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Jean Goldenbaum

Músico, professor da Universidade de Música de Hanôver, Alemanha. É membro fundador do ‘Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil’ e fundador do coletivo ‘Judias e judeus com Lula’

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Sobre a manifestação neonazista-trumpista em Berlim e o que ela nos ensina

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No último domingo (30/08) tivemos aqui na Alemanha uma nova manifestação em protesto às medidas de prevenção ao Covid-19. Esta foi a segunda e ocorreu também em Berlim. A primeira aconteceu a cerca de um mês, e também sobre ela escrevi um artigo, publicado aqui em 2 de agosto. Bem, e por que vale a pena escrever sobre esta também? Pois ocorreram alguns elementos novos que não podem ser ignorados. As explicações genéricas (sobre as condições específicas da demografia berlinense, por exemplo) que tracei no texto anterior não repetirei aqui, então peço que o leitor, caso tenha interesse, o leia.

Vamos lá. Primeiramente, vamos deixar claro o mais importante: os principais organizadores desta atividade foram novamente os ultra-direitistas alemães, os neonazistas em suas diversas subdivisões. Havia desde os nazistas “descarados”, que carregam bandeiras com as cores do Terceiro Reich (vermelho, branco e preto) – lembrando ao leitor que expor a suástica em si é proibido –, aos nazistas “disfarçados”, eleitores do AfD.

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O AfD (“Alternativa para a Alemanha”) é – como já expliquei diversas vezes, mas sempre cabe mais uma – nada mais é do que o partido neonazista com uma roupagem contemporânea. Tendo como sua pauta fundamentalmente o racismo (mais especificamente a islamofobia), eles tiveram grande ascensão em 2015 na época das grandes ondas imigratórias de refugiados (que apoiei veementemente e continuo apoiando), mas tiveram seu crescimento estagnado, graças a eficientes campanhas de combate por parte dos outros partidos e também de grande parcela da mídia alemã. Hoje ele é o quarto partido mais votado no país, conquistando entre dez e 15 pontos percentuais, ou seja, se faz muito presente, mas não ameaça uma tomada de poder.

Pois bem, vamos às novidades nesta manifestação. Primeiramente, o número de participantes cresceu assustadoramente. Falava-se em 15 mil na primeira e nesta fala-se em 35 mil. É difícil precisar um número, mas é inegável que a quantidade de pessoas, no mínimo, dobrou. Como se explica isso? Simples: infelizmente os extrema-direitistas melhoraram muito sua organização. Caravanas nazistas vieram de trem e ônibus de diversas cidades do país.

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Assim, misturando-se a desinformados, turistas, e pessoas de outro ou sem nenhum posicionamento político, eles marcharam no centro da capital alemã em direção ao Reichstag, a sede do parlamento alemão. É importante esclarecer que as manifestações na Alemanha não podem ser espontâneas, tendo de ser obrigatoriamente pré-registradas, para que o policiamento seja preparado e todas as medidas de segurança tomadas. Em tempos de pandemia, vale também para tais eventos as regras de conduta sanitária: uso compulsivo de máscaras e distanciamento social.

Ao averiguar que tais medidas não estavam sendo executadas e nem meramente levadas a sério – o que é óbvio, uma vez que a manifestação era justamente contra elas – a polícia decidiu por bem encerrar o evento. Logicamente os mais exaltados não acataram a decisão com passividade e assim um ligeiro confronto físico se deu. Algumas pessoas foram detidas e depois liberadas. Foram registrados ferimentos leves em policiais e manifestantes.

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Mas o mais importante ocorreu após isto. Já encerrada a manifestação, um grupo de nazistas se dirigiu ao Reichstag e ameaçou invadi-lo, “a la” Sarah Winter em Brasília. É, os nazistas do mundo possuem um “código de conduta” e existe hoje claramente uma união internacional de suas forças. A polícia evitou qualquer progresso na tentativa de invasão, mas a lição que nos fica é a seguinte: os nazistas estão mais confiantes e ousados. E eles não pararão por aí. Por isso é necessário mais atenção e combate do que nunca.

Um outro fenômeno inédito que ocorreu também corrobora com a teoria da união da ultra-direita mundial: pela primeira vez viu-se nazistas carregando em seus protestos a bandeira dos EUA. O que isso representa? Vejam, isto escancara aquilo que desde 2016 se constrói: Donald Trump é visto e tido como o líder mundial da extrema-direita. Chegamos a um ponto em que os próprios nazistas alemães (ou ao menos parte deles) o reconhecem e o aceitam. Por isso friso mais uma vez: em novembro próximo Trump precisa cair. Se ele se mantiver no poder, será uma vitória imensurável para o Neonazifascismo no mundo.

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Outro detalhe a ser comentado – este mais ridículo do que relevante, mas que mostra também como o discurso esdrúxulo da extrema-direita é unificado – foi a presença de um enorme cartaz que mostrava Angela Merkel com um paletó estampado com a bandeira da extinta União Soviética. O cartaz pedia a prisão da chanceler e de outros políticos alemães. Pois é, para essas pessoas, Merkel é comunista.

Além disso, é claro, as mensagens e “argumentos” nazistas de sempre se faziam presentes: cartazes que falavam que Deus está com eles, exigindo liberdade para o povo alemão, acusando as mentiras do governo vigente, e por aí adiante. A face negacionista e anti-científica obviamente também se evidenciava, através de afirmações contrárias não somente à realidade do Covid-19, mas também contrárias à obrigatoriedade de vacinação, que felizmente existe no país para algumas doenças.

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Enfim, chegamos a meados de 2020 com a absoluta certeza de que o Neonazifascismo é uma realidade no planeta e que ele está em todos os lugares. A boa notícia aqui na Alemanha é que – ao menos hoje – há um trabalho inteligente e sério de combate a este câncer que assombra as sociedades. As mais recentes pesquisas continuam a mostrar que somente cerca de 10% da população desaprova as medidas relativas à pandemia tomadas por Merkel. Inclusive, sua postura consciente, segura e eficiente lhe garantiu considerável ascensão em termos de aprovação por parte da população, o que deve inclusive refletir nas eleições nacionais do ano que vem.

Se o Brasil tivessem freado a ascensão do Neonazifascismo enquanto ainda era tempo, como vem tentando fazer a Alemanha, o país não estaria na situação catastrófica que está. Talvez não sabíamos que a sociedade brasileira era tão doente como qualquer outra, e por isso fomos pegos, de certa forma, de surpresa. Havia aquela ilusão do “povo bom”, que mostrou-se completamente falsa e ingênua. Já a Alemanha foi o berço do Nazismo e onde ocorreram algumas das maiores transgressões humanas da história. Por isso, nós (ou ao menos os minimamente conscientes) sabemos muito bem que os monstros ainda vivem “muito bem vivos” e estão sempre à espreita aguardando o momento adequado para tomar o poder e aterrorizar a humanidade novamente. Guarda alta sempre, ou eles vencerão, como venceram no Brasil.

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