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Ronaldo dos Santos

Músico, graduando em história, vice-presidente do diretório municipal do PT de Paraty-RJ, presidente da AMOQC - Associação de Moradores do Quilombo Campinho da Independência, e coordenador nacional da CONAQ - Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas

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Sociedade se divide entre aplausos e repulsa ao banho de sangue

A chamada guerra às drogas nada mais é do que a bala trocada entre pretos e pobres, enquanto a burguesia branca enriquece ainda mais, e ostenta com o sangue do nosso pessoal

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Por Ronaldo dos Santos

E as opiniões seguem divididas na sociedade.

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Claro que repudio a chacina do Jacarezinho. Eu repudio qualquer chacina, pois entendo que ninguém tem o direito de decidir quem vive ou quem morre. E não estou sozinho. Muita gente compreende que o Estado promover uma chacina através hegemonia da força que tem é inadmissível. Mas, para além disso, tem várias coisas aí que precisam ser desmistificadas:

– Não é verdade que bandido bom é bandido morto. Bom é não ter bandidos; bom é bandido ressocializado; bom é sociedade com educação e trabalho, onde o sistema de justiça e o sistema de polícia dão conta das suas demandas, todas as vezes que se fizer necessário.

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– Não é verdade que os meninos negros e favelados são os donos do “negócio”. O tráfico de armas e de drogas, como qualquer tráfico, é um negócio altamente rentável. É um negócio internacional onde muitos, mas muitos poderosos lucram com isso. São empresários renomados, são políticos do alto escalão, são pessoas ligadas ao judiciário, representantes diretos da burguesia, moradores da Zona Sul e da Barra da Tijuca. Todos de pele branca e são os chamados “cidadãos de bem” (sempre eles). A chance desses darem um disparo é quase zero, e a chance de receberem uma rajada não é quase não, é zero mesmo.

– E os policiais... Ah os policiais! Eles não são filhos da elite. Em sua maioria são negros, filhos da periferia, trabalhadores de baixa valorização dentro do sistema, e estão a serviço de uma engrenagem feita pra dar errado. Logo se corrompem, abastecem e armam a boca, e oferecem-na cobertura em troca de “arrego”. Não, não estou generalizando. Eu nunca generalizo, como faz a direita perversa, mas sei que grande parte deles mata por ódio, e em algum momento passa a ser por prazer, pelo poder. Assim surge um miliciano. Mas eles também morrem... E o que faz o pessoal dos Direitos Humanos quando eles morrem? Reage do mesmo jeito, pelo simples fato dos policiais também serem humanos, portanto não estão fora desse lugar no mundo.

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Enfim, a chamada guerra às drogas nada mais é do que a bala trocada entre pretos e pobres, enquanto a burguesia branca enriquece ainda mais, e ostenta com o sangue do nosso pessoal. Num dia a chacina, a dor, a revolta. No outro a normalidade. Quem vende, vende. Quem compra, compra. Quem abastece, abastece. Quem dá cobertura, dá cobertura. Quem pega arrego, pega arrego. Quem recolhe os lucros, recolhe os lucros. E pra quem ainda não morreu, a vida segue.

Do outro lado o linchamento. Estamos divididos mesmo enquanto sociedade.

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Vi figurinha de WhatsApp com cadáver, vítimas da chacina. Vi meme com um trompete na boca de um cadáver tocando uma musiquinha qualquer. Insensíveis. Estamos nos tornando insensíveis. Hoje a mortandade se ignora, se comemora, se clama e se desdenha.

Parte desses não aguenta mais ser refém dentro de sua própria casa, não suporta mais o domínio territorial dos meninos armados comerciantes de ilícitos, que impõem regras através do medo. Esse acredita que terá o seu território de volta, em paz, com a presença efetiva do Estado. Só que não. Ele está tomado pelo medo e o instinto animal diz que quando se está acuado se contra-ataca. Não havendo força o suficiente pra isso, comemora-se quando o Estado, através da polícia, vai lá e faz.

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Outros são consumidores, sonegadores, enganadores, ladrões de toda espécie que da forma mais hipócrita e deslavada acredita e prega que bandido bom é bandido morto.

Enfim, temos que furar a bolha minimamente para perceber que a defesa da chacina está aí e precisamos fazer essa discussão de forma lúcida e pedagógica, pra minimamente tentarmos sobreviver. O que já é muito desafiador numa sociedade doente e enlouquecida, como a que temos hoje. Precisamos curar, reconstruir, juntar, mas juntar do lado que prega o amor, que prega a solidariedade, que prega a humanidade e a dignidade. Para que nossos netos encontrem um lugar viável, pois se falharmos dessa vez podemos ser a geração que vai entregar às gerações futuras o inviável.

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A sociedade está dividida, mas nós temos que juntá-la pelo direito à vida!

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