Segunda semana: a COP30 precisa ouvir o agricultor
O enfrentamento da crise climática deve ser visto como oportunidade de reorganizar a produção rural, valorizando arranjos produtivos locais
A 30ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU (COP30), que ocorre em Belém, representa um marco histórico para o Brasil. Pela primeira vez, a Amazônia se torna também o centro simbólico de uma discussão global sobre o futuro da Terra. Mas, para que essa conferência seja ainda mais plural, é preciso olhar além das fronteiras diplomáticas e incluir nas decisões o Brasil real da agricultura, em especial do pequeno agricultor.
A transição ecológica, se não for acompanhada de inclusão social e econômica, corre o risco de se tornar um projeto excludente para boa parte das pessoas que vivem no campo. O enfrentamento da crise climática deve ser visto como oportunidade de reorganizar a produção rural, valorizando arranjos produtivos locais, cadeias curtas de comercialização e modelos cooperativos que promovam renda com baixo impacto ao meio ambiente. O desafio é conciliar sustentabilidade com desenvolvimento, e isso só será possível se o pequeno agricultor for parte do processo.
Entender também o quanto os programas de compras públicas de alimentos, como o PAA e o PNAE, são instrumentos concretos dessa integração, garantindo o acesso da população a alimentos saudáveis, fortalecem a economia dos pequenos municípios. Em um cenário de emergência climática, esses programas ganham novo valor: são ferramentas de resiliência territorial, porque conectam produção e consumo de forma solidária e sustentável.
Também é fundamental repensar as políticas de permanência no campo. O êxodo rural continua a avançar, empobrecendo cidades médias e reduzindo a diversidade produtiva do país. Políticas de crédito, assistência técnica, infraestrutura e moradia rural são condições básicas para reverter esse quadro. Defender o campo é defender o equilíbrio entre o humano e o ambiental.
Outro eixo essencial é o reconhecimento da ciência e dos saberes tradicionais como dimensões complementares de um mesmo processo. O Brasil é rico em biodiversidade, mas ainda investe pouco em pesquisas com plantas medicinais, fitoterápicos e tecnologias sociais. Valorizar o conhecimento das comunidades rurais e povos originários é ampliar o alcance da ciência e torná-la mais enraizada no território.
A COP30 deve, portanto, ser mais do que uma conferência sobre metas de carbono ou acordos multilaterais. Ela precisa ser uma conferência sobre gente, trabalho, comida e vida digna. Se o Brasil deseja liderar o debate climático global, deve fazê-lo a partir de sua maior riqueza: o povo que alimenta o mundo e cuida da terra com as próprias mãos.
*Elton Welter é agricultor familiar, mestre em desenvolvimento rural sustentável e deputado federal pelo Paraná.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.


