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Leonel de Esquerda

Vereador do Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores. Ganhou notoriedade nacional ao enfrentar o bolsonarismo nas ruas da cidade

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Sobre um novo tempo

O PT precisa, com urgência, passar por um processo de renovação. Isso já é sabido, discutido e apontado há muito tempo. Mas a pergunta é: quando vamos começar?

O deputado Reimont e o vereador Leonel de Esquerda buscam unir uma frente ampla de unidade visando a reeleição do presidente Lula (Foto: Divulgação)

Quando se fala que a esquerda precisa se comunicar melhor e se reaproximar de suas bases, muita gente imagina que estamos falando de algo mirabolante, mas não é. O que precisa ser feito, nós já fizemos — e fizemos bem. O que mudou foi a forma, não o conteúdo. 

Nas grandes greves do ABC Paulista, sabíamos falar com o povo. Sabíamos mobilizar a partir das pautas concretas do dia a dia. E é disso que precisamos voltar a falar: do fim da escala 6x1, da isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil, das novas modalidades de trabalho por aplicativo e dos camelôs que lutam para sobreviver nas cidades. No Rio de Janeiro, criei a Comissão Especial de Trabalho Informal justamente para estabelecer uma interlocução direta com vendedores ambulantes, motoristas, entregadores e tantos outros que resistem fora da formalidade.

Hoje, essa conversa precisa acontecer também nas redes sociais. E, nesse campo, ficamos para trás. Enquanto a extrema-direita começou a ocupar esse espaço, a esquerda hesitou. Eu fui um dos poucos que entenderam cedo essa mudança e mergulharam de cabeça nessa disputa política.

Uma lavagem cerebral vem sendo feita há anos, desde o golpe parlamentar de 2016, com apoio da imprensa e do Judiciário. Foi um processo bem planejado, que sabotou sistematicamente o segundo governo Dilma e operou por meio da Lava-Jato. A esquerda não pode fingir que esse processo começou ontem — porque não começou. Tivemos praticamente dez anos para reagir. Mas, na prática, ficamos estagnados.

O PT precisa, com urgência, passar por um processo de renovação. Isso já é sabido, discutido e apontado há muito tempo. Mas a pergunta é: quando vamos começar? Infelizmente, setores do partido se acomodaram em seus círculos de poder e se afastaram dos princípios que deram origem à nossa história. Perdemos, em parte, o olhar para os nossos valores mais profundos — o nosso DNA, que é a defesa intransigente do trabalhador.

Durante toda a construção da minha candidatura para a presidência municipal do PT do Rio, estive dialogando com a militância — com jovens que acreditam no PT e com companheiros e companheiras que ajudaram a fundar o partido. O que os diferencia é a idade, a geração. Mas o que os une é muito mais forte: os sonhos, a forma de enxergar o mundo, a esperança de ver o partido voltar a ser o que foi. 

Nessas conversas, ninguém me pediu cargo. O que pedem é diálogo. A militância está sedenta de escuta. Quer participar do dia a dia político, quer ter suas opiniões consideradas. O que querem é sentir que fazem parte de algo maior. Eles querem o tão necessário enfrentamento à extrema-direita. Eles querem o compromisso diário com a reeleição de Lula. Não faz sentido construir um partido como o nosso e ver parlamentares encastelados em seus gabinetes, fazendo acordos que não representam o PT.

A aliança com o prefeito Eduardo Paes é, sem dúvidas, importante para nossos planos nacionais — principalmente para a reeleição do presidente Lula em 2026. Mas aliança não é submissão. O PT se beneficia dessa parceria, mas Eduardo Paes também — e não é de hoje. A cidade do Rio foi amplamente beneficiada pelos governos do PT: com o legado olímpico, o BRT, o VLT e a revitalização do Porto Maravilha. E, neste novo mandato de Lula, a cidade voltou a ser protagonista. O Galeão foi resgatado, os BRTs recuperados, sediamos o G20, receberemos os BRICS em julho, e já temos o apoio do governo federal para a candidatura conjunta com Niterói para o PAN de 2031. 

Além disso, o PT também cedeu tempo de rádio e TV ao prefeito na sua reeleição — e, caso ele se confirme candidato ao governo do estado, isso vai acontecer novamente. Por isso, é justo dizer: um acordo precisa ser programático, não automático. Temos que estar abertos ao diálogo, como faço em meu mandato de vereador — não apenas por responsabilidade institucional ou partidária, mas principalmente por compromisso com a população carioca, com quem votou e com quem não votou em mim.

Tenho uma longa trajetória no movimento sindical. Não sou aventureiro. Os trabalhadores e o movimento sindical me conhecem. Atuo como secretário de Saúde do Trabalhador da CUT-Rio. Estou à frente do Sindicato dos Trabalhadores em Rádio e TV do Rio de Janeiro (SINRADTV-RJ) há mais de 10 anos. Negocio diretamente com a Rede Globo, uma das maiores emissoras do mundo. Falo firme, mas com responsabilidade. A experiência sindical me ajudou a ter maturidade suficiente no diálogo entre a classe trabalhadora e a patronal.

Aprendi, com essa vivência também, no entanto, que há princípios que não se negociam. Um partido feito por trabalhadores e para trabalhadores não pode, jamais, compactuar com a retirada de direitos. Não dá para aceitar, por exemplo, leis municipais que ampliem a contratação temporária ou que retirem direitos dos professores — e ainda ver setores do PT votando a favor. Isso rompe pontes. E agora, companheiros e companheiras, será necessário reconstruí-las. Com escuta, com coragem e com o compromisso real de recolocar o povo no centro da política. Para isso, conto com aqueles que sonham com algo que não pode ser comprado: algo sobre um novo tempo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.