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Thiago Rocha

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Sobre petismos, antipetismos e “murismos”: o reconhecimento dos lugares de fala nestas eleições

Em suma, votarei em Dilma. Não apenas para evitar que a direita volte ao poder e não saia nunca mais. Não apenas porque eu sei que o que está ruim pode sempre piorar muito. Não apenas para escolher o "menos pior"

Em suma, votarei em Dilma. Não apenas para evitar que a direita volte ao poder e não saia nunca mais. Não apenas porque eu sei que o que está ruim pode sempre piorar muito. Não apenas para escolher o "menos pior" (Foto: Thiago Rocha)
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Há um bom tempo decidi não me manifestar pelo Facebook, sobretudo sobre política ou quaisquer outros temas polêmicos, porque, como não é tão difícil perceber, muito mais do que um ambiente de "empoderamento" das pessoas capaz de gerar qualquer tipo de debate construtivo, tem se mostrado cada vez mais o lugar do discurso do ódio, da superficialidade, da rotulação leviana e da defesa dogmática de posicionamentos, tratando assuntos de relevância como se defende o amor por um time de futebol. Este é o meu diagnóstico particular e justifica a minha posição pessoal, de modo que não estou pedindo que ninguém concorde comigo, mas espero também não ser acusado de "ficar em cima do muro neste momento tão importante para o nosso país": até porque, a vida acontece mesmo é fora do Facebook, e quem me conhece sabe da disposição que tenho – às vezes até exagerada – de debater qualquer tipo de assunto com qualquer tipo de pessoa no cara a cara, onde me parece minimamente possível estabelecer um diálogo verdadeiro, para além do conforto – muitas vezes covarde, como no caso dos "odiadores" de plantão – proporcionado pela impessoalidade e pelo vazio de uma tela de computador.

Meu posicionamento político sempre foi muito claro, sempre pautado na descrença em relação às instituições "democráticas": o poder instituído existe mesmo é para justificar e perpetuar todos os tipos possíveis de desigualdade e opressão; a política formal é uma mera escrava do sistema econômico em geral e das megacorporações financeiras que dominam o mundo em particular; não é mudando todos os políticos do país que as instituições vão finalmente se tornar o que elas dizem se propor a ser; e, portanto, para encurtar a conversa, a via eleitoral só serve mesmo para nos dar uma falsa ilusão de participação e para manter as coisas precisamente como estão – afinal, como bem dizia Emma Goldman, "se votar mudasse alguma coisa, eles tornariam o voto ilegal".

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Desta forma, raramente tenho convicção de sair para votar. Não acho que o voto nulo só sirva necessariamente para fortalecer a direita. Não acredito que devemos sempre nos posicionar a respeito de um "menos pior". E também estou longe de concordar com a ideia, muito difundida no primeiro turno, de que "neste momento devemos votar na esquerda que tem chances de ganhar para evitar que a direita vá para o segundo turno". Não, eu voto se eu quiser, em quem eu quiser e pelos motivos que eu julgar apropriados, e não é necessariamente tal ou qual postura eleitoral que vai fazer de mim uma pessoa mais ou menos revolucionária. O problema, nesta troca de acusações totalmente improdutiva, é que a "esquerda" que usa esses argumentos está se esquecendo de analisar de que lugar de fala vem cada um desses posicionamentos que eu citei no início do parágrafo, o que, não por acaso, é a parte mais importante do problema – e a mais negligenciada.

Normalmente, não é muito difícil perceber, nesta celeuma toda, de onde está falando cada um daqueles que trazem algum dos argumentos citados acima, especialmente se conseguimos superar a preguiça analítica antes de enquadrar tal atitude como "reacionária" ou "de direita", por exemplo, porque ela pode mesmo representar exatamente o oposto disso, saltando rapidamente de um espectro a outro, da extrema direita à extrema esquerda, por assim dizer, a depender da ótica de quem fala ou de quem analisa. Em termos simplificados, da direita para a esquerda: ou se está ferido com a perda de certos privilégios e desesperado para retomá-los de uma vez por todas; ou se deixou engolir pelo infantil discurso hegemônico de antipetismo e da recente invenção da corrupção no Brasil; ou ainda se acredita no momento eleitoral pelo menos para instaurar certos debates e buscar uma verdadeira guinada à esquerda; ou, simplesmente, já não se tem mais saco para esse papo prometeico, tão antigo quanto a ilusão democrática do ocidente, de tomar o poder e mudá-lo por dentro. Dito isso, devemos entender que o problema não é o posicionamento em si – de votar ou não votar, de apoiar fulano ou não apoiar –, mas o que ele representa, de fato, em termos de visão de mundo e projeto de sociedade.

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Já votei nulo várias vezes, e não me sinto "de direita" ou "desinformado" por causa disso. Já votei no PT inúmeras vezes, mas isso não faz com que eu veja o partido como "o representante legítimo da esquerda no país", como muitos querem nos fazer engolir – porque, para mim, está mais para quase o contrário. Já votei no PSOL várias vezes também, mas isso tampouco me faz pensar que, uma vez eleito para a presidência da república, o partido vai ser capaz de fazer um governo verdadeiramente de esquerda e implantar o socialismo e a liberdade no país. Este ano, por exemplo, votei no PSOL para governador e presidente, com bastante convicção, especialmente pelo importantíssimo papel do partido – assim como dos outros da esquerda, que infelizmente sequer podem participar dos debates televisivos – de constranger tanto a própria direita quanto a "esquerda" governista (aliada a parte da direita), e, assim, instaurar pautas que esta, por questões eleitoreiras, não pode emplacar.

Tenho inúmeras críticas ao PT, mas não porque, como disse de maneira infeliz, irresponsável e elitista Aécio Never em um dos debates, e como muita gente repete papagaísticamente (essas pessoas, sim, FHC, verdadeiramente desinformadas!): que Dilma está tentando implantar a "democracia direta" no país para enfraquecer as "instituições democráticas". Afinal, se isso fosse verdade, ou minimamente possível no horizonte institucional, eu seria o primeiro a fazer campanha para ela desde o início. Mas não: as minhas críticas ao PT – para aqueles do próprio PT que não conseguem assumir os problemas do partido e se apressam em desqualificar como "reacionário" ou "coxinha" qualquer crítico que venha a abalar a blindagem religiosa que pretendem fazer ao governo – se dão precisamente pelo fato de ele estar ainda muito longe do espectro que costumamos chamar de "esquerda".

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Enfim, o propósito deste texto é me posicionar diante de toda essa onda conservadora que a elite e a sua assessoria de imprensa – a grande mídia – tem difundido desesperadamente e que muitas pessoas têm repetido de modo realmente acrítico, ao reproduzir o discurso de uma classe que é totalmente contra a sua própria. Mas o objetivo é também enfrentar o conservadorismo governista e pedir a certos militantes de plantão que, para o bem da própria campanha de Dilma, aprendam a dialogar com as críticas, larguem um pouco o discurso populista de únicos representantes legítimos do "povo brasileiro" e assumam as limitações do governo petista para emplacar determinados compromissos (mais à esquerda!) de maneira justa e transparente. Não que muitos militantes, obviamente, já não o façam, mas é que, a julgar pelo que tem acontecido no Facebook pelo menos desde a Copa, o debate entrou num nível de maniqueísmo assustador, com argumentos dogmáticos de causar inveja a qualquer pastor evangélico.

Em suma, votarei em Dilma. Não apenas para evitar que a direita volte ao poder e não saia nunca mais. Não apenas porque eu sei que o que está ruim pode sempre piorar muito. Não apenas para escolher o "menos pior". Não apenas porque anular meu voto num momento decisivo como esse é ser minimamente conivente com um candidato neoliberal que tem chances reais de ganhar. Mas, acima de tudo: para reconhecer que, apesar de todas as limitações, houve, sim, avanços; para apostar que algum aprendizado a cúpula do PT possa tirar dessas eleições e entender que esse modelo de governança já está falido e está estilhaçando o partido aos poucos; para ver se, a partir daí, e com essa maior polarização do debate motivado por um conservadorismo aparentemente crescente, com parte da direita rompendo as próprias alianças que ajudaram a eleger o PT nos pleitos anteriores, é possível emplacar mudanças mais efetivas e levar adiante pautas urgentes que estão latentes na sociedade.

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Não vou mudar minha foto de perfil no Facebook, muito menos colocar aqueles avatares populistas representando Dilma como negra, como revolucionária, ou como representante real de qualquer minoria, porque embora haja um tímido avanço ou outro no que diz respeito a esses temas, o modelo desenvolvimentista adotado pelo PT ainda impede a adoção de políticas realmente efetivas e continua trazendo muito estrago para determinadas minorias, a exemplo dos índios. Também não pretendo ficar escrevendo sobre eleições aqui, até porque, como já disse, não acredito que debates de Facebook sejam capazes de convencer ninguém sobre nada.

Mas, acima de tudo, estou muito empenhado, como sempre estive, em conversar presencialmente com as pessoas com quem me deparo no dia a dia: tanto para lutar fervorosamente contra esse senso comum antipetista, catastrófico e com pouquíssimos fundamentos coerentes, que coloca o Brasil como um paraíso perdido, quanto para enfrentar o senso comum petista, paranoico e totalmente impermeável a críticas, que acredita que, na verdade, são eles próprios os que estão empenhados nos últimos 12 anos em fundar o tal paraíso e que, portanto, qualquer opinião e atitude que contrarie as suas ações representa um eterno complô da direita.

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É claro que esse complô existe, e o vemos recrudescer por todos os lados diariamente, mas é preciso ter sensibilidade, responsabilidade e mesmo coragem de perceber de onde exatamente parte cada uma dessas críticas, para, assim, estabelecer um diálogo verdadeiro que vise justamente a ajudar este governo a repensar suas falhas e, assim, se tornar, quem sabe, aquilo que ele tanto acredita ser: verdadeiramente comprometido com as minorias, com uma igualdade social cada vez maior, com um projeto político de intensificação democrática etc. etc. etc. Não que eu acredite que votando em Dilma agora vamos realmente conseguir avançar para além do que já se tem aí. Mas, pelo menos neste momento, estou apostando, e muito até, na urgente necessidade de evitar qualquer tipo de retrocesso – sim, para além de petismos, antipetismos e "murismos" de qualquer espécie...

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