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Carlos Odas

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Sim, o Diabo é sempre mais feio do que pintam; ou não precisaria de disfarces

O golpe foi a forma mais eficaz encontrada por Mefistófeles para capturar a alma do Brasil; nesse sentido, seria difícil encontrar figura mais adequada que o nosso projeto de Fausto que, tendo sido sim eleito, mas na carona dos votos dados a um projeto absolutamente distinto do que ele implementa agora, trocou a própria alma pelo refrigério dos palácios e pela companhia da legião de demônios que lhe têm feito companhia

o Vice Presidente da Republica,Michel Temer recebe o vice primeiro Ministro da China,Wang Yang. (Foto: Carlos Odas)
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O dito é popular há séculos: “o diabo não é tão feio quanto pintam”. Não vale para Michel Temer, no entanto. Sim, ele é “o Diabo” e, por suas atitudes, é muito mais feio do que se podia imaginar. Como figura pública, Temer é um homem medíocre, sem registro de nenhuma contribuição relevante à sociedade e ao país. Todos os cargos importantes que ocupou foram alcançados por meio do conchavo, sem nenhum mérito pessoal que o destacasse além do senso de oportunidade, e da sociedade com Eduardo Cunha e alguns poucos caciques no controle de uma federação de interesses paroquiais disfarçada em partido político que é o PMDB.

Temer é do tipo que cultiva convicções que são negociadas por conveniências – as suas. Jamais se ouviu de sua fala sempre ponderada, por exemplo, qualquer censura às atividades conhecidas do homem que viabilizou o golpe que catapultou-lhe, ilegitimamente, à Presidência da República. Falo, evidentemente, das contas não declaradas na Suíça, do epíteto de “achacador geral da República”, dos expedientes que tornaram o Congresso brasileiro uma piada e a Câmara dos Deputados numa espécie de lupanar. Temer jamais esboçou o mínimo desconforto com a desmoralização que Eduardo Cunha representa à democracia brasileira.

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De modo que, se o Paraíso puder ser definido como uma sociedade plural, fundada no respeito aos direitos humanos e à liberdade, com distribuição igualitária de oportunidades e de acesso aos recursos disponíveis e avessa à concentração de renda e bens comuns, ele seria o Diabo, porque o que tem a oferecer à população é o inferno – ou o contrário da sociedade em que qualquer pessoa munida de noções de solidariedade e justiça desejaria viver. Iludem-se, porém, os que pensam que o inferno que Temer pretende instaurar irá abarcar somente os pobres; sabedor de que lhe falta poder para enviar diretamente ao Céu – à sua concepção de Céu – os de sua casta, contenta-se em oferecer oásis refrigerados cercados da lava escaldante reservada aos miseráveis, que pagarão pela festa. Mas todos queimam, enfim, sobre o mesmo mármore da exclusão da maioria em benefício de uma minoria e do moralismo de fachada ante a impunidade dos (verdadeiros) ladrões do Erário. O golpe condena a todos, indistintamente, ao mesmo atraso social e, por consequência, econômico.

De um governo golpista – tanto quanto do Diabo – não se pode ou se deve esperar qualquer respeito ao decoro próprio das instituições republicanas; mesmo assim, surpreende que poucos dias tenham bastado para que um estafe que usurpa delegações de um governo legitimamente eleito acenasse com penitências tão severas, e que atingem indistintamente os que apoiaram o golpe e os que se opuseram a ele: a extinção da Controladoria Geral da União; a extinção do Ministério da Cultura; o desmantelamento das políticas setoriais e de Direitos Humanos; a nomeação de um ministério composto exclusivamente por homens velhos, ricos, brancos e investigados, sete deles denunciados na Operação Lava Jato; a nomeação de um Ministro da Justiça que considera que “nenhum direito é absoluto” – e que já demonstrou, quando Secretário de Segurança Pública em SP, que tal doutrina relativiza, inclusive, o direito à vida; a nomeação do advogado de Eduardo Cunha para a Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil; a nomeação de um preposto de Eduardo Cunha para a Presidência da EBC, passando por cima de um mandato regulamentado em lei; na Saúde, um ministro patrocinado pelas operadoras de planos e que diz que é preciso rever a universalidade do direito à saúde, assim como reduzir o alcance do SUS; na Educação um ministro que defende que as universidades públicas passem a cobrar mensalidades; no Ministério das Cidades, um cidadão relacionado na lista de Caixa 2 da Odebrecht e que, numa canetada, cancelou a construção de 12 mil unidades do programa Minha Casa Minha Vida; na Segurança Institucional, e no controle da ABIN, um general que cultua o período ditatorial e considera a Comissão da Verdade uma “farsa patética”; no Itamaraty, uma nulidade  como José Serra. Ufa! É ou não é o inferno da jovem democracia brasileira? E isso é apenas um resumo. Muito mais maldades e infâmias couberam nas poucas horas que separaram a epifania golpista dos paneleiros e a decepção generalizada.

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Erros? Açodamento? Pior: visão de mundo. A comprovação vem na singela resposta, dada pelo próprio Temer, em uma entrevista amiga a um programa de TV amigo, desses que se confundem com jornalismo: caso o golpe se consolide e ele venha a ser efetivado nas funções de Presidente da República, “sua mulher” – que é como machistas, em geral, costumam referir-se às suas esposas ou companheiras – será convocada a “desenvolver toda a área social” do Governo. Uma ameaça que faz corar, de raiva ou de vergonha, qualquer cidadão que tenha o mínimo de decência e conhecimento da história das políticas sociais no Brasil. Temer as confunde com a suposta caridade de sua esposa “bela, recatada e do lar” porque tanto se lhe dá o que elas sejam; não as considera dignas de serem pensadas como política de estado porque, em sua visão de mundo, destinam-se àquela maioria que deve atender aos interesses da casta a que ele próprio pertence. Para essa maioria, caridade basta. Falsa, é claro, como todos os disfarces que o Diabo usa.

O golpe foi a forma mais eficaz encontrada por Mefistófeles para capturar a alma do Brasil; nesse sentido, seria difícil encontrar figura mais adequada que o nosso projeto de Fausto que, tendo sido sim eleito, mas na carona dos votos dados a um projeto absolutamente distinto do que ele implementa agora, trocou a própria alma pelo refrigério dos palácios e pela companhia da legião de demônios que lhe têm feito companhia.

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Mas maiores são os poderes do povo, sempre; o golpe passará, assim como Michel Temer, à triste memória de um Brasil que insiste em atrasar-se a si mesmo. De plena consciência, ninguém quer viver no inferno idealizado por ele – e essa consciência começa a atingir parte dos que bateram panela pedindo o fim das políticas de inclusão. No momento em que se percebe que o desmonte geral acarretará consequências nefastas para todos é que o Diabo parece revelar a profunda escuridão de sua alma. Então, centenas de editoriais enaltecendo suas boas intenções não serão suficientes para disfarçar-lhe as feições e o cheiro. Por mais feio que ele seja, não é eterno; e menos ainda suas obras. Eternas são a esperança e a fé de que podemos construir uma sociedade justa. E essa verdade sempre retoma o lugar do qual a mentira a deslocou.

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