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Jean Goldenbaum

Músico, professor da Universidade de Música de Hanôver, Alemanha. É membro fundador do ‘Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil’ e fundador do coletivo ‘Judias e judeus com Lula’

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Só o que pode salvar o Brasil do Neonazifascismo: sanções internacionais e Lula elegível

Cabe a nós nos prepararmos tanto para Lula quanto para Haddad, de modo que haja uma evolução eleitoral entre 2018 e 2022

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Por Jean Goldenbaum

Quando Trump venceu em 2016, os Republicanos possuíam simplesmente completo domínio sobre o país, ao controlarem as três casas do governo: a presidencial, o Senado e a dos Deputados. Mas nas eleições de meio de mandato, em 2018, os Democratas começaram a virar o jogo e a pavimentar o caminho para a derrubada de Trump, que se consolidaria dois anos depois. O partido recuperou a Câmara dos Deputados e limitou em larga escala o poder do mais nocivo presidente estadunidense da história. No Brasil o que vemos é infelizmente o oposto. Nas eleições de meio de mandato ocorridas há poucos dias, o mais destrutivo líder da história do Brasil ampliou o seu poder de modo que se encontre agora praticamente irrefreável, ao ter seus candidatos eleitos tanto no Senado quanto na Câmara.

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Assim, a pergunta que se faz é: para onde ir a partir desta realidade? A oposição falhou novamente, não conseguiu reagir, e agora nos encontramos praticamente maniatados diante da monstruosidade política, social e ideológica que se apoderou do país. Como então livrar a nação do Neonazifascismo? Bem, em minha humilde opinião, com a questão do impeachment agora completamente fora da jogada, os dois elementos que externo no título deste artigo constituem o único caminho possível para que atinjamos nossa meta em 2022.

Comecemos com a questão de Lula. É possível que o ex-presidente recupere seus direitos políticos até o ano que vem? Sim. É provável? Não. Eu sinceramente – e infelizmente – não apostaria um real nisto. Ao meu modo de ver, entre os crimes que cometeram contra Lula e contra a Democracia brasileira desde 2016, talvez o pior deles tenha sido o assassinato da carreira política do ex-metalúrgico. Sim, sua prisão foi horrenda e covarde, mas conseguimos libertá-lo e ele ainda saiu mais forte mental- e ideologicamente do que quando entrou, ao que me parece. Mas suas chances de ser presidente novamente não será recuperada. Os que armaram todos os nefastos planos não permitirão nunca que Lula retorne novamente ao topo, ainda mais da forma épica e triunfante que seria.

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Dito isto, precisamos de um milagre para que Lula possa ser o candidato da Esquerda em 2022. Se for, há imensas chances de vencer. Se não for, a história é outra. Vamos a ela. Há poucos dias sinalizou-se que, caso Lula esteja de fato fora do jogo, Haddad deverá ser novamente o candidato do PT. Considero Haddad um político maravilhoso e penso que seria um dos melhores presidentes do Brasil. Professor, humanista, inteligente, um esquerdista moderno e dos nossos tempos. Seria fantástico. Tirando Lula ele é para 2022 o meu candidato favorito (ao lado de Boulos). Mas há um grande problema no meio do caminho: o povo brasileiro possui uma séria doença eleitoral. E aqui não me refiro às aberrações que votaram no nazifascista que venceu em 2018, afinal sobre estas não vale mais a pena comentar. Refiro-me aqui sim aos não-bolsonaristas e ao terrível fato de que muitas pessoas que votariam em Lula em 2018 não votaram em Haddad, como mostram as pesquisas. Lula provavelmente teria vencido, se não fosse um preso político. De Lula a Haddad o PT perdeu provavelmente entre 10 e 20% de seus votos, o que foi fatal na corrida eleitoral. E isso é inaceitável e até inconcebível, mas é a realidade na qual nos encontramos.

Desta forma, unindo esta realidade de ignorância política e inconsciência eleitoral do brasileiro às conjunturas ideológicas do país, que são as piores possíveis, acredito que seja muito difícil Haddad superar a Extrema-direita e a Direita, para chegar no segundo turno. E se chegar, será ainda mais difícil vencer. Portanto entendo que a liberdade política de Lula seja uma das mais fundamentais peças deste ensanguentado e violado tabuleiro sobre o qual a política brasileira é hoje jogada.

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O segundo ponto é a questão das sanções internacionais contra o Brasil. Não tenho dúvidas de que seja primordial que forças exteriores atuem contra o Neonazifascismo no país. No momento em que o Deus dos capitalistas, ou seja, a grana, começar a ser afetado, as coisas começarão a mudar. Lembrem-se: por trás da ideologia nazifascista, do ultra-conservadorismo e de todo a ração tóxica que o gado consome, estão os bilionários que cultuam somente e acima de tudo o vil metal. Eles certamente se dobrarão se sua “religião” começar a ser afetada.

Mas como se dariam estas sanções? Bem, infelizmente o ideal, um verdadeiro embargo, não acontecerá. Então teríamos de nos satisfazer com limitações, restrições a acordos econômicos e parcerias comerciais, a começar pelo Mercosul. A União Europeia age hoje de maneira extremamente lenta e incompetente com relação a isso, mas há forças dentro do parlamento europeu e dos parlamentos dos principais países do bloco, que estão dispostas a ir em frente com estas sanções.

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Há algumas semanas tive uma reunião com a deputada federal alemã Yasmim Fahimi, membra do Bundestag (parlamento alemão) desde 2017. Além de porta-voz do SPD (partido social-democrata) para as relações com a América Latina e outras regiões, ela é também presidente do ‘Grupo Parlamentar Teuto-brasileiro’. Conversamos justamente sobre a importância e a necessidade de que estas sanções ocorram, mesmo que muito gradualmente e por partes, se assim tiver de ser. Se os partidos de Esquerda da Europa se conscientizarem e pressionarem os direitistas para que isso evolua, teremos ao menos um embrião desta ação. Mas por enquanto mesmo esta fase embrionária parece longe de se tornar realidade. Nem mesmo todos os ataques aos Direitos Humanos e ao meio ambiente e a postura genocida do monstro na presidência parecem ser suficientes para que a Europa deixe de olhar somente para o seu umbigo eurocentrista.

Já nos EUA – embora ainda seja cedo para celebrar qualquer coisa – há possivelmente alguma esperança um pouco mais concreta. O trumpismo caiu em seu país original, mas vive (e muito vivo) no Brasil, e isso pode constituir uma razão para que Biden cogite dificultar as relações com o país. Além do mais, é com grande alegria que vimos há alguns dias publicado no mundo todo um importantíssimo documento intitulado ‘Recommendations on Brazil to President Biden and the New Administration’ (‘Recomendações sobre o Brasil ao Presidente Biden e ao Novo Governo’), de autoria do ‘U.S. Network for Democracy in Brazil’ (‘Rede estadunidense pela Democracia no Brasil’). Este grupo encabeçado por competentíssimos acadêmicos e endossado por dezenas de militantes, coletivos e organizações nos EUA e no Brasil, de fato encaminhou este impecável dossiê à administração de Biden. Nele são explicados os motivos pelos quais os EUA deveriam restringir suas parcerias e relações com o Brasil bolsonarista. Esperamos que iniciativas como esta surtam efeito.

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De qualquer forma o documento parece já estar incomodando os aliados e amantes de Bolsonaro. Um cidadão de nome Christian Lohbauer, que foi o candidato a vice-presidente do Brasil em 2018 pelo partido NOVO, na chapa de João Amoêdo, correu à mídia para afirmar que “considera os argumentos (do dossiê) inconsistentes e ideológicos” (em entrevista ao portal Notícias Agrícolas). É, é bom temer mesmo, afinal Trump está agora bem longe da Casa Branca, preocupado em não ser preso. Se este documento chegar à turma progressista democrata, como Bernie Sanders, o Squad (o “esquadrão” das maravilhosas mulheres progressistas na Câmara), e mesmo a Biden em um momento adequado, poderemos de fato ver ações restritivas interessantes em combate ao Neonazifascismo no Brasil.

Enfim, as duas medidas que proponho como as únicas para salvar o Brasil não estão exatamente no horizonte de nossa realidade. Então só nos resta persegui-las. Pressões internas e externas para que sanções comecem a se desenvolver podem e devem vir de todos os lados: de políticos, de acadêmicos, de ativistas. Não nos esqueçamos que tais ações foram de imensurável utilidade na derrubada do Apartheid sul-africano. Assim, é essencial que todos que estão nesta luta façam a sua parte como for possível.

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E quanto à Lula, de fato vemos um desenvolvimento na história criminosa de Moro e Dallagnol. Mas se isto nos levará à justiça plena e à anulação dos inconstitucionais processos contra o ex-presidente por parte do STF e finalmente à restauração de seus direitos políticos, ainda é uma incógnita. Cabe a nós então nos prepararmos tanto para Lula quanto para Haddad, de modo que haja uma evolução eleitoral entre 2018 e 2022.

No mais, segue a luta a diária e ninguém solta a mão de ninguém.

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