Ser de esquerda

Outro dia eu ouvi alguém dizendo que ouviu alguém dizer uma coisa que me interessou bastante, e vou reproduzir à minha moda. Se souberem a fonte, por favor, me informem. Gostaria muito de parabenizar o autor da ideia original e dar o devido crédito.

Como é difícil ser de esquerda.

A pessoa de esquerda tem de conhecer História, Sociologia, Economia, Direito e Comunicação. Ao escrever, não pode errar em concordâncias.

Também é bom estudar um pouco de Filosofia, que ajuda a compreender o posto acima e o que se segue. 

É preciso conhecer do pré-sal, dos problemas do meio-ambiente, das jurisprudências do Supremo, da malha rodoviária, do sistema financeiro, da política internacional, dos trâmites parlamentares e da Constituição.

Uma pessoa de esquerda tem de defender a liberdade religiosa, mesmo sendo ateu ou evangélico pentecostal. Precisa defender a causa LGBT, independente da sua opção sexual. Tem de lutar pelos indígenas e negros, mesmo sendo branco de olhos verdes. Tem de exigir uma melhor distribuição de renda, mesmo sem ter problema algum para pagar suas contas.

A pessoa de esquerda precisa ocupar uma terra ou um teto imaginário, mesmo tendo casa própria. Precisa bancar de colocar o filho na escola pública para construir a educação por dentro. Tem de ter a coragem de não pagar plano de saúde. Tem de sempre expressar sua opinião, mesmo correndo o risco de perder o emprego ou não conseguir trabalho.

Para ser de esquerda é preciso ter um estômago muito forte, porque a porrada é dura. Você será chamado de maconheiro ao defender a descriminalização das drogas, de assassino por defender o aborto, de babaca por querer uma política de desencarceramento e de filho da puta se gritar Lula Livre.  

Para ser de esquerda, a sujeita ou o sujeito tem de ser politicamente correto o tempo todo, mesmo que para isso tenha que escrever o feminino sujeita para contrapor ao masculino sujeito, e colocando sempre a dama em primeiro lugar.  Opa! Será que estou sendo machista? Talvez. Mesmo dividindo a conta do restaurante, eu sempre abro a porta do carro, dou a vez no elevador e cedo meu lugar no metrô ou no ônibus para uma mulher. Enfim, ser esquerdista traz dilemas constantes.

Porém, o maior desafio é saber da irreversível condição que é possuir uma alma de esquerda. Passam-se os anos, surgem novas ideias, os ideais buscam outros horizontes, as responsabilidades trocam de terreno, os valores se modificam e podem até vir a ser um pouco liberais. Mas uma pessoa de esquerda nunca se tornará uma pessoa de direita.

Seria tão mais fácil ser de direita. Bastaria conseguir dizer que bandido bom é bandido morto e dar um leve sorriso ao ver sete corpos sendo retirados das águas da Praia Vermelha.