus ministros. Não se deixou de reconhecer o esforço das ações políticas feitas para garantir a aprovação da MP, sob pena de se reeditar a formatação do governo anterior. Afinal, foi o próprio Lula quem pediu, no dia em que anunciou o seu ministério, que batessem no seu ombro para alertá-lo de possíveis erros.   

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E, nesse caso, o erro se houve não era dele ou tampouco dos seus ministros – exceto o fato de querer computar como vitória, algo que não foi exposto para o público naquele momento. Teria sido menos impactante, se tudo tivesse sido dito. E não o foi. Do contrário, como explicar o tuíte de Gleisi?

A declaração do presidente Lula: “o jogo começou”, a reunião, pela primeira vez, de parte da equipe num churrasco no Alvorada, a promessa de se voltar mais para a política interna – não desleixando das conquistas externas, claro -, tudo isso deixou evidente que, sim, não foi pouca coisa a tentativa de, como bem definiu a ministra Marina, tentar remontar o governo Bolsonaro dentro do governo Lula.

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Ninguém disse que seria fácil, mas exatamente por isto, não se pode minimizar e tampouco relaxar, quando o perigo mora ao lado. Melhor monitorar e, ao menor sinal, contornar, sim, mas usar de clareza. A sociedade só pode ajudar, como pediu Gleisi, se souber que se poderia perder mais do que de fato se perdeu. Uma coisa é a política, a outra, a sabotagem. E, no último caso, ela deve ser denunciada sempre. E, sim, com estridência.

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