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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Brasil passa por crise de obediência civil

O linguista Gustavo Conde discute os sentidos de 'organização social' e entende que o Brasil precisa, neste momento, de 'desorganização'. Ele diz: "o bom comportamento do brasileiro vai chegando às raias da insanidade. Aceitar ver seu passado, seu presente e seu futuro destruídos por um bando de gente acéfala é qualquer coisa de catastrófico"

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O óleo imundo não investigado que empesteia o litoral nordestino se aproxima da região de Abrolhos, área de maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul.

Pescadores tentam evitar a aproximação com redes (e o governo federal, para variar, nada faz).

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Sintomático que o petróleo chegue em Abrolhos. Talvez, seja para os brasileiros ‘abrirem os olhos’ e permitirem que um pouco de sangue chileno corra pelas veias.

Os recados têm chegado fortes para os brasileiros em berço esplêndido: devastação da Amazônia verde, da Amazônia azul, dos rios em Minas Gerais, das nossas relações internacionais, das nossas relações humanas...

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Seria tão bom nos ver a nós mesmos protagonizando esse momento histórico para rechaçar a maldição Bolsonaro... Sem esperar ordem de partido político nenhum e sim tomando a decisão humana e pessoal de dar um basta a tudo isso.

A sociedade trabalhadora está organizada demais (bem comportada demais). Neste momento, isso só atrapalha.

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Lula construiu um partido político e uma organização social dos trabalhadores invejável, exemplo absoluto para toda e qualquer democracia que se preze. O problema é que o PT é bom demais – e qualificado demais para um país que tem a elite econômica e política mais atrasada do mundo. 

O excesso de organização e de civilidade republicana desta esquerda democrática que preza verdadeiramente o país tem sido o freio para a nossa tão aguardada revolta popular. 

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As últimas manifestações de massa no Brasil foram fascistas. Jornadas de 2013, levantes pró impeachment sem crime e muito, mas muito ódio espalhado pelas ruas. 

Muita gente tentou ler o fenômeno como ‘organização’, mas foi exatamente o contrário: é porque a extrema-direita é desorganizada, sem projeto, sem ideário consistente, sem norte, sem autoestima, que foi tão bem instrumentalizada pela Rede Globo, ganhando as ruas de maneira acachapante – e derrubando um governo legítimo e deturpando um pleito eleitoral fragilíssimo. 

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Ser civilizado demais em um país civilizado de menos dá nisso: um impasse monumental. 

A gente sente até pena de um STF tendo de responder a um presidente delinquente sobre postagens de vídeo em Twitter. 

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A população do Chile saiu às ruas justamente porque não está ‘organizada’. Eis mais um problema semântico do nosso tempo: organização não é tudo nessa vida. 

Diria, filosoficamente, o seguinte: a desorganização (o caos) é necessária em sociedades interrompidas historicamente e fortemente pressionadas pelo poder financeiro, que a tudo corrompe e a tudo deturpa. 

A desorganização política e subjetiva dá vazão às profundezas de nossos instintos de sobrevivência. Sem isso não existe revolução. Revolução não se combina nem se programa. 

Fora da caixinha das rotulagens políticas, tão ingênua quanto difusa, o indivíduo ganha soberania subjetiva e avança para cima do sistema tal como o povo chileno faz neste exato momento. 

O que fazer no Brasil? Eu diria: desorganizar um pouco essa estrutura tão bem comportada de militância política. 

Há uma armadilha infernal em curso. Ao polarizar com o bolsonarismo, a esquerda brasileira se vê obrigada a dar o exemplo e ser civilizada. Ela se auto paralisa. É estratégia para décadas, não para anos.

Da construção de um partido até à presidência, Lula demorou 22 anos. É esse o hiato famigerado de tempo que temos de encarar diante de uma sociedade violenta e excludente como a brasileira, liderada por uma elite vingativa e sem caráter. 

O bom comportamento do brasileiro vai chegando às raias da insanidade. Aceitar ver seu passado, seu presente e seu futuro destruídos por um bando de gente acéfala é qualquer coisa de catastrófico. 

Lula e o PT são bons demais para o Brasil. São qualificados demais. São democráticos demais. Ver a América Latina conflagrada neste momento histórico e ainda pedindo Lula Livre é bastante humilhante para um brasileiro que ainda sonha com democracia e justiça (mas que aguarda uma solução vinda não se sabe de onde). 

O povo do Nordeste é a esperança. Justo, politizado, corajoso, soberano, autêntico, vibrante, solidário e profundamente humanizado (como Lula, como o PT). 

O que propor diante de tal impasse? A pura e simples desorganização social?

Não é fácil organizar uma sociedade assim como não é fácil desorganizar. Este missivista está aqui apenas dando um ‘oi’ e pedindo uma reflexão coletiva que respeite as individualidades impetuosas de uma nação gravemente ferida em seu processo democrático. 

Fomos, entre 2003 e 2013, a maior democracia do mundo. O que se fez aqui em termos de governança pública e inovação gerencial foi da dimensão do espetacular. 

Nossa elite classista e invejosa não suportou essa mudança drástica em nossa sociedade e estragou a festa. 

A esquerda lulista e sua invejável organização permanecerá organizada e seu retorno à liderança do país é uma questão de tempo, haja vista o que ocorre na América Latina. 

Mas, neste momento, o país está nas mãos daqueles que não se enquadram nesse sistema organizado. Os próceres da direta conservadora brasileira, tão bem representados por Luciano Huck, PSDB, João Doria, STF, Globo e afins, contam com a docilidade republicana da esquerda para projetarem seus aparatos de violência e golpismo de maneira franca e desvairada. Eles se lixam para a imagem do Brasil e para os sentidos de democracia. 

Esta massa de brasileiros não filiados que se beneficiaram espetacularmente das políticas de inclusão e combate à desigualdade dos governos do PT precisa assumir sua existência nas ruas deste país, sem o ranço que lhes causa a filiação partidária, desorganizadamente e impetuosamente. 

Quando o Brasil voltar a ser uma democracia, com uma Suprema Corte minimamente respeitável, com um poder judiciário menos branco e com uma estrutura partidária real, com bases populares, a qualidade da esquerda lulista e do PT será mais uma vez muito bem-vinda – e como sempre decisiva. 

Mas, no momento, o Brasil é um país selvagem, completamente desorganizado institucionalmente. Não se combate o caos com respeito às instituições. 

Caos se combate com o caos. 

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