Sonhar é preciso
O sonho acabou ou continua nas redes sociais como querem muitos? Eu tenho minhas dúvidas
O sonho acabou ou continua nas redes sociais como querem muitos? Eu tenho minhas dúvidas. Este período que vivemos traz muitas reflexões. Pela minha idade já passei por vários períodos e por algum motivo, em vários setores parece que retrocedemos. Depois de tantos anos a questão de gênero ainda traz tanta polêmica e rejeição. O meio ambiente ainda é maltratado como se não houvesse amanhã e a famosa luta de classe se tornou realmente uma luta de classe, os mais pobres lutando para escaparem da morte organizada pelos mais ricos, voluntariamente ou não. Lá se foi o tempo de sonhar com uma sociedade mais justa. Lá se foi o tempo em que hippies e existencialistas pregavam o amor livre, lá se foi o tempo em que a classe trabalhadora ainda tinha alguma importância e se sentava à mesa com os patrões e tinha o seu ‘lugar de fala”. Mas não era essa a sociedade que o mundo ocidental queria. Com a queda do Muro de Berlin e da cortina de ferro que dividia o mundo e que, de uma certa forma, mantinha o equilíbrio, tudo se esfarelou. As classes trabalhadoras foram abandonadas, o individualismo tomou conta dos sonhos de cada um e os liberais puderam enfim abrir seus planos na mesa sem que ninguém viesse atrapalhar. Foram conquistando os espaços enquanto os socialistas tentavam desesperadamente manter o sonho coletivo vivo. Claro que não deu certo. A própria queda do muro simbolizou o “fracasso” do socialismo sem que uma coisa tivesse a ver com a outra. Uma coisa era o sistema político questionável e a outra o sistema econômico odiado pelos liberais. Quando a internet surgiu e com ela as big techs, o terreno estava pronto. Chega de coletivismo, de ideias socialistas, de projetos coletivos. Vamos trazer para cada telinha o mundo que você sempre sonhou e se não sonhou a gente sonha por você. Os indivíduos foram cadastrados e seus desejos viraram gigabytes que passaram a determinar as vidas. Mas o sonho continuou. Basta ele estar vivo para ver que podemos ainda desejar coisa melhor para todos. Ser um individuo sem opinião ou ser parte de um coletivo que pensa? Já dizia Raul Seixas que se sonharmos todos juntos o sonho vira realidade. O que Trump está fazendo ilude seu próprio projeto. Ao invés de se reforçar na sua luta pela conquista deste mundo sem sonhos ele está revelando o que realmente vale a democracia americana, desvelando o segredo que sempre manteve este ideal vivo. É esta a democracia que a gente sempre sonhou? Que basta um louco chegar ao poder e ela se vê ameaçada? Claro, ela não é o que imaginávamos. Ela serve e sempre serviu à elite branca e rica. Vamos ter que pensar um novo mundo em que o coletivo sobreviva, em que as redes sociais sirvam de modo realmente social ao interesse de todos. Que não sela monopólio de grupos mal intencionados que trabalham em benefício próprio. A iniciativa privada se tornou inquestionável e dona da verdade. Por isso Trump e Bukele decidem, ou não decidem, de modo cínico e cruel o destino de um cidadão comum, uma pessoa desimportante para eles, mas que talvez ainda tenha grandes sonhos, como este salvadorenho deportado por engano. Vamos permitir que isso continue acontecendo? Nesta hora do meu sonho eu acordo e faço alguma coisa. E você?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

