Salvador Allende, herói do povo latino-americano
"Em vez do exílio junto com sua família, que lhe foi oferecido pelos golpistas, Allende optou pelo sacrifício da própria vida", diz Bepe Damasco
“Só me cabe dizer aos trabalhadores: não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com a vida a lealdade ao povo. (...) Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.”
Este trecho do último discurso do presidente Salvador Allende, em plena resistência no Palácio de La Moneda, que estava sendo bombardeado, revela o compromisso inabalável de um mandatário com o povo que o elegeu, com a democracia, com a liberdade e com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Em vez do exílio junto com sua família, que lhe foi oferecido pelos golpistas, Allende optou pelo sacrifício da própria vida. E resistiu como um bravo, de armas na mão, junto com um grupo reduzido de combatentes que lutaram até o fim.
Em 11 de setembro de 1973, há exatos 50 anos, aquele médico de 65 anos, fundador do Partido Socialista em seu país, e que havia sido eleito presidente menos de três anos antes, dava um passo derradeiro para se transformar em mártir e herói do povo latino-americano.
O que seguiu foi a implantação de uma das ditaduras mais violentas da história. Os militares, com o apoio dos Estados Unidos, espalharam o terror, cometendo toda sorte de atrocidades e violações dos mais comezinhos direitos humanos.
O assassinato de opositores, a tortura, a cassação e o banimento de milhares de cidadãos chilenos e também exilados, uma boa parte oriunda de outros países do Cone Sul, como o Brasil, também submetidos a ditaduras, tornou-se o modus operandi da ditadura sangrenta.
Há tempos observo que Allende não ocupa o lugar que merece na memória da esquerda do continente. Já ouvi de militantes afirmações do tipo “caiu porque conciliou demais”, ou “foi pouco enérgico com os comandantes militares que depois o trairiam”, ou “as reformas populares tinham que ser feitas na marra", ou ainda “tinha que ter armado a população desde o início do governo.”
Sem entrar no mérito dessas críticas, mas a foto de Allende de capacete e metralhadora em punho sob o fogo cerrado das forças armadas chilenas, em La Moneda, na minha visão, tornam irrelevantes, do ponto de vista histórico, eventuais erros cometidos na condução do governo. Diante de seu martírio e gesto heroico, são questões menores.
Vejo, porém, com satisfação a quantidade de eventos marcados, no Chile, no Brasil e em diversos países, para "descomemorar" o cinquentenário do golpe.
Lembrar sempre, para que nunca mais aconteça.
Salvador Allende, presente!
Todos os opositores assassinados no Estádio Nacional e nos anos da ditadura militar fascista, presentes!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

