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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Só levem boas notícias a Lula

“Digam ao presidente que a universidade salva por ele vai atrás da verdade sobre as violências da ditadura”, escreve o colunista Moisés Mendes

Lula (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Ofereço minha contribuição para que o presidente Lula receba boas notícias durante sua recuperação. Que as ruins sejam levadas aos golpistas que trocam acusações, aos chantagistas do Congresso e às máfias das emendas finalmente alcançadas pela Polícia Federal.

Essa é a notícia boa, que envio de Porto Alegre. A UFRGS instalou nessa terça-feira, em solenidade no salão de atos lotado, a Comissão da Memória e da Verdade Enrique Serra Padrós.

A universidade já havia, desde a posse da nova reitoria, em setembro, derrubado cercas de ferro que entrincheiravam a área administrativa, separando-a do campus, durante o período da gestão bolsonarista. A direção temia invasões.

Agora, nove servidores, sob a coordenação da professora de Direito Roberta Camineiro Baggio, vão se encarregar de procurar, reunir e relatar registros das violências cometidas pela ditadura contra professores e colegas servidores e estudantes.

Em dois anos, a reitora Marcia Barbosa e o vice-reitor Pedro Costa receberão e poderão divulgar o relatório das atrocidades, que envolveram expurgos, deduragens, prisões, torturas e todo tipo de perseguição.

Lula sabe, mas os detalhes poderão ser contados pelo ministro gaúcho Paulo Pimenta, que a UFRGS foi brava na resistência à ditadura. Poderá citar, entre os 37 professores expulsos pelos ditadores, os nomes de figuras notáveis que sobreviveram à opressão e levaram adiante suas lutas.

Exemplos de nomes dos que ainda resistem, Claudio Accurso, Ernildo Stein, João Claudio Brum Torres, Maria da Glória Bordini. E dos que já se foram, Ernani Fiori, Enilda Ribeiro, Leônidas Xausa, Joaquim Felizardo.

Resgatar a memória é homenagear também os que, de fora da universidade, acolheram os perseguidos. Os que estiveram na UFRGS ao lado do homenageado, Enrique Serra Padrós, já falecido, professor e pesquisador que examinou as tiranias latino-americanas.

Lula sabe o tamanho desse gesto numa universidade que até anos atrás tinha os ditadores Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici entre os homenageados com o título de doutor honoris causa.

Que por quatro anos foi dominada por lideranças apontadas como opressoras e negacionistas, escolhidas por Bolsonaro, mesmo que representassem a nominata última colocada numa lista tríplice.

Digam a Lula que o salão de atos da UFRGS estava lotado e que o público acompanhou o coro dos que começaram a gritar ‘sem anistia’ e 'tortura nunca mais'.

E digam ao presidente, para que ele fique mais animado, que os servidores da UFRGS sabem que só poderão se dedicar a esse trabalho sobre violações porque ele, Lula, saiu do cárcere político para ser eleito de novo e salvar as universidades brasileiras da barbárie.

Sem Lula, não haveria comissão alguma e talvez já não houvesse, com as feições agora recuperadas, a própria universidade, que havia sido condenada pela extrema direita à degradação e à destruição.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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