CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Valdete Moreira avatar

Valdete Moreira

Professora nas redes públicas municipal e estadual em Cachoeirinha/RS, dirigente sindical do Cpers/Sindicato e Movimento Popular Pedagógico-Escola do Povo.

4 artigos

blog

Sem ilusões, sem hipocrisias

O enfrentamento dessa realidade é mais do que necessário. É muita ingenuidade achar que a escola e os alunos que vão voltar serão diferentes no sentido cristão de um mundo mais humanizado, dar vazão a essa ideia sem nada fazer pra mudar essa realidade é beirar a hipocrisia.

Professor em sala de aula (Foto: CECILIA BASTOS/USP Imagens)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Voltaremos para as escolas. Essa é a nossa realidade. Precisaremos voltar em algum momento. O isolamento não se dará de forma eterna na espera da vacina contra um vírus que apresenta mutações.

O que emerge, é a expressão máxima da ausência absoluta de debates sobre a educação e as condições de vida que estão enfrentando as crianças e jovens mais vulneráveis, por parte de governantes, sociedade e a mídia hegemônica a ponto de se zombar com propagandas na TV e rádio, coloridas e bem feitas, sobre a lindeza de oportunidades que seria fazer o Enem em condições normais.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O "apagão educacional" por conta de governantes, desconsiderando a retirada em massa da escola de crianças e jovens e que afeta milhões de famílias é para enviar um recado a todas e todos que se colocam contra a retirada de direitos desenfreada promovido na educação. É para calar a voz dos oprimidos. Não é coincidência ou um erro de análise.

Quando falamos em educação não falamos apenas de transmissão de conhecimento, falamos de vida e oportunidade de integração do sujeito ao meio em que vive com condições dignas de sobrevivência.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A primeira coisa necessária é o olhar diferenciado para essas crianças e jovens, muitas delas hoje pelas ruas das cidades em busca de doação de alimentos.
O que encontraremos no retorno às nossas pobres escolas não é nada bonito, romântico, cristão ou "um mundo melhor". Encontraremos o resultado de um estado racista, terrorista e genocida, que não usa máscaras para dizimar a educação e consequentemente o povo pobre das vilas e periferias.

Retirar a educação do centro do debate público envolvendo a sociedade faz com que crianças e jovens pobres, alunas e alunos das escolas públicas não se vêem como cidadãos, como alguém que tem direitos. Nós professoras e professores muitas vezes percebemos nas escolas, mães e pais que agradecem muito quando recebem atenção ou são tratados com dignidade, como se dar boas aulas, servir uma merenda de qualidade, ter bom espaço físico ou um ambiente de aprendizagem acolhedor fosse um favor, como se não fossem merecedores de uma educação de qualidade. E é aí que se apega essa política criminosa, gerando vínculos de dependência, negando o debate, ganhando a confiança com assistencialismo no intuito de mostrar o quanto o pobre é desajustado e incapaz de viver a sua cidadania com autonomia e com direito de ter uma vida diferente.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A primeira grande questão é que ao contrário do que diz o senso comum, crianças e jovens que vivem nas comunidades mais pobres tem um risco maior de adquirir doenças e consequentemente mais dificuldades em aprender o que as diferencia das demais formando um abismo enorme no nível de oportunidades entre outras crianças e jovens mais favorecidos economicamente.

São jovens e crianças que aimentam-se mal, estão submetidos mais facilmente a alterações climáticas, dormem mal, compartilham espaços aglomerados, vivem sob intenso nível de stress, com medo de sofrer diversos tipos de violência, não tem acesso a recursos e ferramentas digitais e o ambiente dificilmente é alfabetizador.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Outra dificuldade é a da percepção do individuo em relação a aprendizagem. Sabem que tem dificuldades e precisam do ensino mas não priorizam estudar, simplesmente por viverem numa lógica de sobrevivência. Quando não se sabe o que se vai comer ou como se vai passar o dia o estudo fica em segundo plano.

Embora o acesso as escolas públicas é universalizado a realidade nos mostra que para muitos ainda há agravantes. Para se chegar até a escola também é difícil. Crianças com freqüência precisam caminhar longas distâncias para chegar até a escola, doentes ou não, não faltam as aulas, muitas vezes chegam febris. Faltar a aula significa não comer. É a lógica da sobrevivência. Comida primeiro, médico depois.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Também é comum que estejam com roupas sujas ou não tenham tomado banho, o que faz com que sejam mal recebidas. São discriminadas e sofrem preconceitos.

O resultado final de tantas dificuldades é a busca pelo estudo em último caso.
Assim, muitas questões de ensino tornam-se crônicas e por isso mais difíceis de resolver.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Essa é a realidade enfrentada por milhares de crianças e jovens alunas e alunos da maioria de nossas escolas públicas.
Esse é o perfil atendido em nossas escolas. Esse é o perfil que a mídia e governantes fazem questão de desconhecer. Esse o grande abismo da Educação.

O enfrentamento dessa realidade é mais do que necessário. É muita ingenuidade achar que a escola e os alunos que vão voltar serão diferentes no sentido cristão de um mundo mais humanizado, dar vazão a essa ideia sem nada fazer pra mudar essa realidade é beirar a hipocrisia.

É na volta que mostraremos ao mundo à frágilidade da nossa realidade e traremos a educação para o centro do debate. É na dor que se dará a luta de classes.
Não podemos romantizar mais essa realidade, pois em plena pandemia mundial o Estado, o capitalismo brasileiro e suas instituições seguem funcionando, com seu perfil histórico de manutenção das desigualdades estruturais e de perpetuação direta ou indireta da barbárie contra o povo.

O enfrentamento sem romantismo cristão ou ilusão conciliatória é mais do que necessário é urgente.
Que a dor nos seja suportável!

Voltaremos para as escolas. Essa é a nossa realidade. Precisaremos voltar em algum momento. O isolamento não se dará de forma eterna na espera da vacina contra um vírus que apresenta mutações.

O que emerge, é a expressão máxima da ausência absoluta de debates sobre a educação e as condições de vida que estão enfrentando as crianças e jovens mais vulneráveis, por parte de governantes, sociedade e mídia hegemônica a ponto de se zombar com propagandas na TV e rádio, coloridas e bem feitas, sobre a lindeza de oportunidades que seria fazer o Enem em condições normais.

O "apagão educacional" por conta de governantes, desconsiderando a retirada em massa da escola de crianças e jovens e que afeta milhões de famílias é para enviar um recado a todas e todos que se colocam contra a retirada de direitos desenfreada promovido na educação. É para calar a voz dos oprimidos. Não é coincidência ou um erro de análise.

Quando falamos em educação não falamos apenas de transmissão de conhecimento, falamos de vida e oportunidade de integração do sujeito ao meio em que vive com condições dignas de sobrevivência.

A primeira coisa necessária é o olhar diferenciado para essas crianças e jovens, muitas delas hoje pelas ruas das cidades em busca de doação de alimentos.
O que encontraremos no retorno às nossas pobres escolas não é nada bonito, romântico, cristão ou "um mundo melhor". Encontraremos o resultado de um estado racista, terrorista e genocida, que não usa máscaras para dizimar a educação e consequentemente o povo pobre das vilas e periferias.

Retirar a educação do centro do debate público envolvendo a sociedade faz com que crianças e jovens pobres, alunas e alunos das escolas públicas não se vêem como cidadãos, como alguém que tem direitos. Nós professoras e professores muitas vezes percebemos nas escolas, mães e pais que agradecem muito quando recebem atenção ou são tratados com dignidade, como se dar boas aulas, servir uma merenda de qualidade, ter bom espaço físico ou um ambiente de aprendizagem acolhedor fosse um favor, como se não fossem merecedores de uma educação de qualidade. E é aí que se apega essa política criminosa, gerando vínculos de dependência, negando o debate, ganhando a confiança com assistencialismo no intuito de mostrar o quanto o pobre é desajustado e incapaz de viver a sua cidadania com autonomia e com direito de ter uma vida diferente.

A primeira grande questão é que ao contrário do que diz o senso comum, crianças e jovens que vivem nas comunidades mais pobres tem um risco maior de adquirir doenças e consequentemente mais dificuldades em aprender o que as diferencia das demais formando um abismo enorme no nível de oportunidades entre outras crianças e jovens mais favorecidos economicamente.

São jovens e crianças que aimentam-se mal, estão submetidos mais facilmente a alterações climáticas, dormem mal, compartilham espaços aglomerados, vivem sob intenso nível de stress, com medo de sofrer diversos tipos de violência, não tem acesso a recursos e ferramentas digitais e o ambiente dificilmente é alfabetizador.

Outra dificuldade é a da percepção do individuo em relação a aprendizagem. Sabem que tem dificuldades e precisam do ensino mas não priorizam estudar, simplesmente por viverem numa lógica de sobrevivência. Quando não se sabe o que se vai comer ou como se vai passar o dia o estudo fica em segundo plano.

Embora o acesso as escolas públicas é universalizado a realidade nos mostra que para muitos ainda há agravantes. Para se chegar até a escola também é difícil. Crianças com freqüência precisam caminhar longas distâncias para chegar até a escola, doentes ou não, não faltam as aulas, muitas vezes chegam febris. Faltar a aula significa não comer. É a lógica da sobrevivência. Comida primeiro, médico depois.

Também é comum que estejam com roupas sujas ou não tenham tomado banho, o que faz com que sejam mal recebidas. São discriminadas e sofrem preconceitos.

O resultado final de tantas dificuldades é a busca pelo estudo em último caso.
Assim, muitas questões de ensino tornam-se crônicas e por isso mais difíceis de resolver.

Essa é a realidade enfrentada por milhares de crianças e jovens alunas e alunos da maioria de nossas escolas públicas.
Esse é o perfil atendido em nossas escolas. Esse é o perfil que a mídia e governantes fazem questão de desconhecer. Esse o grande abismo da Educação.

O enfrentamento dessa realidade é mais do que necessário. É muita ingenuidade achar que a escola e os alunos que vão voltar serão diferentes no sentido cristão de um mundo mais humanizado, dar vazão a essa ideia sem nada fazer pra mudar essa realidade é beirar a hipocrisia.

É na volta que mostraremos ao mundo à frágilidade da nossa realidade e traremos a educação para o centro do debate. É na dor que se dará a luta de classes.
Não podemos romantizar mais essa realidade, pois em plena pandemia mundial o Estado, o capitalismo brasileiro e suas instituições seguem funcionando, com seu perfil histórico de manutenção das desigualdades estruturais e de perpetuação direta ou indireta da barbárie contra o povo.

O enfrentamento sem romantismo cristão ou ilusão conciliatória é mais do que necessário, é urgente pois a educação, infelizmente ainda será o centro do debate num futuro não muito distante.
Que a dor nos seja suportável!

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO