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Mirela Filgueiras

Jornalista, com especialização em Teorias da Comunicação e da Imagem. Tem experiência nas áreas de webjornalismo, assessoria, rádio e televisão. Estuda as relações entre cibercultura e jornalismo

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Saia do Facebook

"Evito as redes pela mesma razão que evito as drogas - sinto que podem me fazer mal." 

Saia do Facebook (Foto: REUTERS/Dado Ruvic)
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As redes sociais são chamadas de "Impérios de Modificação de Comportamento" por Jaron Lanier. Lanier é um dos mais renomados cientista da computação, pioneiro no desenvolvimento da realidade virtual e autor de vários livros sobre como a Internet e as redes sociais modificam o nosso comportamento coletivo.

'10 argumentos para você deletar agora suas redes sociais'

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Este é o nome do livro de Lanier lançado em outubro de 2018. Os 10 argumentos estão listados na contracapa do livro: 1) Você está perdendo seu livre-arbítrio; 2) Largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos; 3) As redes sociais estão tornando você um babaca; 4) As redes sociais minam a verdade; 5) As redes sociais transformam o que você diz em algo sem sentido; 6) As redes sociais destroem sua capacidade de empatia; 7) As redes sociais deixam você infeliz; 8) As redes sociais não querem que você tenha dignidade econômica; 9) As redes sociais tornam a política impossível e 10) As redes sociais odeiam sua alma.

Acrescentemos mais um: as redes sociais são o meio de incitação nas guerras híbridas.

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Guerras híbridas

" 'As Guerras Híbridas são conflitos identitários provocados por agentes externos, que exploram diferenças históricas, étnicas, religiosas, socioeconômicas e geográficas em países de importância geopolítica por meio da transição gradual das revoluções coloridas para a guerra não convencional, a fim de desestabilizar, controlar ou influenciar projetos de infraestrutura multipolares por meio de enfraquecimento do regime, troca do regime ou reorganização do regime.' ". (LUCENA & LUCENA, 2018).

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Esta é a definição formulada por Andrew Korybko, jornalista na Sputinik News, Conselheiro do Institute for Strategic Studies and Predictions e autor do livro: Guerras Híbridas – Das Revoluções Coloridas aos Golpes, lançado em 2015.

Em entrevista concedida à Eleonora de Lucena e a Rodolfo Lucena, Korybko esclarece o papel do Facebook e do WhatsApp nos golpes de estado perpetrados pelos EUA.

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"Qual a diferença entre o uso do WhatsApp e do Facebook no contexto das Guerras Híbridas?

O WhatsApp é mais instantâneo e impulsivo, enquanto o Facebook é mais organizacional e metódico. O primeiro é geralmente usado para enviar informações curtas e rapidamente reunir grandes multidões, enquanto o segundo é mais bem aproveitado para um planejamento organizacional mais profundo e gerenciamento de controle de multidões a longo prazo. Eles são basicamente dois lados da mesma moeda, e andam de mãos dadas quando se trata do aspecto tático de Revoluções Coloridas.". (LUCENA & LUCENA, 2018).

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Sair do Facebook também te deixará mais feliz

Em sua declaração mais recente, Lanier disse: "Evito as redes pela mesma razão que evito as drogas - sinto que podem me fazer mal." Em seguida expressou sua "preocupação com o efeito 'psicológico' do Facebook sobre os jovens, especialmente na formação da personalidades dos adolescentes e na construção de relacionamentos.". (BBC, 2017).

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A preocupação de Lanier também é compartilhada por diversos psicólogos que "argumentam há anos que o uso do Facebook e outros veículos de mídia social está vinculado a perturbações mentais, especialmente em adolescentes. Outros compararam o uso habitual do Facebook a uma desordem mental, equiparando-o ao vício em drogas e até mesmo publicando imagens de ressonância magnética que supostamente mostram o que o vício em Facebook 'causa no cérebro'."(CAREY, 2019).

De acordo com o mais recente e abrangente estudo sobre a influência do Facebook no "comportamento, pensamento e atitudes políticas de seus usuários mensais ativos", realizado pela Universidade de Stanford e pela Universidade de Nova York ao sair do Facebook "As consequências serão bastante imediatas: mais tempo passado em pessoa com amigos e parentes. Menos informação política, mas também menos paixão partidária. Uma pequena melhora nas mudanças de humor cotidianas e na satisfação com a vida. E, para o usuário médio do Facebook, uma hora a mais de lazer por dia." (CAREY, 2019).

Internet do Paradoxo

A solidão provocada pelo Facebook não é novidade. "Em 1996, um grupo de pesquisadores da Universidade de Carnegie Mellon iniciou um estudo sobre os efeitos do uso da Internet no bem-estar psicológico e envolvimento social dos usuários. (...) eles nomearam seus resultados como 'Paradox Internet' (Internet do Paradoxoem tradução livre), relatando que, embora a Internet fosse uma tecnologia social, a maior utilização dela diminui a interação com a família e amplifica a solidão. Sim, é a máxima do 'Aproxima quem está distante e distancia quem está próximo'."

(...)

"O Facebook e a depressão estão intimamente ligados é a conclusão tirada de uma série de estudos recentes. Cientistas apontam para a comparação social que a rede social traz. Ora, se um amigo seu - ou qualquer outra pessoa - se mostra em melhores condições de vida, isso acaba afetando o comportamento emocional. É a 'teoria da competição social'." (BUMBEERS, 2015).

É a competição social pra ver quem é mais caricato e burlesco

Lembremos agora de uma advertência de Ariano Suassuna. Suassuna, por ocasião da inauguração do auditório Ministro Mozart Victor Russomano no Tribunal Superior do Trabalho, proferiu uma palestra, nos idos de 2012, na qual relata uma conversa patética que teve com uma dondoca.

Segundo Ariano, o diálogo aconteceu durante um jantar em sua homenagem, um dia após sua posse na Academia Brasileira de Letras, portanto em agosto de 1990.

No vídeo, disponível no YouTube, Suassuna fala que está ficando preocupado "com as coisas que estão acontecendo no Brasil" (frisemos que a preocupação de Ariano data de 1990). O imortal então relata o caso da mulher que "dividia a humanidade em duas categorias de pessoas: quem foi à Disney e quem não foi"

A socialite inicia o diálogo com Suassuna perguntando:

- Você, naturalmente, já foi à Disney, né?
- Já foi aonde?
- À Disney.

Aí foi que eu descobri que era a Disneylândia, que ela já tinha tanta intimidade que já chamava Disney.
- Não, eu nunca fui não....
"Foi aos Estados Unidos e não foi à Disney?????
"Não, eu nunca fui aos Estados Unidos não, nunca saí do Brasil.

Aí eu notei uma decepção enorme na cara dela. A cara dela era de quem dizia assim: esse homem não devia ter sido escolhido pra Academia Brasileira de Letras... nunca saiu do Brasil...

Aí daqui a pouco o marido dela falou de uma pessoa lá e ela disse:
- Ele já foi à Disney, né?
E o marido disse: "Foi."

Aí eu por dentro de mim, disse: Essa mulher divide a humanidade em duas categorias: quem foi à Disney e quem não foi! E eu tô desgraçado porque não fui.

Ela tinha três filhos já adolescentes, na época aparentavam 17, 16 e 15 anos
- Vocês tiveram dificuldades com a educação dos filhos?
- Não... dificuldades normais...
- A gente também não! O problema da gente é o seguinte: os professores dos nossos filhos não tem nível suficiente pra conversar com eles...

Eu disse bom, é mãe de Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco e Castro Alves!
Vocês vejam a minha inocência, não era nível intelectual não, que isso não interessa a ela não, era nível econômico!
E ela disse:

- Outro dia o nosso caçula chegou aqui em casa arrasado, porque foi conversar com o professor dele sobre o nosso vídeo importado 'som de boris volcaine' (sic), e o professor, Ariano, nunca nem sequer tinha visto um vídeo 'som de boris volcaine' (sic)!

Aí disse ela:
- Agora me diga, que respeito um estudante pode ter por um professor que nunca nem sequer viu um vídeo 'som de boris volcaine' (sic)?
Aí eu me acovardei, eu já não tinha ido à Disney, e eu disse:
- É mesmo!

Ariano finaliza sua crítica Machadiana, diante de uma elite de sorrisos envergonhados, com uma previsão certeira:

"A gente ri porque a história é engraçada, mas o que tá por trás disso é uma quantidade de ideias frívolas, uma visão superficial do mundo e do ser humano que é uma coisa perigosa. Olhe, Machado de Assis dizia: no Brasil existem dois países diferentes, o país oficial e o país real. Eu interpreto, não sei se forçando um pouco o pensamento de Machado, que o país oficial é o nosso, é o dos privilegiados, e que o país real é o do povo. E ele dizia: o país real é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial é caricato e burlesco.

Eu sei que ele estava movido por uma justa indignação e não é totalmente burlesco não, mas se a gente não abrir o olho, a gente fica; se a gente não tomar cuidado; se a gente não levar em conta a verdade do Brasil real, a gente vai terminar como essa mulher...

Terminamos...

Referências:

BBC. 'Evito as redes sociais pela mesma razão que evito as drogas', diz o criador da realidade virtual. Disponível em:. Acesso em: 11 fev. 2019.

BUMBEERS, Fernando. Como o Facebook muda nosso comportamento social. Disponível em:. Acesso em: 11 fev. 2019.

CAREY, Benedict. Planeja deixar o Facebook? Estudo aponta consequências da desconexão. Disponível em:. Acesso em: 11 fev. 2019.

LUCENA, Eleonora de & LUCENA, Rodolfo. Agentes externos provocaram uma "guerra híbrida" no Brasil, diz escritor. Disponível em: < https://www.brasildefato.com.br/2018/10/19/agentes-externos-provocaram-uma-guerra-hibrida-no-brasil-diz-escritor/>. Acesso em: 11 fev. 2019.

RETICÊNCIAS E TRÊS PONTOS. Ariano Suassuna – Você foi à Disney? 2014. (05m36s). Disponível em:. Acesso em: 12 fev. 2019.

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