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Bernardo Gomes

Estudante de Gestão Pública UFMG, assessor parlamentar, dirigente municipal do PCdoB em Contagem/MG

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Superar o capital, seu sistema e suas crises

O capitalismo é um sistema que necessita de crises para sua própria sobrevivência

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A pandemia global do novo coronavirus expõe a fragilidade do sistema de produção capitalista em sua forma mais destrutiva, a acumulação desmedida do capital diante de Estados nacionais cada vez mais desfigurados e endividados, revelando o abismo da desigualdade entre os povos. 

O capitalismo é um sistema que necessita de crises para sua própria sobrevivência, aqui podemos traçar uma linha histórica desde a quebra da Bolsa de Nova Iorque de 1929, passando pelo Watergate e a crise do petróleo dos anos 1970, a quebra dos bancos e o derretimento do sistema imobiliário em 2008, e agora o que está sendo chamado de crise do coronavirus. 

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A história nunca se repete, mas podemos observar alguns elementos próximos em cada crise cíclica do capitalismo, como o surgimento de concentração de poder em governos autocratas, a forte dominação pelos países centrais sobre os países da periferia do sistema capitalista ou subdesenvolvidos, guerras bélicas ou frias, disputa hegemônica ideológica com potências socialistas emergentes. 

Para cada crise do capitalismo surgem soluções anticíclicas como o Keynesianismo, os Estados de bem-estar social na Europa, o New Deal americano, a Primavera Rosa da América Latina, e outras experiências que mitigam os efeitos da acumulação primitiva do capital pela burguesia, porém não superam o modelo econômico capitalista nem a natureza do Estado burguês. 

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O fato posto hoje é que a economia mundial não vai desacelerar somente em decorrência da pandemia do novo coronavirus – que vai sim trazer impactos econômicos devida a queda das atividades produtivas -, o que se vê é mais uma profunda crise do sistema capitalista que ainda não se resolveu desde 2008. O montante da dívida global que os Estados-Nação e os fundos de investimentos acumulam desde da crise dos SubPrimes americanos, passa de 230 trilhões de dólares. (1)

Os Bancos Centrais inundaram economias pelo mundo, transformando a dívida privada em dívida pública, para que não houvesse uma quebradeira generalizada e essa dívida ainda não foi paga, pois parte desse capital foi utilizado para especulação financeira e investido em papéis podres, inclusive em títulos da dívida pública dos EUA. 

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O endividamento galopante aliado ao neoliberalismo que torna o capital uma espécie fictícia, transformando o valor das empresas – que deveriam ser baseados na sua capacidade produtiva -, em miragens superdimensionadas pela especulação financeira, provoca uma bolha que poderá explodir a qualquer momento. 

Se toda riqueza advém do trabalho e da produção, temos hoje uma superprodução devido aos avanços tecnológicos e uma crise de demanda devido à desvalorização do trabalho e da renda. 

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Esse modelo agressivo do capital tem demonstrado muitas fraquezas, mesmo antes da pandemia do novo coronavirus o mundo vinha desacelerando o crescimento econômico, muitos economistas liberais pedem reiteradamente reformas no capitalismo para a sua própria sobrevivência. Em artigo no Financial Times, Martin Wolf, o jornalista chefe de economia da bíblia do liberalismo econômico, revelava em setembro de 2019 que o capitalismo rentista estava acabando com a democracia liberal. (2)

No campo progressista Boaventura de Sousa já nos alertava desde 2013 que o capitalismo havia derrotado a democracia liberal e não parecia derrota reversível, sendo, portanto, necessário inventar nova democracia. Boaventura afirma “A luta daqueles e daquelas que veem na derrota da democracia liberal a emergência de um mundo repugnantemente injusto e descontroladamente violento tem de centrar-se na busca de uma concepção de democracia mais robusta cuja marca genética seja o anti-capitalismo”. (3) 

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Partindo do pressuposto que o sistema capitalista vem sendo altamente questionado e não consegue oferecer respostas para o nosso tempo em relação ao desenvolvimento econômico sustentável, a redução da desigualdade e a democracia plena, a crise da pandemia do coronavirus vem somente agravar este diagnóstico. O capital já vinha moribundo e agora desfalece de vez. 

As bolsas e suas bolhas especulativas derretem a um ritmo acelerado superando as quedas de 2008, o pânico tomou conta do mercado financeiro. Os países centrais do sistema capitalista recorrem a medidas nada ortodoxas para combater a pandemia, pacotes fiscais e econômicos com o Estado injetando bilhões de euros e dólares nas economias novamente.

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O neoliberalismo e o Estado mínimo não resistiram a pandemia do coronavirus, o discurso hegemônico sucumbiu diante da solução eficiente da China comunista no combate a pandemia, com investimentos monstruosos na saúde e na economia. A Espanha estatiza seus hospitais privados para poder oferecer atendimento a sua população. O FED - Federal Reserve (Banco Central dos EUA), anuncia programa de 700 bilhões de dólares para minimizar os impactos do coronavirus. 

Mais uma vez o Estado surge como o grande salvador da economia e dos mercados, porém desta vez é preciso dizer um basta para medidas apenas paliativas. Não é necessário somente medidas anticíclicas e um agigantamento momentâneo do Estado somente na crise, é preciso um novo modelo econômico que substitua o capital, seu sistema e suas crises. 

O que deve nascer após essa, que será a maior crise do capitalismo de nossa história, são Estados-Nação de natureza socialista que sejam capazes de manter os investimentos públicos, empresas estatais, grandes programas sociais como saúde pública universal, educação pública universal e rendas básicas de cidadania e garantia de pleno emprego. 

Nesta contenda o pensamento de Marx e Engels ainda oferece grandes contribuições para a nossa realidade, a necessidade permanente de renovação e desenvolvimento tecnológico é também uma das oposições dialéticas que constituem a sociedade capitalista e a levam à sua superação. 

“As relações burguesas de produção e de troca, as relações burguesas de sociedade, toda essa sociedade burguesa moderna, que faz surgir tão potentes meios de produção e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não é capaz de dominar as potências infernais que desencadeou com seus conjuros (...) a burguesia não forjou somente as armas que lhe darão a morte; produziu também os homens que empunharão essas armas – os operários modernos”. MARX; ENGELS. Manifesto do Partido Comunista, p.27-28 (4)

É necessário o controle da produção, sem que a anarquia provoque a superprodução do sistema, gerando cada vez mais desperdícios e crises de demanda que provoquem reduções salariais e desvalorização da renda do trabalhador. 

É preciso preparar os trabalhadores para as mudanças no mundo do trabalho advindas da economia do conhecimento, racionalizar os métodos de produção de forma que a tecnologia aumente a produtividade do homem e não o contrário onde a tecnologia substituiu o trabalho humano. 

Após a passagem do novo coronavirus a humanidade não será mais a mesma nem mesmo seus sistemas econômicos. O filósofo Slavoj Zizek em artigo publicado no Russia Today, escreve que um vírus ideológico se espalhará por todo mundo, um vírus que fará pensar em uma sociedade alternativa, uma sociedade que se atualiza a si mesma com as premissas da solidariedade e da cooperação global, mas para isso ocorrer tivemos que ter uma catástrofe de saúde. (5)

Exemplo claro de como as ideologias lidam com a pandemia, enquanto os EUA confiscam insumos médicos e respiradores destinados a outros países e tentam impedir suas empresas a exportarem máscaras, mostrando o cerne do individualismo capitalista e do ímpeto imperialista, países socialistas como Cuba e China exportam seus médicos, insumos para ajudar o mundo no combate a pandemia, além de dedicarem seus aparatos estatais para o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o novo coronavirus. 

Por que a China enfrentou melhor o vírus que os EUA? Porque a China enfrenta as contradições do capitalismo enquanto os EUA afloram tais contradições. O vírus é a materialização dessa contradição, mas não será o vírus que vai levar ao fim do capitalismo e sim o poder político na mão da classe trabalhadora, o Socialismo! 

Lembrando mais uma vez o pensamento de Marx, ele afirma “a humanidade só levanta os problemas que é capaz de resolver, e assim, numa observação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu quando as condições materiais para resolvê-lo já existiam ou estavam, pelo menos, em vias de aparecer”. (6)

Estamos diante de dois dos maiores problemas da história da humanidade, um vírus mortal e um sistema econômico-social em decadência que aprofunda o primeiro problema. As soluções e as condições materiais para superá-los estão postos mais uma vez, com exemplos práticos. O coronavirus acelerou o processo de derrocada do sistema capitalista global em sua face mais cruel: o neoliberalismo. Agora nos resta edificar a humanidade em uma nova aurora socialista. 

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