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Adilson Roberto Gonçalves

Pesquisador científico em Campinas-SP

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Sem vergonhas

Jair Bolsonaro dando carona a Tarcísio de Freitas (Foto: Anderson Riedel/Divulgação)

Não é piada sem graça, mas triste realidade. O que dizer das vergonhas de um juiz, de um militar e do governador fluminense de São Paulo que adentram o boteco da infâmia com suas atitudes?

Comecemos pelo marreco de Curitiba. Se já era vergonhosa e criminosa a atuação de Sergio Moro enquanto juiz e ministro interesseiro, foi ridícula sua participação na arguição de Cristiano Zanin. Como pode um senador se basear em fake news para fazer uma pergunta a quem integrará a mais alta Corte do País, no caso, se havia sido padrinho de casamento do presidente da República? Imagina-se a base de sustentação de suas propostas parlamentares. É bom esclarecer que o notório saber jurídico também é político, ainda que haja inescrupulosos que fazem mau uso de um recorte de estudos e que apenas querem defender uma tese, sem ler o conjunto total de resultados. Atitude leviana que não é privativa da área jurídica, atingindo todas as ciências. Por outro lado, falta uma melhor definição constitucional do que sejam o notório saber jurídico e a reputação ilibada.

Caminhando do juiz para o militar, beirando o governador fluminense em São Paulo, não podemos deixar de lado a suposta traição entre o par criador/criatura. No caso de Bolsonaro, é difícil determinar quem é o criador e quem é a criatura. Não teria havido um ex-deputado competitivo em 2018 se não houvesse um Moro em conluio com um Dallagnol para tirar o principal concorrente do páreo. Parece o caso do Frankenstein, que é o nome do médico, não do monstro criado. Assim, a ficção da realidade alternativa da extrema direita é um dos exemplos que justifica essa tese. Junto ao fanatismo religioso, constituem o que de pior há em nossa natureza, pois esse tipo de suposto alívio individual leva ao sofrimento coletivo. Quisera essa ficção fosse aprimorada apenas na literatura e no cinema.

A parte da tragicômica piada com o militar se dá agora. Se o orgulho do Exército Brasileiro for representado pela covardia de Mauro Cid estamos muito mal. A coragem de tais servidores, regiamente pagos com nossos impostos, parece só se manifestar quando são protagonistas de golpes e violência estatal. O depoente nem dizer qual sua idade revela que o grau de sua culpa é grande.

Por fim, a repressão foi vergonhosamente assumida por meio da estapafúrdia homenagem a um dos operadores da ditadura pelo governo paulista. O caminho certo para resolver a questão é a proposta de deputados do PT para revogar tal ato. Porém, não é difícil compreender a atitude do governador fluminense de São Paulo, fruto do bolsonarismo que é e a ele devendo sua eleição. Além disso, lembremos que a Lei da Anistia beneficiou muito mais os militares criminosos, que mantiveram suas benesses até hoje, ampliadas no governo Bolsonaro.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.