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Evilázio Gonzaga Alves

Jornalista, publicitário e especialista em marketing e comunicação digital

48 artigos

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Se a briga é para valer, chame os cidadãos

Como é que os militares esperam recuperar a economia do Brasil, entregando os recursos que deveriam movimentar o mercado interno para os bancos; vendendo a espinha dorsal do país em privatizações desnecessárias e suspeitas

Se a briga é para valer, chame os cidadãos (Foto: REUTERS/Sergio Moraes)
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"A guerra! É uma coisa demasiada grave para ser confiada aos militares."

(Georges Clemenceau, primeiro-ministro da França, na fase final da 1ª Guerra Mundial).

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Muitos setores da sociedade flertam com o General Mourão, apavorados com o desastre permanente que é o governo Bolsonaro. Há inclusive vozes da esquerda elogiando o vicepresidente, que obtém rapidamente o apoio do sistema financeiro, que vê nele mais capacidade, para aprovar a amputação ou a extinção da previdência. Caso o general consiga chegar ao poder, independente dos meios, estará consolidado o poder militar no país. À luz do desastre que foi a ditadura militar, que entregou o Brasil quebrado e estagnado, assim como da experiencia histórica, é evidente que entregar o comando do país aos militares profissionais não é boa ideia. O registro da história indica que os militares somente desempenham bem as suas funções – inclusive na guerra – quando são comandados por civis.

MOURÃO: O GENERAL E O PERSONAGEM

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A pesquisa Datafolha indica que quem sabe que o Hamilton Mourão é o presidente do Brasil, tende a avaliar melhor o general, do que o capitão presidente (na verdade tenente, visto que ele somente ascendeu ao posto imediatamente acima devido à regra das Forças Armadas, de promover qualquer militar no ato da reforma-aposentadoria). Bolsonaro é criticado por quase um terço do eleitorado, enquanto 18% consideram o general Mourão ruim ou péssimo.

O comportamento do vice-presidente tem revelado uma estratégia clara de diferenciação e afastamento das piores características de Bolsonaro, principalmente depois da posse do atual governo. O general é cordial com os jornalistas, procura se apresentar como uma alternativa racional de centro, critica posições fundamentalistas que prosperam em alguns ministérios, como o Itamarati e o MEC, faz declarações civilizadas sobre os princípios republicanos e democráticos, recebe movimentos sociais e se coloca frontalmente contra os delírios “olavistas”, que contaminam o núcleo familiar do bolsonarismo.

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Entretanto, declarações no período anterior à campanha e, também, durante o processo eleitoral são bastante contraditórias com o “novo” Mourão. Antes de se apresentar como uma figura civilizada e razoável, o general representava a ala mais reacionária, antipopular e violenta das Forças Armadas.

Quem é, na verdade, o vice-presidente? Mourão é esta figura pública que foi exaustivamente treinada, nos meses que antecederam a posse, para projetar uma imagem de político moderado; ou é aquele troglodita radical que vicejou nos porões mais sóbrios do aparato de repressão, que nunca foi extinto no Brasil?

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O próprio general e seus assessores admitem, até com certo orgulho, que entre a confirmação do resultado nas urnas e a posse, em 1º de janeiro de 2019, o vice-presidente passou por intensas sessões de media training, uma técnica utilizada nas assessorias de relações públicas, para moldar, a partir do produto bruto – a pessoa real - o personagem mais adequado para a exposição pública. Personagem, como se sabe, é uma figura de ficção artificialmente criada e não o ator que interpreta o papel.

Portanto, o Mourão vice-presidente é um personagem, ou seja, uma figura de ficção. Essa estratégia é comum na política, desde que os sociólogos especializados em pesquisa, passaram a trabalhar junto com os publicitários, criando a figura dos “marqueteiros”. As pesquisas indicam o perfil dos políticos que os eleitores desejam, e os marqueteiros preparam seus clientes para serem aqueles personagens, determinando desde as roupas que devem ser vestidas, onde, quais os cortes de cabelo, a armação dos óculos e o que eles devem falar, para quem e por quais meios.

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A maioria dos políticos de hoje não se apresenta com a sua própria personalidade, mas com aquela criada artificialmente por seus assessores especializados. Nisso, Mourão não é nenhuma exceção.

O personagem interpretado por Mourão tem conseguido convencer muita gente, inclusive do campo democrático e progressista, que rejeita mais um golpe militar. A equação é: o nível do desgoverno bolsonarista está tão ruim, inclusive para o poder econômico que o apoiou, que a aparente racionalidade de Mourão passa a ser uma boia de salvação para o país.

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O general Hamilton Mourão no poder significa a consolidação de uma estratégia nova de golpe militar. Uma estratégia que faz a tomada de poder pelos militares parecer um processo democrático normal.

Os sintomas dessa aberração já dão sinais. Ontem, dia seis de abril, o presidente do STF, Dias Toffoli, fez uma declaração de amor aos militares que estão no governo – são mais de 130. A mídia tradicional, hoje totalmente controlada pelo sistema financeiro, tece elogios a Mourão e defende a versão de que os militares são a “ala racional” do governo. Até mesmo figuras referenciais da esquerda manifestam simpatia pelo general e revelam admiração “pala disciplina e preparo” dos militares.

Entretanto, os militares no poder ou fora dele têm demonstrado entusiasmada concordância com o programa do neoliberalismo radical, imposto pelo sistema financeiro, que está sendo implantado no Brasil e que está levando o país ladeira abaixo, para o andar de baixo na comunidade das nações.

A HISTÓRIA NÃO PERDOA OS MILITARES

Georges Clemenceau; primeiro ministro francês na fase decisiva da 1ª Guerra Mundial, sendo o grande responsável pela vitória aliada; disse a frase que abre este texto logo após mais uma insana ofensiva desfechada pelos marechais e generais da França e Reino Unido, que resultou em centenas de milhares de mortes inúteis.

Frustrados com a incompetência dos chefes militares, Clemenceau promoveu uma extensa reforma da estrutura das forças francesas. A partir desse momento, a liderança civil da França assumiu o comando do conflito e levou à chefia do exército uma nova geração de oficiais, muitos deles vindos do mundo civil. As táticas se tornaram mais eficientes, menos sangrentas e a França venceu a guerra, tendo uma ajuda marginal do Reino Unido e dos Estados Unidos.

O historiador francês, Marc Bloch, que lutou como cidadão soldado nos dois conflitos mundiais do Século 20, concorda com Clemenceau, conforme deixou registrado no seu último livro, “A estranha derrota”.

Marc Bloch, uma das principais referencias no estudo da Idade Média, faz desse livro quase um diário de sua participação como oficial da reserva, convocado para o exército francês, na 2ª Guerra Mundial. O historiador é um exemplo clássico do cidadão soldado, da primeira metade do século 20. Ele serviu com honra, nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial, quando foi condecorado quatro vezes por bravura e, depois, com mais de 40 anos, aceitou a convocação, para se integrar às forças de seu país na guerra contra o nazismo.

Após a rendição da França, que foi criticada e considerada desnecessária por muitos franceses contemporâneos, inclusive Bloch, o historiador aderiu à resistência, sendo preso e condenado à morte. Antes de sua execução, Bloch deixou sua avaliação da derrota francesa, neste livro, cujo manuscrito ficou oculto até o final do conflito, tendo a sua primeira edição em 1946.

A partir de sua posição de observador privilegiado, como oficial agregado ao Estado Maior francês, o historiador pode fazer uma análise profunda dos militares na batalha. A partir do que observou em primeira mão, a opinião de Bloch sobre os militares profissionais é impiedosa.

O historiador, como a maioria dos seus concidadãos que viveram os acontecimentos não têm dúvidas em culpar os militares profissionais pela derrota. Segundo ele: “não havia entre os que me cercavam um só oficial que duvidasse: não importa o que se pensasse sobre as causas profundas do desastre, a causa direta – que exigirá ela mesma uma explicação – tinha sido a incapacidade do comando”.

E continuava; “acabei de falar do ‘comando’. No entanto, assim que a palavra saiu de minha pena o historiador em mim se escandalizou por tê-la escrito, pois o abecê de nosso ofício aconselha a fugir desses grandes nomes abstratos para tentar estabelecer, por trás deles, as únicas realidades concretas, que são os homens. Os erros de comando foram, fundamentalmente, os de um grupo humano”.

Bloch considerava os militares profissionais arrogantes, ignorantes, vaidosos, mesquinhos, incompetentes, preguiçosos, covardes e capazes das maiores mesquinharias. Um episódio, descrito por ele comprova várias dessas características presentes nos militares profissionais: “mesmo assim, um de nossos camaradas, simples tenente da reserva, mas presidente de uma grande câmara de comércio do norte na vida civil, recusou-se ousadamente a obedecer a ordem de partir para o litoral (de fugir do inimigo). Nosso subchefe de bureau, que, por uma estranha contradição diante dos costumes militares mais tradicionais, acompanhava o próprio chefe no recuo para a retaguarda, viu com péssimos olhos uma atitude tão contrária à sua. Branco de cólera, pôs o rebelde diante da mais alta autoridade do estado-maior”.

O escritor se revela estarrecido com rigidez e a incapacidade dos militares profissionais de aprender com os erros e mudar o comportamento: “uma coisa é certa: os erros então cometidos foram muito mais decisivos por seus efeitos; eles parecem muito menos perdoáveis do que a primeira concepção do plano de operações, por mais temerária que fosse. Antes de mais nada, sobre errar no início: há poucos grandes capitães que não se deixaram levar alguma vez; a tragédia começa quando os chefes não sabem reparar o erro”.

Outra característica, que exasperava Bloch é a rigidez inflexível, inútil, e avessa à criatividade dos militares de carreira: “Todos os estados-maiores que conheci praticavam, às vezes com irritante minúcia, o culto à ‘bela papelada’. As frases devem estar dispostas com grande nitidez. As fórmulas de estilo devem obedecer às leis de uma tradição rigorosa. Nos quadros, as linhas devem ser dispostas em colunas, como numa parada. As pastas devem estar cuidadosamente classificadas; as peças, tanto na partida quanto na chegada, devidamente registradas. Trata-se, em suma, daquilo que poderíamos chamar de forma burocrática da ordem. Nada mais natural do que vê-la florescer entre homens destinados, em tempos de paz, a um tipo de vida eminentemente burocrático”.

No Brasil, os militares profissionais vivem o doce ócio burocrático das casernas, desde 1945.

O ambiente intelectual nos meios militares era desalentador, segundo o escritor: “no decorrer de duas guerras, convivi com vários oficiais de origens extremamente diversas. Entre os que liam um pouco, e eram raros, não vi quase nenhum que tivesse nas mãos uma obra que o ajudasse a compreender o tempo presente, nem que fosse por intermédio do passado. Fui a única pessoa a aparecer no 4º bureau com o livro de Strasser10 sobre Hitler, e só um de meus camaradas pediu o volume emprestado”.

O historiador deixa claro que os civis, acostumados aos imprevistos da vida profissional, eram muito mais competentes, para enfrentar as surpresas da guerra, que que os militares profissionais, acostumados a viver no ambiente rotineiro, repetitivo e sem grandes exigências (além da disciplina) dos quarteis nos tempos de paz. Bloch enfatiza que nas duas guerras que participou, o desempenho dos soldados cidadãos sempre foi muito superior ao dos mentalmente enrijecidos profissionais.

QUANDO A GUERRA É PARA VALER QUEM COMBATE SÃO OS CIVIS

A superioridade dos cidadãos sobre os militares, mesmo na guerra, já foi observada inúmeras vezes na história.

Os exércitos e as marinhas das cidades gregas, Atenas, Esparte e Tebas à frente, que venceram o poderoso Império Persa – com seus soldados profissionais, mercenários ou tropas de etnias guerreiras –, eram compostos por soldados cidadãos. Mesmo os exércitos de Esparta – uma sociedade militarizada, cujo regime político era uma monarquia com reis sem poder (além da duvidosa honra de se colocar no ponto mais perigoso das falanges), com traços de parlamentarismo – eram compostos por cidadãos.

Roma conquistou toda a bacia do Mediterrâneo, contando com a força de suas legiões formadas por soldados cidadãos, no período republicano. Segundo o historiador britânico Edward Gibbon, autor da obra referência “O declínio do Império Romano”, a longa decadência romana começa quando o tribuno popular Mário começou a substituiu cidadãos por legionários profissionais e essa tendência foi acelerada com o golpe de estado de César, que na prática extinguiu a república. Segundo Gibbon, a extinção da república provocou o arrefecimento da energia que levou Roma ao crescimento e o império ainda durou tanto tempo, porque as ameaças mais poderosas haviam sido eliminadas.

O conceito moderno de soldados cidadãos surgiu na Revolução Francesa. Até então, os exércitos monárquicos que lutavam nas frequentes guerras entre os diversos reinos europeus, eram compostos por forças profissionais ou mercenárias adestradas em rígidas táticas copiadas dos manuais romanos, durante o renascimento.

Quando ocorreu a revolução na França, que questionava os fundamentos da ordem aristocrática estabelecida na Europa, as principais monarquias do continente se mobilizaram para esmagar o movimento e restaurar a coroa francesa. A primeira tentativa de deter a onda revolucionária foi iniciativa da monarquia absoluta da Prússia, com apoio de tropas austríacas e de pequenos principados alemães.

Os revolucionários, convocando um exército de cidadãos. Para a surpresa dos monarquistas, a Revolução conseguiu colocar um exército de mais de 30 mil cidadãos em campo. Foi a primeira batalha entre um exército popular, que espelhava a revolução, e uma forma convencional monárquica, presa aos antigos paradigmas. Também foi a primeira vitória, das muitas que viriam, de um exército de cidadãos, contra as forças tradicionais das monarquias absolutistas da Europa, no longo conflito, que se prolongou até 2015, no que o historiador estadunidense especializado na história da França, David Bell, chama de “A primeira Guerra total”.

Os exércitos franceses, constituídos sob novos paradigmas, depois de mais de uma década de invencibilidade, somente foram derrotados, porque toda a Europa monárquica se uniu contra a França. Além da força dos números, as forças tradicionais adotaram muitos dos novos métodos introduzidos pelos franceses. As coroas européias inclusive o estímularam o nacionalismo, como contraposição à mensagem revolucionária, e para utilizar um argumento destinado a mobilizar os cidadãos – o que confirma a régua: se a briga é para valer, é melhor chamar os cidadãos.

O estímulo ao nacionalismo acabou sendo um tiro no pé das monarquias, mas isso é outra história.

No maior conflito entre as Guerras Napoleônicas e a 1ª Guerra Mundial, a Guerra Civil dos Estados Unidos, a participação de soldados cidadãos também foi um elemento decisivo. O Sul, aristocrático e orgulhoso limitou sua capacidade de convocação de forças para o combate. Isso, além da inferioridade econômica, contribuiu para a derrota confederada.

O Norte não apenas convocou centenas de milhares de civis, como rompeu a barreira racial e formou inúmeras unidades formadas por soldados cidadãos afrodescendentes – embora segregadas, essas tropas contribuíram para a vitória.

Além de formar um exercito que tinha os soldados cidadãos no seu núcleo, a União ainda designou importantes postos de comando a civis, que revelaram impressionante valor em combate. Isso é confirmado por relatos históricos, como no livre “A marcha”, de E.L. Doctorow, e também em diversas obras da literatura e do cinema estadunidense, como os filmes “Tempo de Glória”, de Edward Zwick, e “Marcha de Heróis”, de John Ford (são dois filmes imperdíveis).

NO BRASIL NÃO É DIFERENTE

No caso do Brasil, exemplos da superior competência dos cidadãos, mesmo na guerra, com relação aos soldados profissionais, podem ser encontrados no livro da pesquisadora Teresa Isenburg, que é professora titular da cátedra de geografia política e econômica, na Universitá degli studi de Milão.

Em um dos casos relatados no livro “O Brasil na 2ª Guerra Mundial”, a professora informa que a Força Expedicionária Brasileira (FEB), antes de encontrar o inimigo nazista, enfrentou graves problemas de equipamento. “A preparação de campo acontecia com equipamentos obsoletos, originários de diversos países e tecnicamente misturados. Durante a guerra, os soldados brasileiros não tinham o mesmo modelo de fuzis, o que dificultava a instrução”.

Ao se deparar com tantas dificuldades, os oficiais de carreira, presos aos seus manuais burocráticos e a uma vida em tempos de paz na qual nada tinham que decidir, normalmente empacavam e se viam sem saída. Nesses momentos a inventividade, a criatividade, a flexibilidade e, até mesmo a coragem, dos civis preenchia as lacunas. A professora Isenburg destaca um desses casos, que ela encontrou no livro de Raul da Cruz Lima Junior.

O autor descreve a preparação do 9º Batalhão de Engenharia. Uma das missões da unidade era realizar a perigosíssima desminagem do terreno, para permitir o avanço das tropas. Porém, não havia equipamento necessário à preparação e nem modelos de minas falsas, para a realização do treinamento. A solução criativa encontrada por cidadãos soldados da tropa foi requisitar todas as latas vazias de goiabada do rancho (a cozinha militar), assim como tudo o que pudesse parecer uma mina. As latas maiores eram consideradas anticarro e, as menores, antipessoal. Rolos de lã, foram usados para substituir os detonadores, assim como arames, assim como fios, e uma série de quinquilharias, adotadas pela imaginação de cada um. Como o batalhão não estava motorizado, porque o burocrata responsável deixou de prever que um batalhão de engenharia precisa de um veículo, toda aquela montanha de latas e tralhas era transportado por uma viatura “hipomóvel” (uma carroça puxada por burro), improvisada pela criativa unidade.

DE ONDE NADA SE ESPERA É QUE NADA SAI.

A história indica que esperar mais dos militares do que de civis preparados e experimentados é uma temeridade. Como o historiador Marc Bloch pode observar de um ponto de vista privilegiado, os militares profissionais vivem a maior parte de suas vidas no confortável ócio burocrático dos quarteis. Ali, tendo seus soldos garantidos e rotina dos quartéis definidas por regras imutáveis, há muito definidas, não é exigido deles muito esforço mental.

Os cidadãos comuns, ao contrário, lutam todos os dias pela sobrevivência, já que no mundo civil não há almoço grátis. Dessa forma se preparam cotidianamente para enfrentar dificuldades. Por isso, segundo o historiador, os civis geralmente apresentam desempenho maior, até mesmo no que seria o ambiente dos militares profissionais: a guerra.

A história comprova a opinião de Bloch, também compartilhada pelo ex-primeiro ministro francês Georges Clemenceau, responsável por mudar os rumos da 1ª Guerra Mundial, quando tirou das mãos dos militares profissionais o comando estratégico do conflito e exigiu dos comandantes que nomeou novas táticas mais eficientes e menos mortíferas.

A 2 Guerra Mundial confirma essa tese, visto que os comandantes supremos da vitória sobre o nazismo foram os civis Franklin Delano Roosevelt, Winston Churchill e Joseph Stalin.

MILITARES BRASILEIROS NÃO SABEM NEM QUAL É O INIMIGO

Então, como esperar que os militares brasileiros, que ruminam dentro dos quarteis há 34 anos, depois do desastre que foi a ditadura militar, estejam preparados para salvar o Brasil. A história indica que os militares não funcionam bem, quando não são comandados por civis.

E, no Brasil, os militares se revelam incapazes, até mesmo de identificar as missões do governo federal e quais são os verdadeiros inimigos do Brasil. Eles não conseguem perceber que a multidão de desempregados, o crescente numero de trabalhadores que vão para a informalidade e a explosão da miséria estão destruindo o mercado interno, que é uma das forças do país. A virtual extinção do mercado interno e a falta de políticas públicas consistentes estão levando a base industrial laboriosamente construída, ao longo de décadas para o abismo. Somente esses elementos já são capazes de levar o país a uma implosão catastrófica.

Nada disso é percebido pelos militares, presos aos manuais antiquados da Guerra Fria.

Levados à miopia, os militares aceitam acriticamente o discurso dos banqueiros e acreditam que tudo se resolverá como um passe de mágica, entregando um trilhão de reais para os bancos. São os mesmos bancos que tratam os cidadãos, que compõem o mercado interno, com os obscenos juros no cartão de crédito, do cheque especial e dos empréstimos bancários. São os mesmos bancos responsáveis pela crise que quase fulminou a economia mundial, em 2008.

Como é que os militares esperam recuperar a economia do Brasil, entregando os recursos que deveriam movimentar o mercado interno para os bancos; vendendo a espinha dorsal do país em privatizações desnecessárias e suspeitas; levando a população a um sofrimento extremo, desindustrializando o país e tentando impedir o pensamento e a criatividade.

É uma pergunta que, dado o perfil histórico dos militares profissionais, não será respondida. Pelo que se pode observar, os militares não possuem nível cultural para entender o presente, pois não conhecem bem o passado (como observou Marc Bloch). Portanto esperar alguma coisa de onde nada sai, é perder tempo.

A única saída sólida é a democracia.

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