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Gleisi Hoffmann

Deputada federal e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores

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Sem mexer nos juros não há solução para a crise

Líder do Partido dos Trabalhadores no Senado, Gleisi Hoffmann (PT-PR) defende a desindexação da remuneração dos títulos públicos da taxa de juros Selic; "Serão necessárias medidas legais para garantir que tenhamos um sistema semelhante ao de outros países: a taxa de juros básica da economia não pode indexar a remuneração dos títulos públicos. Só assim poderemos ter um debate honesto sobre as causas da inflação e saberemos quem quer, de fato, manter a inflação sob controle ou quer manter a rentabilidade dos seus ativos (títulos públicos)", afirma; para Gleisi, a política monetária tem que ser separada da política fiscal; "O controle da inflação não pode impor custos fiscais à sociedade e transferir renda aos rentistas"

Líder do Partido dos Trabalhadores no Senado, Gleisi Hoffmann (PT-PR) defende a desindexação da remuneração dos títulos públicos da taxa de juros Selic; "Serão necessárias medidas legais para garantir que tenhamos um sistema semelhante ao de outros países: a taxa de juros básica da economia não pode indexar a remuneração dos títulos públicos. Só assim poderemos ter um debate honesto sobre as causas da inflação e saberemos quem quer, de fato, manter a inflação sob controle ou quer manter a rentabilidade dos seus ativos (títulos públicos)", afirma; para Gleisi, a política monetária tem que ser separada da política fiscal; "O controle da inflação não pode impor custos fiscais à sociedade e transferir renda aos rentistas" (Foto: Gleisi Hoffmann)
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O debate sobre os juros no Brasil ganhou maior destaque com o artigo "Juros e conservadorismo intelectual", publicado no Valor Econômico no dia 13 de janeiro pelo economista André Lara Rezende. O assunto mereceu, inclusive, repercussão em jornais e sites especializados. O autor levanta argumentos teóricos para questionar a política de juros no Brasil, que, em plena recessão, à beira de uma depressão, levou a aumentos reais da taxa básica pela manutenção da Selic no mesmo patamar, ao longo de quase todo o ano de 2016, agravando o quadro de endividamento.

As argumentações apresentadas pelo economista são interessantes por inverter a causalidade entre juros e inflação, mas peca pela simplificação, ao responsabilizar a política fiscal pelo (des)controle da inflação. Essa ideia não é nova e se soma a diversas outras que tentam culpar a política fiscal por todos os males da economia brasileira.

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André Lara Rezende deixou de lado questões centrais de economia política em sua análise sobre as taxas de juros e as características específicas da inflação brasileira, que nos últimos anos apresentou três componentes básicos: preços administrados, choques de alimentos, de commodities em geral e de câmbio e alguma inflação de serviços. Os efeitos de choques se propagam em alguma medida, o que é esperado. Diversos estudos demonstram que esses componentes não são afetados pelas variações na taxa de juros, cuja determinação é definida por outros fatores.

Esse debate, é preciso ressaltar, não pode deixar de levar em consideração uma das peculiaridades brasileiras, que é a forte indexação dos títulos públicos à taxa de juros básica, que deveria ser apenas o instrumento de controle da liquidez no sistema interbancário. A indexação formal vai além das Letras Financeiras do Tesouro (títulos indexados à taxa Selic), pois os demais títulos têm como referência a taxa Selic, exigindo remuneração no mínimo equivalente.

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Tal distorção, além de impor custo fiscal devido às elevações da taxa básica de juros, leva a uma mudança no comportamento de diversos grupos econômicos, como empresários e grandes investidores institucionais, que têm a lucratividade dos seus ativos atrelada à Selic, minimizando assim o foco na produção e nos investimentos.

Faltou dizer também que a variação da taxa básica de juros tem um componente distributivo evidente, como ficou claro com a tentativa de redução da taxa de juros Selic de 2011 a 2013, quando atingiu o menor patamar real que o Brasil já teve. O Governo Dilma agiu de forma correta ao reduzir a taxa Selic para que pudesse haver uma queda dos juros cobrados pelos bancos em suas operações de crédito. Mas a gritaria contra essa política foi enorme. Não foram somente os banqueiros que não a suportaram. Todos os segmentos que se beneficiam do rentismo e das volumosas transferências de recursos públicos pelo pagamento de juros dos títulos púbicos rejeitaram aquela mudança.

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Serão necessárias medidas legais para garantir que tenhamos um sistema semelhante ao de outros países: a taxa de juros básica da economia não pode indexar a remuneração dos títulos públicos. Só assim poderemos ter um debate honesto sobre as causas da inflação e saberemos quem quer, de fato, manter a inflação sob controle ou quer manter a rentabilidade dos seus ativos (títulos públicos). O controle da inflação não pode impor custos fiscais à sociedade e transferir renda aos rentistas. A política monetária tem que ser separada da política fiscal.

E aos que estão comemorando a queda da inflação, atentem-se: o paciente está sendo morto para curar a doença!

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