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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”

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Samuel Wainer, Getúlio e o nascimento da Petrobras

É sempre assim, tanto mais quando se trata da Petrobras: mais valem os dividendos pagos aos acionistas do que o investimento e o crescimento da empresa

Petrobras (Foto: Reprodução)
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A imprensa, ou parte dela, usa todos os seus subterfúgios para atender aos anseios dos rentistas. É sempre assim, tanto mais quando se trata da Petrobras: mais valem os dividendos pagos aos acionistas do que o investimento e o crescimento da empresa. Nenhuma “intervenção” de objetivo social é aceitável, porém aplaude-se qualquer medida em benefício dos donos do capital. 

As contendas em torno da petrolífera brasileira são históricas, anteriores à sua própria existência. Há um estudo bastante interessante do professor Luis Carlos dos Passos Martins, coordenador do curso de História da PUC do Rio Grande do Sul, que em sua tese de mestrado dissertou sobre “O Processo de Criação da Petrobras: Imprensa e Política no Segundo Governo Vargas”. 

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Num texto de 2008, Martins analisa o papel do jornal “Última Hora”, de Samuel Wainer, durante o processo de criação da Petrobras, que durou de 1951 a 1953. Varguista raiz, Wainer adaptou seu diário às idiossincrasias políticas, mantendo-se fiel ao presidente da República, mesmo quando este mudou seu roteiro de criação da estatal. 

Os brasileiros, em particular a classe política, dividiam-se entre os “nacionalistas”, que defendiam o monopólio estatal do petróleo, e os “entreguistas”, que queriam o minério explorado mediante atração de capital estrangeiro. O leitor sabe qual era a proposta inicial de Getúlio?

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O projeto do presidente, apresentado em 6 de dezembro de 1951, não propunha o monopólio estatal do petróleo, mas a criação de uma empresa de economia mista, com a participação de acionistas privados e controle da União. A despeito de seu perfil nacionalista, Getúlio não queria semear uma discussão ideológica no Congresso.

Estava armada a polêmica. Os nacionalistas, inclusive os do PTB, partido de Getúlio, classificaram o projeto como entreguista. Num primor de falsidade política, a ultraliberal e sempre golpista UDN, para se firmar na oposição, apresentou um substitutivo propondo a criação de outra empresa estatal, a Enape (Empresa Nacional de Petróleo), que deteria o monopólio integral no setor petrolífero.

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O debate foi acirrado. Mediante um acordo partidário, contemplou-se o monopólio estatal do petróleo nas mãos da Petrobras. Getúlio cedera, mas logrou manter sua imagem atrelada ao nacionalismo. 

E a “Última Hora” nessa história? Segundo o professor Luis Carlos dos Passos Martins, o jornal, inicialmente, apoiara a empresa de economia mista do projeto getulista original. Com a mudança de postura do governo, a UH de Wainer passou a apoiar o monopólio como saída política para o impasse.

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Fiel à sua linha editorial de defender as causas populares, a “Última Hora”, ao longo do processo de criação da Petrobras, apregoava o aumento de impostos sobre artigos de luxo para bancar a construção da nova empresa, com manchetes como “Champanhe, whisky e luxo pagarão pelo petróleo”. Assim, Wainer associava Getúlio aos interesses das classes desprivilegiadas. Ele estava do lado certo.

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