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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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Suzy e a seletividade de uma justiça ideológica

Ela está sendo usada como argumento na defesa de princípios distintos, que, apesar de extremos, acabam se encontrando, sem perceber, num mesmo ponto de convergência. O da justiça seletiva e ideológica. Fugiremos para o centro ou para as colinas mesmo?

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O caso do detento “Suzy”, provocou reações diversas. A matéria exibida no “Fantástico”, onde o Dr. Dráuzio Varela mostrava a realidade de detentos transexuais nos presídios do Brasil, motivou uma onda de comoção e de reflexão sobre a solidão de pessoas trans encarceradas. O abraço dado por ele em Rafael Tadeu de Oliveira dos Santos, a “Suzy”, já dividia opiniões, mesmo antes do crime cometido por ele vir à tona. 

Ter estuprado, assassinado e ocultado o cadáver de uma criança de 9 anos de idade, desconstrói qualquer narrativa que atribua ao preconceito sexual, o fato de “Suzy” estar há mais de oito anos presa e sem receber visitas. Ou pelo menos deveria desconstruir. O que ocorre, é que as ideologias, em alguns casos, estão se sobrepondo a razão e à constatação de fatos. Sejam elas de direita, esquerda, centro, perpendicular ou opostas à hipotenusa.

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Crimes começam a ser relativizados, por questões ideológicas e por ativismo de causas. Se pensa como eu, se pertence ao meu gênero, à minha etnia, se comunga da minha ideologia política ou religiosa, se torce pelo mesmo time, se curte o mesmo gênero musical ou se parece comigo, o peso do meu julgamento é mais leve. Inconscientemente, beira à cumplicidade. Seja sob a égide da oportunidade de ressocialização do indivíduo, seja pela aprovação do modus operandi do criminoso.

A extrema direita adora torturadores assassinos e sanguinários. O atual Presidente já ergueu um brinde à memória do General Ustra, notório criminoso dos tempos da ditadura, em pleno Congresso nacional. Não saiu de lá preso, porque somos uma república de bananas. Seus filhos já posaram vestindo camisetas que estampam a imagem do mesmo General assassino e covarde, como se envergassem o fardamento de uma instituição nacional. Sem falar das citações elogiosas feitas por ele, à Pinochet, Stroessner e à organizações paramilitares que atuam no país.

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Estes e seus apoiadores, apontam o dedo para “Suzy” como se ela fosse diferente de seus heróis. O Presidente pediu prisão perpétua para ela. O Ministro da educação desejou que Dráuzio Varela ardesse no inferno, por tê-la abraçado. Ou seja, bandido bom, é bandido que pensa como eu. Por outro lado, boa parte da nossa esquerda, que tem esses ditadores como monstros, o que, de fato, é uma verdade, resolveu vestir a camisa de “Suzy” como uma bandeira do ativismo transexual.

Alegar motivação transfóbica nas críticas feitas ao detento, quase ignorando o crime que ele cometeu, é querer emergir de um mar escuro, usando uma ideologia sem responsabilidade como colete salva vidas. É quase um bolsonarismo reverso. E isto deveria nos assustar. Se fizemos campanha para que nenhum time contratasse o Goleiro Bruno, se não engolimos o sorriso de Guilherme de Pádua como nova criatura em Cristo Jesus, se as saidinhas de Suzane Richtoffenn da prisão nos angustia, como queremos que “Suzy” seja vista com compaixão?

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Não que ela não mereça. E, se merece, só Deus pode saber. Porém, a questão aqui é a lógica do raciocínio. Ou a falta dela. Matar uma criança de 9 anos, com requinte de crueldade, é um crime hediondo. E nesse caso, não importa se quem cometeu o ato, é preto, branco, rico, pobre, de esquerda, de direita, hétero ou transexual. Até porque, é muito raro termos homossexuais, travestis ou transexuais, envolvidos nessa tipificação criminal.

Normalmente, elas são as vítimas de crimes como este. O que boa parte da nossa sociedade cristã, conservadora, tradicional, hipócrita e homofóbica, ignora e relativiza. Porque muitos, na obscuridade de seus pensamentos preconceituosos, entendem que eles escolheram ter esse fim. Condenar o abraço que o Dr. Drauzio Varela deu em “Suzy”, é tirania emocional. Qualquer um tem a liberdade de abraçar a quem quiser. Ainda que o abraçado seja um criminoso como “Suzy”. Tentar associar esse abraço, ao perdão que Jesus Cristo concedeu ao ladrão que estava sendo crucificado ao seu lado, como vi alguns tentando fazer, é desonestidade intelectual.

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Infelizmente, tanto a saga do Jesus Cristo que abraça a todo mundo que comete um crime, quanto à do Deus acima de tudo, que entende que bandido bom, é bandido morto, passaram a ser usadas como pontuação no ethos discursivo ideológico. Cada uma no seu polo e de acordo com a sua conveniência. Isso prova como o excesso de ideologia pode nos fazer perder a razão e o bom senso.

Se “Suzy”, não merece flores, também não precisa receber pedradas. Ela deve apenas cumprir a sua pena integralmente, como punição pelo crime monstruoso que cometeu. A sua solidão no cárcere, é fruto do que ela plantou. A sua ressocialização, se acontecer, será questionada independente do caminho que ela escolher seguir fora da prisão. A verdade, é que a vida de “Suzy” pouco importa para a maioria. Tanto para aquela que promove o seu linchamento, como para aquela que tenta passar pano para ela.

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Ela está sendo usada como argumento na defesa de princípios distintos, que, apesar de extremos, acabam se encontrando, sem perceber, num mesmo ponto de convergência. O da justiça seletiva e ideológica. Fugiremos para o centro ou para as colinas mesmo? 

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