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Julimar Roberto

Comerciário e presidente da Contracs-CUT

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SUS, 35 anos de luta, vida e dignidade

O SUS nos enche de orgulho porque representa o melhor do Brasil

SUS - Sistema Único de Saúde (Foto: Agência Brasil )

É com muito orgulho que celebramos os 35 anos do Sistema Único de Saúde (SUS). Uma ferramenta que nasceu da luta e da resistência de trabalhadoras, trabalhadores, movimentos sociais, entidades sindicais e intelectuais, que afirmaram que saúde era direito de todos e, acima de tudo, um dever do Estado. E assim foi grafado na Constituição Federal de 1988 e, em seguida, regulamentado pela Lei nº 8.080/90. De fato, o Brasil ganhou algo que mudou a vida do povo brasileiro, um sistema universal, gratuito, integral — da vacina ao transplante — para qualquer pessoa que precise. Não me recordo de nada mais democrático.

Antes do SUS, só quem tinha emprego formal tinha atendimento garantido. O restante da população ficava à mercê da caridade ou do próprio bolso. Mas o país estava passando por severas transformações e era preciso garantir que a vida não seria mais privilégio. Hoje, passados 35 anos, vemos o resultado concreto dessa luta em cerca de 2,8 bilhões de atendimentos por ano, 3,5 milhões de profissionais em atuação e a maior rede pública de transplantes do mundo. Tudo isso expressa o SUS em ação — a solidariedade em sua forma mais concreta.

Cada vacina aplicada, cada bebê que nasce seguro, cada transplante que salva uma vida, cada doença erradicada — tudo isso existe porque o povo se ergueu unido em prol de uma causa. E graças a esse levante, vemos a força do SUS nas periferias, nas comunidades ribeirinhas, nos territórios indígenas, nos consultórios de rua e nas equipes da Estratégia Saúde da Família. O cuidado chega onde o mercado não quer chegar — porque para nós a saúde não é mercadoria.

Mas esse reconhecimento não é apenas nosso. As redes sociais são tomadas de depoimento de estrangeiros que chegam ao Brasil e se surpreendem ao descobrir que temos um sistema de saúde universal; que uma cirurgia complexa, realizada pelo SUS, não custa nada ao paciente; que um remédio essencial pode ser retirado de graça na Farmácia Popular. Enquanto em outros países pessoas se endividam para não morrer, aqui a vida é prioridade. “Se no meu país existisse algo assim…” já foi repetido milhares de vezes. Pois nós temos. 

Mas essas três décadas e meia mostraram que, se foi difícil criar, mais desafiador tem sido preservar. Sofremos com o negacionismo, o descaso, os cortes orçamentários e a ideologia financeira. O SUS quase sucumbiu durante a crise sanitária, quando a pandemia escancarou o preço brutal da irresponsabilidade e centenas de milhares de pessoas morreram porque alguns preferiram a ideologia, o ódio e o lucro em vez da ciência e da humanidade. 

Parte desse ataque sistemático ao SUS se deu pela articulação entre setores da indústria farmacêutica — grandes laboratórios e associações representativas — e parcelas da direita política, que impulsionaram uma agenda de mercado para a saúde pública. Não é nenhuma lenda urbana que essas empresas fazem lobby intenso para reduzir entraves regulatórios, acelerar a aprovação de medicamentos, flexibilizar a propriedade intelectual e ganhar maior espaço no provisionamento privado. 

Estudos, inclusive, apontam que “a indústria farmacêutica sabe que seu sucesso econômico depende das decisões políticas e realiza toda forma de pressão para influenciar políticas públicas e regulamentações”. Também se documenta que “grandes laboratórios investem em doações para campanhas eleitorais, bancam viagens internacionais para parlamentares e contratam ex-gestores públicos com acesso a informações privilegiadas”.

E isso não vai muito longe. Durante os governos dos ex-presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro, vimos orçamentos contingenciados, políticas de atenção básica enfraquecidas, dispositivos regulatórios revogados ou alterados para favorecer interesses privados, e narrativas para deslegitimar o SUS e exaltarem “soluções privadas”. 

Assim, enquanto muitos defendiam um SUS forte, público e soberano, houve uma ofensiva que buscava reduzir a saúde a mercadoria. Nós vimos a judicialização crescer, os gastos do SUS consumidos por tratamentos de alto custo favorecendo interesses privados, a cadeia produtiva nacional deixada de lado, e uma desconfiança crescente no sistema público, que trouxeram como consequência o enfraquecimento da nossa soberania sanitária, mais vulnerabilidade do sistema e risco para a universalidade.

Mas esses tempos sombrios passaram – tudo passa – e chegou o momento da reconstrução. E, de camarote, assistimos o governo Lula retomar investimentos, fortalecer a atenção básica, ampliar o programa Mais Médicos, recuperar o Farmácia Popular, avançar com o programa Agora Tem Especialistas, e investir no Complexo Econômico-Industrial da Saúde para que vacinas, medicamentos e equipamentos sejam produzidos aqui, gerando empregos e reduzindo dependência externa. 

Os tempos são outros, mas nada impede que o passado se repita. Por isso, enquanto classe trabalhadora brasileira, precisamos reafirmar nosso compromisso inabalável de defender e ampliar o SUS. Somente assim garantiremos a dignidade, a vida e o futuro de todos e todas. Não aceitaremos que a saúde se transforme em mercadoria para poucos ou que as decisões sejam capturadas por interesses dos que lucram com doenças. A indústria farmacêutica desempenha papel importante, sim — mas sob regras que coloquem a vida em primeiro lugar. E quando setores da direita tentam usar crises para empurrar privatizações ou desregulação, nós vamos responder com organização, mobilização, voz e ação.

O SUS nos enche de orgulho porque representa o melhor do Brasil: gente cuidando de gente. A saúde coletiva é a base da nossa liberdade individual, e dela não abriremos mão. O SUS é nosso — e, assim como nos últimos 35 anos, seguiremos defendendo, ampliando e fortalecendo esse patrimônio do povo brasileiro.

Viva o SUS!

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.