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Lelê Teles

Jornalista, publicitário e roteirista

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blog

Sobre motoboi e motoboy

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Quem tem olhos para ver que veja, o rebanho do Necrarca parece que vai minguando; a vaca pode estar a ir pro brejo.

Analisemos o passeio motociclístico deste sábado.

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Os organizadores previam um desfile de 400 mil motocas pelas ruas da maior cidade da América Latina; quem haveria de duvidar?

Vai vendo: sabadaço, dia dos namorados, céu claro, ruas isoladas por um forte aparato policial, gradios impedindo a travessia de pedestres, trânsito livre.

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No alto, podia-se ver helicópteros e uma miríade de aves/drones em voos e voltas fílmicas: easy rider.

Para completar, contrataram um serviço de catering para fornecer marmitas gourmetizadas e coca-cola gelada no final do percurso.

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Como se vê, um prato cheio para os seguidores do Senhor da Morte desfilarem sua antiempatia e desdém pelos quase meio milhão de pessoas mortas pela Covid.

A falta de sentido do festejo me fez lembrar a nossa bela Nana Gouveia.

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Corte para uma elipse temporal: o ano era 2012, o furioso furacão Sandy passou por Nova Iorque, deixando um ruidoso rastro de destruição.

As ruas ficaram vazias, árvores tombadas sobre veículos, minino magro voando, tudo de pernas pro ar; o desastre com nome de filha de Xororó deixou 30 mortos.

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A modelo brasileira Nana Gouveia aproveitou o cenário escombroso para sacar fotos sorridentes e sensualizantes: “eu adoro hurricanes”, disse ela ao repórter.

Esperava-se, portanto, 400 mil Nanas Gouveias enroladas na bandeira do Brasil, casacos de couro e grisalhas barbas por fazer.

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No entanto, o evento foi um fiasco.

Pouco mais de 12 mil motociclistas compareceram ao evento.

Com mil diabos, dirás; e eu vos digo em verdade: sabemos que cerca de um milhão de motocas zanzam por ruas e avenidas de São Paulo noite e dia, portanto, a pergunta que fica aos nossos sapientíssimos motocólogos e motocólatras de butiquim é a seguinte: onde estavam os outros 990 mil motoqueiros?

A resposta é simples, se lá não estavam é porque não estão com o Necrarca.

Elementar.

E, de uma vez por todas, é preciso separar motoboy de motoboi.

O motoboy é uma categoria profissional composta por uns camaradas (há motogirls também) que usam as motocicletas como ferramentas de trabalho, são mototaxistas, entregadores e toda sorte de gente de pouca sorte que vive a fazer bicos.

Pilotam peidantes veículos de poucas cilindradas que se arrastam pelas ruas com grande dificuldade: pop cem, shineray, titan...

Todo mundo quer uma pizza, um hambúrguer com batatas, um prato gourmet ou um remédio que chegue à sua casa em menos de 30 minutos; para dar conta disso, esses kamikazes com uma caixa quadrada nas costas têm que pular canteiros centrais, cruzar sinais fechados, desviar de cachorros, assustar babás em pracinhas, ziguezaguear entre veículos.

“Humanitas tem fome”, diria o Quincas Borba.

Arriscam a vida com fome para levar comida aos outros; milhares deles já estão fora de combate, muitos morreram, muito ficaram paraplégicos, tetraplégicos, mutilados.

Esses trabalhadores precarizados, fudidos e explorados por gananciosos bolsonaristas, estariam nas ruas e avenidas com qualquer presidente que lutasse pelos seus direitos e para que eles tivessem a sua dignidade cidadã restabelecida.

Não é o caso. O Galo cantou que na garupa dos motoboys o Necrarca não sobe.

Além dos motoboys (e das motogirls) temos aqueles e aquelas que compraram uma moto, em suaves prestações, para sair do ônibus e do metrô; usam a motoca como meio de transporte para chegarem ao trabalho ou à faculdade.

A estes chamamos motociclistas.

Esses doze mil namorados do Necrarca são os que passaremos a chamar de motobois, uma nova categoria do gado bípede verde-amarelo, uma espécie de centauro de boi-bumbá.

Pilotam possantes Ducatis, Harleys e BMWs, estão sempre em alta velocidade, embora não tenham pressa, nenhum deles está indo entregar uma encomenda com horário pra chegar.

Em triciclos igualmente possantes, grisalhos aposentados flanam pela cidade, indiferentes aos colegas de duas rodas tão ocupados e preocupados.

Que se fodam esses fudidos.

Para o motoboi, sua moto não é uma ferramenta de trabalho e nem um meio de transporte, é uma extensão do seu corpo, por isso a imagem do centauro bípede com chifre embutido.

Esse gado mocho usa a motocicleta como uma parte de sua sexualidade mal resolvida, é como se estivesse montado num falo mecânico gigantesco e ruidoso, fazendo estremecer a pélvis (pélvis não morreu!), provocando comichões no esfíncter e culminando num osgásmico bufar de faíscas pelo escapamento.

A potência protuberante rasga-lhe as pernas e aponta pra frente, ao mesmo tempo em que o prazer lhe sai por trás, em forma de aliviante delírio.

Matéria vasta para o fiofólogo da Virgínia.

Sabemos que os namorados do Necrarca, ao contrário do gado chifrudo de Trump, não vão capitular quando invocados a invadir nosso capitólio.

Mas sabemos bem quem são eles: alguns PMs cretinos controlados por comandantes cretinos, alguns generais de pantufas e de gravatas, milicianos todos, centauros endinheirados, empresários motoristas de SUVs, malafaias, valdemiros e youtubers monetizadores tarados por dinheiro.

Todo mundo armado e treinado em estande de tiros.

Esses fanáticos cabeças-de-minhoca estão dispostos a tudo para acabar com o comunismo, a gayzice, as mamadeiras de piroca e a macumba.

Não aceitarão, em vinte e dois, a fragorosa derrota que se anuncia.

Parece perigoso, e é.

Mas já foi muito mais perigoso do que parece agora.

É hora de tomar as ruas, mostrar os dentes, mostrar força.

Pacifismo não é passivismo, o gesto valente e simbólico da jovem Maria Clara, em gândhico silêncio no Espírito Santo, a esfregar na cara dos cães bravios um cartaz que gritava meio milhão de mortes, mostra que chegou a hora de perder o medo.

A rua é nóis.

Palavra da salvação.

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