Silêncio nas panelas

Mas e então, paneleiros, estão gostando?

Naturalmente que sim, já que eu não vejo o menor indício de novas passeatas contra a corrupção, certo? Os "milhões de Cunhas" e os que se fantasiaram com camisetas ostentando ter votado no Aécio, certamente estão mergulhados agora no país dos sonhos.

A propósito, quem é mesmo que não tinha bandido de estimação? Quem é que vociferava a favor das supostas acusações contra o Lula, mas que agora silencia perante tantas provas cabais de crimes cometidos pela máfia que assaltou o poder?

Olha que nível maravilhoso de ética, de transparência, de honestidade e de competência a que chegamos! Agora sim o país está bem ao gosto da ignorância e da bestial alienação que emblematizaram suas ações.

Não fosse a hipocrisia e certamente não teriam hoje coragem de encarar familiares e pessoas do convívio diário. Pessoas essas que testemunharam, há pouco mais de um ano, o bater de panelas, o esbravejar nas varandas, a reprodução rasa de rótulos caluniosos e a cega obediência à convocação midiática. Contudo ela, a hipocrisia, permite que continuem a transitar como se nada estivesse acontecido.

Poupe-me, Deus, de tal ridículo! Amém!

Imaginem se fosse o Lula que construísse, sorrateiramente, com dinheiro público, um aeroporto particular fora da rota comercial, mas em conformidade com os interesses do narcotráfico internacional! Imagina se o Lula fosse desmascarado em gravações estarrecedoras que viessem a culminar em malas de dinheiro, desnudando ações criminosas de verdadeira quadrilha! Imaginem se fosse o Lula que utilizasse milhões de dinheiro público para comprar a mídia, os empresários, o judiciário e mais jantares e jantares com políticos da mesma laia.

Taí o país que lhes agrada, hipócritas! Cadê o tilintar estridente das panelas? Quando será que a Rede Globo convocará uma nova marcha para uma legião de alienados que tanto se orgulha disso?

Antes de qualquer ideologia, as ações políticas precisam ser imbuídas de honestidade. Daí há de se respeitar se o indivíduo é simpatizante da direita, da esquerda, da monarquia, da anarquia ou o que quer que seja. O patético é ver um número enorme de paspalhos programáveis se comportando conforme a determinação de facínoras que jamais lhes convidarão para os jantares que promovem.

Até porque - vamos e venhamos - dignidade e amor próprio são o mínimo que se pode esperar de um ser humano ao invés de permitir-se, deliberadamente, a um eterno dobrar de joelhos por subserviência.

Com algum esforço de honestidade perceber-se-ia (olhaí a mesóclise que encanta os tolos), perceber-se-ia, repito, a perseguição desonesta e desumana que o poder estabelecido aplica contra aquele que deu holofotes a um país que até então chafurdava no Terceiro Mundo.

Perceber-se-ia com absurda facilidade que um fantoche fabricado lá em Curitiba não vê crimes nos seus comparsas de partido e de sociedade secreta, mas que enxerga em dois barquinhos de lata evidências de um mirabolante esquema de apropriação de fortuna.

O tal fantoche foi alçado ao show business para cumprir uma missão que ainda não conseguiu. Ao contrário disso, vem se esvaindo em inúmeras ações pífias e atabalhoadas, frustrando seus fieis macaquinhos de auditório.

Por isso mesmo seus quinze minutos de fama já foram longe demais, o que implicará que cumpra, a toque de caixa, a exigência dos seus patrocinadores.

Fechado o roteiro do circo, os pseudoaristocratas e seus lacaios haverão de comemorar. A má notícia, no entanto, será perceber que a boa semente já deu frutos. Com isso, quem vivia à margem ou sob a chantagem e exploração de uma sociedade covarde e excludente, já despertou para os direitos que a gestão PT lhes assegurou.

E isso é uma tortura para quem vive em um mundinho fechado do aqui e agora e a obedecer comandos, sem a árdua tarefa de conceber a complexidade de uma sociedade miscigenada.

Enfim, paneleiros, aguardei por algum razoável tempo uma atitude de indignação, de censura ou de revolta contra algum dos herdeiros da máfia que sempre usurparam esse país. Nada! Nem um gesto de reprovação!

Naturalmente não me iludo que se debruçarão sobre esta leitura. Afinal de contas não tem figuras, somente letras. Ainda assim gostaria de solicitar-lhes que em dias de eleição esquecessem essa bobagem de ir às urnas e fossem aos shoppings. Terá sempre algumas promoções bem legais por lá!