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Washington Araújo

Mestre em Cinema, psicanalista, jornalista e conferencista, é autor de 19 livros publicados em diversos países. Professor de Comunicação, Sociologia, Geopolítica e Ética, tem mais de duas décadas de experiência na Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal. Especialista em IA, redes sociais e cultura global, atua na reflexão crítica sobre políticas públicas e direitos humanos. Produz o Podcast 1844 no Spotify e edita o site palavrafilmada.com.

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Silvério dos Reis continua assombrando a sociedade brasileira

Silvério dos Reis e traidores modernos vendem a pátria por impunidade, enquanto Tiradentes inspira um patriotismo ético

Congresso Nacional (Foto: Antônio Cruz/Ag. Brasil )

Imagine um parlamentar brasileiro, em uma sala discreta de Washington, dialogando com um alto oficial americano: “Imponham sanções econômicas ao meu país, revoguem vistos de nossos juízes, apliquem tarifas de 50% nas exportações. Em troca, garantam impunidade para mim e minha família perante o STF.” Sem pestanejar, ignora os danos a 216 milhões de brasileiros, como perdas bilionárias na agricultura e mineração.

Esse ato, que fere a soberania nacional, encontra eco no Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei nº 2.848/1940), que define, na Parte Especial, Título I, Capítulo I (Dos Crimes Contra a Segurança Nacional), condutas como traição à pátria. O Artigo 355, por exemplo, criminaliza “levantar-se em armas ou praticar atos de hostilidade contra o Brasil, com o objetivo de submetê-lo ao domínio ou soberania de outro país”.

Dante Alighieri, na Divina Comédia, reservou o círculo mais profundo do Inferno aos traidores, simbolizando o abismo moral de quem vende a própria terra por ganho pessoal. Maquiavel, em O Príncipe, via a astúcia e a traição como ferramentas para conquistar o poder, mas advertia sobre suas consequências devastadoras para a estabilidade estatal. Essa negociação fictícia, inspirada em fatos reais, expõe a traição à pátria como uma falha de caráter profunda, que negocia soberania por salvação pessoal, configurando-se como um delito grave previsto na Constituição Federal do Brasil e no Código Penal Brasileiro.

Grandes pensadores condenaram esse delito como uma ferida que corrói o tecido social. Cícero alertava que uma nação resiste a tolos e inimigos externos, mas sucumbe à perfídia interna, que dissolve a confiança e os laços de lealdade. A traição não é apenas um ato; é a negação da ética coletiva, um veneno que fragiliza a nação, especialmente quando atenta contra a segurança nacional.

Joaquim Silvério dos Reis encarna essa infâmia histórica. Mergulhemos um pouco mais na história: no século XVIII, durante a Inconfidência Mineira, o coronel endividado delatou conspiradores como Tiradentes à Coroa portuguesa, frustrando sonhos de independência por favores fiscais. Sua escolha, movida por egoísmo, não foi erro, mas crime de lesa-pátria, sacrificando a soberania nascente sem medir o impacto no povo — uma conduta que, hoje, poderia ser enquadrada no tipo penal já mencionado.

Nessas últimas semanas, traidores modernos, sob o véu de ideologias extremistas, articulam abertamente com potências estrangeiras, vangloriando-se em lives nas redes sociais. Eles barganham instituições judiciárias e econômicas, expondo o país a sanções devastadoras por impunidade pessoal, em ações que podem ser interpretadas como crimes contra a segurança nacional, Silvério exemplifica o oportunista calculista: sua delação em 1789 selou o enforcamento de Tiradentes, ignorando o bem comum. Relatórios da Transparência Internacional apontam que medo e vaidade movem traidores, priorizando autopreservação e fragilizando nações.

No mundo globalizado, ideologias radicais mascaram essas ações. Traidores aliam-se a rivais estrangeiros, fomentando divisões e sabotando a confiança no estado democrático, em práticas que desafiam a soberania do país

Mas o que separa o patriotismo que eleva daquele outro que corrompe? O patriotismo sectário, inflamado por ódio e superioridade, transforma amor à pátria em arma contra o “outro”, erguendo barreiras e alimentando conflitos. Já o patriotismo saudável é inclusivo, voluntário, nutrido por valores éticos que promovem justiça social e respeito mútuo, rejeitando xenofobia e ufanismo cego.

Freud diria que o traidor sucumbe ao ego, sacrificando o superego ético. Falhas educacionais, como aponta a UNESCO, nutrem esse individualismo radical, amplificado pelas Big Tech, que burlam legislações em nome da lei da selva. Viktor Yanukovych, ex-presidente ucraniano, fugiu para a Rússia em 2014, alegando pró-eslavismo. Negociou com Moscou para escapar de acusações de corrupção, pavimentando intervenções militares e expondo seu povo a conflitos infindáveis.

No Brasil atual, um parlamentar de oposição, movido por extremismo de direita, articula sanções americanas contra o judiciário, pressionando por revogação de vistos de juízes do STF e tarifas de 50% em exportações, sob o pretexto de combater “autoritarismo”. Busca proteção contra processos por desinformação, beneficiando familiares, enquanto fomenta instabilidade que ameaça bilhões em perdas econômicas. Ele alega patriotismo, mas age com delinquência, vendendo soberania por salvação pessoal, como Silvério, ignorando danos coletivos irreparáveis

Traição é a antítese da paixão que edifica nações. Heróis como Tiradentes inspiram integridade contra delações. Jornalistas e ativistas desmascaram traidores, preservando narrativas autênticas. Se o planeta fosse uma única pátria, o patriotismo saudável seria a corrente que une a humanidade, promovendo sustentabilidade, direitos universais e paz coletiva. Longe de supremacias, esse patriotismo, que chamo de são, inspiraria responsabilidade global, conectando povos num compromisso ético com um futuro harmonioso e sustentável.

Voltemos rapidamente a este momento da história: o Brasil rejeita novos Silvérios. Precisa de Tiradentes para unir pela soberania. Rejeitemos barganhas que vendem o futuro nacional por impunidade. Esse é, a meu ver, a maneira racional de pararmos de cavar o abismo que pode se alargar diante dos nossos pés.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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