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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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Se nada der certo, é melhor ficar calado

O que fica claro nessa história toda é a inferiorização de algumas classes trabalhadoras por parte de uma elite minoritária, que depende e muito dos serviços prestados por quem eles mais desprezam e enxergam com insignificância. Como devem ter se sentido o porteiro e a auxiliar de limpeza dessa instituição?

Festa "Se nada der  certo" da escola IENH (Foto: Nêggo Tom)
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Definitivamente, a fase não é das melhores para a humanidade. Principalmente para a casta nobre e mais abastada de nossa sociedade tupiniquim, que não abre mão de sua natureza escravocrata e de sua hereditariedade colonizadora e faz questão de demonstrar todo o desprezo que sente por aqueles que não fazem parte do seu seleto e aristocrático grupo social.

Em tempos de politicamente correto, a incorreção se rebela e tenta vandalizar o discurso de valorização da espécie e respeito ao ser humano, em toda sua diversidade. Alunos de um tradicional Colégio do sul do país, promoveram um "recreio temático", cujo tema era "Se nada der certo", numa referência às opções de atividades profissionais, as quais eles recorreriam se não fossem aprovados no vestibular.

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Não há dúvidas, que na vida, as vezes é preciso ter um plano B. Mas o que para mim, para você e para muitos, seria uma alternativa digna e honesta, para os jovens estudante secundaristas do IENH (Instituição Evangélica de Novo Hamburgo), é, na verdade, o fundo do poço. E assim eles foram se divertir fantasiados de trabalhadores que atuam em profissões, que na visão deles, são inferiores e são exercidas por pessoas que não deram certo na vida. Muito espirituoso, né?

Entre as categorias escolhidas, no caso de nada dar certo - Deus os livre - estavam garis, faxineiras, domésticas, vendedora de O boticário, entregador de pizza, churrasqueiro, mecânico, atendente do Mc Donalds, operador de telemarketing, ambulante. Os mais pessimistas ou com o senso de humor mais ácido, se fantasiaram de morador de rua e de ladrão. Em suma: uma verdadeira bosta.

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Se essa "non sense party" tivesse acontecido no salão nobre do congresso nacional, eu confesso que não me assustaria. Afinal, lá tudo acontece mesmo. Mas isso tudo foi promovido dentro de uma instituição de ensino tradicional e evangélica. E se o soneto já fora um desastre, a emenda passou longe do eufemismo. A nota emitida pelo colégio, em sua página no facebook, conseguiu transformar, o que eles queriam nos apresentar como metáfora, em pura e simples metonímia.

Um trecho diz: "A atividade 'Se nada der certo' faz parte do projeto Dia D, prática comum nas escolas da região e grande Porto Alegre, que tem como objetivo promover momentos de integração e descontração entre os formandos do Ensino Médio..." Ou seja, vamos interagir e nos divertir, se passando por aquelas pessoas, as quais, nunca desejaríamos ser. A não ser que tudo dê errado . Em outro trecho: "O objetivo principal dessa atividade foi trabalhar o cenário de NÃO APROVAÇÃO NO VESTIBULAR, de forma alguma foi fazer referência ao 'não dar certo na vida'. Atividades como essa auxiliam na sensibilização dos alunos quanto a conscientização da importância de pensar alternativas no caso de não sucesso no vestibular e também a lidar melhor com essa fase." E assim a equipe diretiva e pedag ógica que assina a nota, reforça o preconceito com as profissões, que exigem menos erudição.

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O que fica claro nessa história toda, é a inferiorização de algumas classes trabalhadoras por parte de uma elite minoritária, que depende e muito dos serviços prestados por quem eles mais desprezam e enxergam com insignificância. Como devem ter se sentido o porteiro e a auxiliar de limpeza dessa instituição? E as domésticas que têm que arrumar os quartos dos jovenzinhos relaxados e preguiçosos? E as babás que cuidaram de muitos desses que se fantasiaram de trabalhadores comuns, com todo carinho e responsabilidade, como se fossem os seus próprios filhos?

Que tipo de instituição educacional se propõe a integrar os seus alunos, inferiorizando intelectualmente e menosprezando profissionalmente outros grupos sociais? Eles acreditam mesmo que teria outra forma de se interpretar essa "brincadeira"? Faltou dignidade e decência aos educadores da IENH. Os alunos apenas aproveitaram o momento de "descontração", para externarem os seus preconceitos e exorcizarem os seus fantasmas sociais.

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É claro e evidente, que todos teriam verdadeira ojeriza à trabalharem nas profissões escolhidas por eles para se divertirem. E como não há a menor possibilidade deles se submeterem a tamanha "humilhação" - uma vez que todos são economicamente bem nutridos - por que não brincar com tamanha "desgraça"? Ainda que tudo dê errado, eu sou o herdeiro. Mais do que temático, esse recreio foi didático. Nos ensinou que se nada der certo, é melhor ficar calado.

A direção.

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