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Marcia Carmo

Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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Sindicalistas anunciam protestos contra ‘motosserra’ de Milei

"Confederação Geral dos Trabalhadores e grupos de piqueteros anunciaram um ‘plano de luta’", informa a correspondente Marcia Carmo

(Foto: Reuters)

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A poucos dias da posse do futuro presidente da Argentina, Javier Milei, quase todos os nomes dos ministros já foram confirmados. Falta, porém, o nome do presidente do Banco Central da República Argentina (BCRA), que ele tinha prometido ‘dinamitar’, quando era então candidato à Casa Rosada.

Entre sua eleição, no dia 19 de novembro, e sua posse, no próximo domingo, dia 10 de dezembro, o libertário Javier Milei já adaptou seu discurso de campanha em várias frentes e engavetou algumas das suas bandeiras, como a dolarização da economia. O economista Emilio Ocampo, criador do plano de dolarização, foi o primeiro a ser defenestrado por Milei logo após a eleição. Ocampo estava cotado para ser o presidente do Banco Central, que até esta segunda-feira, continuava sem presidente no futuro governo.

Milei, porém, não retrocedeu, até aqui, em usar sua ‘motosserra’ (símbolo de seus atos de campanha) na redução de 22 para oito ou nove ministérios (o número exato ainda não foi confirmado). Entre os ministérios que deverão ser eliminados está o das Mulheres, Gêneros e Diversidade, que hoje tem o objetivo de combater os feminicídios e buscar a inclusão da comunidade LGTBI+, e é liderado pela ministra Ayelén Mazzina, professora de ciência política que se define como feminista e homossexual.

A sede do Ministério foi alvo de ameaças de bomba nos primeiros dias depois do segundo turno da votação. Há preocupação, no governo atual, de Alberto Fernández, com o destino das políticas públicas desta pasta a partir da chegada de Milei à Presidência argentina. O ministério surgiu a partir das reclamações multitudinárias das ruas no movimento conhecido como ‘Nem Uma a Menos – Ni Una Menos’, contra os feminicídios. A avalanche de manifestantes contra a barbárie, que nasceu na Argentina, acabou sendo replicada em outros países, como Chile e Bolívia, por exemplo. Mas com a ultradireita no poder a pergunta é: o que acontecerá nesta área?

No âmbito econômico, além da redução de ministérios, Milei disse que vai privatizar tudo o que for possível. Contrários às medidas do presidente eleito, a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) e grupos de manifestantes (que se definem como piqueteros) anunciaram um ‘plano de luta’, com protestos nos dias 19 e 20 de dezembro. Estas datas coincidem com os protestos que levaram à queda do ex-presidente Fernando de la Rúa, em 2001. “Seremos os primeiros a sair às ruas contra as medidas de ajuste, contra as tentativas (do governo Milei) de tirar os direitos adquiridos dos trabalhadores argentinos”, disse Pablo Moyano, da CGT que é ligada ao peronismo. Moyano disse que o macrismo (que governou a Argentina entre 2015-2019) e o menemismo (1989-1999) estão voltando com a chegada de Milei à Casa Rosada.

Eleito com 56% da votação, Milei tem dito que receberá uma herança complicada por parte do governo Fernández e tem se rodeado de políticos das gestões dos ex-presidentes Macri e Menem. A expectativa é que Milei amplie suas afirmações no discurso de posse, deste domingo, preparando o terreno para os cortes que pretende realizar com apoio do Congresso Nacional. No entanto, das 257 cadeiras na Câmara, seu partido, A Liberdade Avança (LLA), possui 38 deputados. No Senado, a LLA conta com apenas sete cadeiras de um total de 72 senadores. O plano de Milei é enviar ao parlamento um pacote de projetos de lei que de tão amplo está sendo chamado aqui de ‘ônibus’. Milei tem repetido o refrão: ‘No hay plata’ (Não há dinheiro) para tentar convencer governadores e parlamentares sobre o que entende ser “a necessidade de cortar gastos e reduzir ao máximo o tamanho do Estado”. Na campanha, o ‘libertário’ insistia em dizer que “o Estado só atrapalha”.

O governo Milei vai ganhando um perfil macrista, por mais que o ex-presidente Mauricio Macri negue ter influenciado nos nomes dos ministros. Além da ex-candidata presidencial Patricia Bullrich, que será a ministra de Segurança, e do economista Luis Caputo, que assumirá a pasta da Economia, Milei confirmou, nesta segunda-feira, que o ministro da Defesa será Luis Petri.

Petri foi o vice na chapa de Bullrich na corrida presidencial. Nestes casos (Segurança e Defesa), a motosserra de Milei atingiu sua vice-presidente, Victoria Villarruel. Na campanha, Milei tinha dito que caberia a ela designar os ministros destas pastas. O esperado poder de Villarruel no Executivo evaporou. Como vice-presidente, ela presidirá as sessões do Senado. Villarruel entrou na esfera da desconfiança de Milei e de sua irmã, Karina (‘o’ chefe, como ele diz) depois que os dois souberam que ela vinha tendo reuniões paralelas com possíveis candidatos aos ministérios. Integrante da ‘família militar’, como ela se orgulha de dizer, Villarruel soube da nomeação de Petri através da imprensa.

Milei, que tinha acusado Bullrich de ter colocado bombas em jardins de infância na ditadura militar, tem se mostrado cada vez mais próximo dela, que já ocupou a pasta da Segurança no governo Macri. Por sua vez, Caputo foi presidente do Banco Central durante o macrismo (2015-2019). Aliados do presidente eleito de ultradireita dizem que com suas decisões Milei busca conseguir ‘governabilidade’. E também por isso apoia o nome do sobrinho do ex-presidente Carlos Menem, Martín Menem, da LLA, para ser presidente da Câmara dos Deputados. Menem, o sobrinho, tem mais experiência como empresário do que como político. Seu ramo é o de vitaminas específicas para jogadores de futebol. O tempo dirá se ele conseguirá vitaminar o apoio aos projetos da motosserra de Milei na casa. No domingo, dia 10, no Congresso, Fernández deverá passar a faixa presidencial para o libertário. Entre os convidados estarão o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado Eduardo.

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