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Aroldo Bernhardt

É administrador e professor universitário

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Sobre furacões e outras catástrofes

Em maio de 2019 o centro- sul Chile foi palco de um ciclone que arrastou casas, trouxe grande prejuízo e alarmou as autoridades. Não chegou a ser considerado um furacão, daqueles que recebem injustamente nome de mulheres, mas foi de rara intensidade

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Em maio de 2019 o centro- sul Chile foi palco de um ciclone que arrastou casas, trouxe grande prejuízo e alarmou as autoridades. Não chegou a ser considerado um furacão, daqueles que recebem injustamente nome de mulheres, mas foi de rara intensidade.

Aliás, essa questão da denominação de catástrofes com nome feminino é intrigante e reflete desigualdade de gênero, mas tem origem prosaica. Vem desde a Segunda Guerra Mundial, altura em que o exército norte-americano começou a batizar as tempestades com nomes de pessoas. Os soldados preferiam escolher nomes das suas namoradas, esposas ou mães. 

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Agora o Chile está sendo palco de outro fenômeno. É um autêntico cataclismo político e social muito impactante, em especial nas grandes cidades, em função de grande insatisfação do povo chileno com a sua qualidade de vida, em especial entre as camadas mais pobres, a classe média crescentemente excluída das benesses do “progresso” e dos idosos que amargam aposentadorias miseráveis.

O estopim foi o aumento no valor das passagens de metrô nos horários de pico, justamente o mais utilizado pelos trabalhadores. Mas é reflexo de tensões decorrentes do modelo de desenvolvimento neoliberal adotado desde os tempos de Pinochet

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Seguindo a ortodoxia pregada pela Escola de Chicago sucessivos governos chilenos “rezaram” e ainda o fazem por essa cartilha. O atual Ministro brasileiro da Economia, Paulo Guedes, tem a mesma origem acadêmica, assim não é de estranhar que o modelo chileno de aposentadorias, privatizado e por capitalização, inspirou a proposta do governo de reforma da previdência aqui no Brasil.

Lá no Chile, os benefícios chegam a ser de apenas 60% do salário mínimo. E o arrocho se repete nos serviços públicos, como educação e saúde. A privatização retirou profissionais do setor público, que é também enfraquecido por corte de recursos. Para ter acesso a boas escolas e hospitais, é preciso pagar caro no Chile.

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Aliás, desde o ingresso na OCDE, o Chile começou a ser comparado aos padrões dessa organização, daí a desigualdade social ficou gritante. O país é um dos mais desiguais, mesmo quando comparado com outros da América Latina. Salários muito baixos, mais da metade dos chilenos ganham menos de 400 mil pesos por mês, cerca de R$ 2.800, o que para nós brasileiros parece bom, entretanto considerando o elevado custo de vida de lá a coisa se revela assustadora. 

Em decorrência as famílias chilenas estão endividadas, cerca de 1/3 da população tem que recorrer a empréstimos todo mês. Bom para os bancos, ou não? Assim o setor financeiro lá é muito “dinâmico” em detrimento do povo. Em suma, a lógica econômica do Chile depois da ditadura, baseada em privatizações e cortes na assistência social, na saúde e na educação, levou o país para o buraco. O povo chileno cansou e está dando um basta. 

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No Brasil, o caminho desenhado desde aquele famigerado plano de nome ardiloso - “A Ponte para o Futuro”, que se revelou menos que uma pinguela, e agora trilhado por Bolsonaro e orientado pelo personagem que ele apelidou de “Posto Ipiranga” (aliás, depois dos vazamentos de óleo no nordeste, bem que poderia ser chamado de “Posto da Shell), tudo sugere que o Brasil se encaminha para ser o Chile de hoje. 

Claro que com as nossas peculiaridades. Aqui, para gáudio de uns e vergonha de outros, temos uma diversidade incomparável de frutas. Desde a manga que foi enaltecida pela Ministra da Agricultura, Teresa Cristina, como a fonte alimentícia generosa, farta e gratuita que não deixa que o brasileiro morra de fome, passando por uma fantástica goiabeira que inspira a Ministra da Mulher, da Família e Direitos Humanos, Damares Alves, além do inolvidável, fecundo e incomparável laranjal do PSL o (ainda) partido do Bolsonaro. Aliás, espinhos é que não faltam nos pés de laranjas, protuberâncias que fazem com que os “laranjistas” brinquem de se espetar uns aos outros. 

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Mas, apesar de tudo, talvez nunca cheguemos a imitar o povo chileno. Não sei se por falta de ciclones e furacões ou hipnotizados que fomos por aquela estrofe do nosso belíssimo hino - "Deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo” ou ainda pela crença no muito recente slogan – “Brasil acima de todos”.

Contudo sejamos otimistas,talvez, quem sabe, o Cacique Raoni com seus lábios exuberantes e simbólicos (quase lembra o Gilmar Mendes), nos desperte.

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