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Weiller Diniz

Jornalista especializado em cobertura política, ganhador do prêmio Esso de informação Econômica (2004) com passagens pelas redações de Isto É, Jornal do Brasil, TV Manchete, SBT. Também foi diretor de Comunicação do Senado Federal e vice-presidente da Radiobrás, atual EBC.

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Setembro amarelo

"O lapso entre a luz amarela de setembro e a vermelha de outubro é curto. Acostumado a conspirar na escuridão, será derrotado à luz do dia", diz Weiller Diniz

Jair Bolsonaro (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
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Por Weiller Diniz, publicado originalmente em Os Divergentes

O setembro amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio. O capitão apostou tudo em setembro e pode ter sido um suicídio. Ele e seus bajuladores da escuridão insinuaram viradas eleitorais mentirosas, atacaram mulheres e torraram dinheiro público para confiscar uma data cívica e transformá-la em comício cínico. “Vamos às ruas pela última vez”, apelou Bolsonaro dias antes. Não funcionou. A soma de todos os fracassos acendeu um ofuscante sinal amarelo que piscou intermitente no dia 12 de setembro. Em um mesmo dia o capitão foi abatido pela fluorescência democrática que amarelou o bolsonarismo: o apoio de Marina Silva ao candidato petista, a entrevista luminosa de Lula a CNN, as pesquisas Ipec de DataFolha avivando o crescimento da candidatura petista (diferença entre 12 e 15%), o clareamento dos crimes de Bolsonaro na pandemia determinada à PF pela nova presidente do STF, Rosa Weber, além da posse da própria ministra no STF, iluminada por sinais vermelhos contra o golpismo: “Vivemos tempos particularmente difíceis da vida institucional do país. Tempos verdadeiramente perturbadores, de maniqueísmos indesejáveis. O Supremo Tribunal Federal não pode desconhecer esta realidade, até porque tem sido alvo de ataques injustos e reiterados, inclusive sob a pecha de um mal compreendido ativismo judicial por parte de quem, a mais das vezes, desconhece o texto constitucional e ignora as atribuições cometidas a esta Suprema Corte pela Constituição”. Bolsonaro faltou para não ouvir, mas acusou a fotofobia. Foi o primeiro presidente da história democrática a fechar os olhos para a solenidade no STF. Antes faltou às comemorações da Independência no Congresso Nacional. Retaliação pela ausência dos chefes dos outros Poderes no seu 7 de setembro golpista e outra expressão do desprezo pelas instituições. As cegueiras presidenciais (Jânio Quadros, Getúlio Vargas e Fernando Collor) sempre redundaram em suicídios políticos no Brasil, de fato ou alegóricos.

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A refração dos muitos erros pretéritos e o 7 de setembro ofuscaram o capitão que, apesar das delinquências fiscais e populistas, estagnou nas pesquisas eleitorais, empoçado na margem de erro apesar dos gastos bilionários. O embaçamento eleitoral vem desencadeando uma onda de descontrole em todos eles. Além da gestão míope, genocida e que desfocou o Brasil, episódios pontuais seguraram o capitão perto dos 32% das intenções de votos, sugerindo um teto mesmo após a pirotecnia populista. O turvo espetáculo do 7 de setembro expôs novamente o Brasil ao vexame planetário. Bolsonaro surrupiou a maior data cívica do país para fazer campanha política usando recursos públicos. É como qualquer presidente francês sequestrar o 14 de julho. Além da farra habitual com o dinheiro do contribuinte – cartão corporativo, férias nababescas e a corrupção no Ministério da Educação e na propina das vacinas -, Bolsonaro desceu ao degrau mais infame ao puxar o coro de “imbrochável” entre seus apoiadores obscuros no dia da independência. Era o derradeiro disparo na tentativa de superar Lula. A rodada do Ipec do dia 12/9 despiu Bolsonaro e o revelou um eunuco, impotente. O DataFolha confirmou a liderança estável de Lula no dia 15/9. A Justiça proibiu a campanha de usar as imagens do comício de setembro e a oposição pediu a inelegibilidade do capitão. Os resultados eleitorais foram negativos no setembro que também iluminou o mentor dos métodos obscurantistas, Steve Bannon, preso nos EUA por crimes de lavagem de dinheiro, conspiração e fraude. Bannon, no apagar das luzes de Trump, beliscou um perdão federal que não o isenta dos crimes estaduais. O mesmo farol antidemocrático de Bolsonaro para Daniel Silveira.

A nitidez do engajamento da ex-presidenciável Marina Silva à campanha de Lula é um sinal verde importante entre evangélicos, ambientalistas, mulheres, negros, pobres e outras minorias desprezadas por Bolsonaro. A adesão colabora ainda para reforçar o senso de civilidade, responsabilidade e a superação do ressentimento, matéria prima do Bolsonarismo. Horas depois do anúncio do apoio Marina, o Ipec (ex-Ibope) divulgou uma pesquisa devastadora para Bolsonaro a 20 dias do pleito. Lula havia crescido 2 pontos percentuais e aumentou a dianteira para 15%. Nos recortes da pesquisa Lula ampliou a liderança no Nordeste (27% dos votos nacionais) e abriu 10% no Sudeste (42% do eleitorado). Entre as menores faixas de renda, público-alvo do Bolsa Família, Lula superou Bolsonaro em todas as faixas até 5 salários-mínimos. A rejeição a Bolsonaro e a desaprovação da gestão (59%, subida de 2%) seguiram estratosféricas, descolorindo o espaço para a conquista de votos. O DataFolha cravou uma diferença de 12% com queda de Bolsonaro em 1% e aumento da rejeição em 2 pontos. Quase todas as pesquisas identificam um percentual histórico de definição de votos em torno de 80% dos eleitores. Em meio ao clarão eleitoral, Lula concedeu sua melhor entrevista de campanha à CNN. Falou durante 50 minutos com desenvoltura e densidade sobre economia, política interna e externa, institucionalidade, projetos, transparência e normalidade com segurança. Não se melindrou com temas sensíveis como a corrupção. O capitão recusou o mesmo espaço.  Preferiu buscar os holofotes dos funerais da Rainha Elizabeth em Londres. O coveiro que escarneceu das mortes dos brasileiros na pandemia – mais 685 mil mortes – vai chorar a morte da rainha inglesa. Repetirá a vergonha de Davos, G-20 e ONU nos funerais da realeza colonizadora e expropriatória.

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Já às vésperas da claridade do horário eleitoral na TV e no rádio explodiu nas redes sociais o prenúncio do pânico bolsonarista. Um vídeo mostrando Jair Bolsonaro, possesso, tentando agarrar pela camisa o youtuber Wilker Leão e avançando para tomar o celular que o rapaz usava para gravar o encontro. O entrevero inundou as plataformas digitais, chegou aos temas mais comentados e consagrou o termo que Leão cunhou: “tchutchuca do centrão”. Depois da altercação com o youtuber, o capitão foi a São José dos Campos. Em uma entrevista, perdeu as estribeiras mais uma vez e agrediu repórteres e membros da sua campanha com novos chiliques: “Ninguém bota a mão em mim”, berrou com sua assessoria durante uma entrevista. Os jornalistas queriam saber sobre o grupo de empresários que defenderam o golpe de Estado se Lula ganhasse a eleição. Bolsonaro não respondeu e agrediu, de novo, os jornalistas. Na penumbra das mensagens secretas, empresários atacaram o TSE, o Congresso Nacional, o STF, a imprensa e defenderam uma quartelada. O ministro Alexandre de Moraes mandou investigar 8 deles, com quebras de sigilos e buscas e apreensões: Afrânio Barreira Filho, do restaurante Coco Bambu; Ivan Wrobel, da W3 Engenharia; José Isaac Peres, do grupo Multiplan; José Koury, dono do Shopping Barra World; Luciano Hang, da Rede Havan; Luiz André Tissot, da Indústria Sierra; Marco Aurélio Raymundo, da Rede Mormaii; e Meyer Joseph Nigri, da Tecnisa. Foi mais uma das tantas chicotadas de Moraes para domar as bestas golpistas que vergam exaustas.

Ainda em agosto, diante de um Bolsonaro catatônico, o novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes avisou, ao assumir o cargo, que sua gestão não iria interferir na liberdade de expressão de candidatos e apoiadores ao mesmo tempo que não toleraria agressões, a disseminação de mentiras ou de mensagens que atentassem contra a democracia e o estado democrático de direito. “Liberdade de expressão não é liberdade de agressão”, avisou, em mensagem direta à campanha bolsonarista. E prosseguiu: “Liberdade de expressão não pode ser usada para destruição de dignidade e honra alheias. Liberdade de expressão não é liberdade de propagação de discursos de ódio e preconceituosos. A liberdade de expressão não permite discursos de ódios e ideias contrárias à ordem constitucional e ao estado de direito, inclusive durante o período de propaganda eleitoral”. O discurso de Moraes, assim como o de Rosa Weber, esteve repleto de recados a Bolsonaro, que assistiu à posse isolado, em frente a seu principal rival nas eleições, o ex-presidente Lula. Bolsonaro tem feito críticas desonestas sobre o sistema eletrônico de votação, com acusações sem provas de que houve fraudes em eleições passadas e de que as urnas são vulneráveis. O TSE mandou excluir os vídeos dele na reunião golpista com os embaixadores falando da vulnerabilidade das urnas.

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Na luminosidade abrasiva da campanha, Bolsonaro se mostrou tão desbotado quanto na presidência. Na sabatina do “Jornal Nacional” só mentiu. Negou que tenha xingado ministros do STF, apesar de ter insultado publicamente o ministro Alexandre de Moraes chamando-o de canalha durante as manifestações golpistas realizadas no feriado de 7 de setembro em 2021. Ofendeu ainda vários outros ministros: Barroso (“imbecil”, “aquele filho da puta”), Moraes (“canalha”, “otário”) e Fachin. Mentiu sobre pandemia e a compra das vacinas. O atraso foi de 7 meses e a primeira dose só foi aplicada em 7 de janeiro de 2021, quando outros 50 países já tinham iniciado a imunização. O governo desprezou todas as mensagens da Pfizer por 7 meses e Bolsonaro cancelou a compra da Coronavac. Ele também boicotou o imperioso isolamento social, debochou da falta de ar de pacientes e deixou faltar oxigênio hospitalar em Manaus. Uma mentira a cada 3 minutos. Mentiu sobre desmatamento, sobre a criação do Pix e mentiu descaradamente negando corrupção em sua gestão. A traficância no Ministério da Educação se deu até com barras de ouro. Milton Ribeiro foi acusado de favorecer aliados de pastores evangélicos utilizando recursos do MEC, um deles a pedido do próprio Jair Bolsonaro. O ex-ministro foi preso preventivamente em meio às investigações e solto no dia seguinte após um habeas corpus. Na entrevista, Bolsonaro negou que se tratasse de um escândalo de corrupção.

No debate entre os presidenciáveis em um pool de veículos coordenados pela TV Bandeirantes, Bolsonaro abusou de inverdades e atacou as mulheres, afastando votos estratégicos para ensaiar qualquer reabilitação. Visivelmente alterado após uma pergunta acerca da queda da cobertura vacinal, efeito colateral do negacionismo, o capitão atacou a entrevistadora Vera Magalhães, da TV Cultura. “Vera, não podia esperar outra coisa de você. Eu acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido em um debate como esse. Fazer acusações mentirosas ao meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. Repetiu esse mesmo machismo cafajeste com a jornalista Amanda Klein em outra entrevista e puxou o coro da vergonha e vulgaridade no comício de 7 de setembro, onde repetiu várias vezes a palavra “imbrochável”. Para quem tem grande desvantagem numérica nas pesquisas, Bolsonaro, sempre traído pela índole cavernícola, segue empacado. Está empoçado há meses e segue falando apenas para seu nicho. Em que pese números divergentes dos diversos institutos de pesquisa, a diferença entre Lula e Bolsonaro na média numérica das sondagens vem se mantendo estável há mais de 1 ano.

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A iminência da derrota afeta os nervos de todos do clã, já percebendo que mentiras, rompantes golpistas não produzem votos. Eduardo Bolsonaro protagonizou uma discussão deplorável com Marcos Palermo sobre as promessas de uma ambulância ao município de São Carlos, cidade em que Palermo foi secretário de Saúde em 2021. Ao ser cobrado pelo recurso, Eduardo xingou Palermo e inundou as redes sociais. Marcos Palermo fala com o parlamentar. “Eu vou embora, porque eu tenho que ir trabalhar. Mas ó, muito obrigado pelos 10 mil votos”, diz Palermo em referência ao número de eleitores que votaram no candidato no município. Ele é interrompido por Eduardo. “Vai tomar no seu c*, filho da p*”, esbraveja o filho do presidente. O mesmo deputado, apelidado por Mourão de “bananinha”, convocou “voluntários armados” para a campanha do pai. Os perfis buscados por eles são da laia dos assassinos bolsonaristas: o policial Jorge Guaranho que matou o petista Marcelo Arruda no Paraná e Rafael Silva de Oliveira que matou Benedito Cardoso dos Santos, eleitor de Lula, com uma machadada. Ou mesmo o deputado estadual Delegado Cavalcante (CE): “Se a gente não ganhar nas urnas, se eles roubarem nas urnas, nós vamos ganhar na bala”, disse aos berros. O lapso entre a ofuscante luz amarela de setembro e a vermelha de outubro é curto. Atordoado pela luminosidade democrática, o golpista de fancaria disse que, derrotado, passará a faixa e se recolherá. Trata-se de um mentiroso compulsivo, venal e inconfiável, que sempre conspira na escuridão, mas será derrotado à luz do dia pela democracia.

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