Tarifas americanas e a desafinada coreografia da manipulação financeira global
Vaivém de tarifas alimenta manipulação financeira, exigindo seriedade para estabilizar o palco econômico global
No palco global da economia, onde nações dançam como marionetes movidas por fios invisíveis de políticas comerciais e interesses financeiros, a decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, anunciada em julho de 2025, é mais um ato de um espetáculo calculado. Sob o pretexto de corrigir desequilíbrios comerciais e pressionar o Brasil em razão do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, a Casa Branca, liderada por Donald Trump, puxa os fios que controlam bolsas de valores, moedas e cadeias de suprimento.
O Brasil, com sua economia resiliente e um parceiro comercial robusto como a China, não é apenas uma vítima nesse teatro. Ele pode redirecionar sua dança, ajustando os passos para novos mercados e desafiando a narrativa de que as tarifas americanas são um golpe fatal. Enquanto isso, o vaivém das tarifas, agora intensificado com 35% sobre Canadá e México a partir de 1º de agosto de 2025, cria um intervalo de tempo perfeito para a manipulação artificial das finanças globais, beneficiando especuladores que lucram com o caos orquestrado.
A manipulação de mercado é o ato de distorcer preços de ativos financeiros – ações, moedas, commodities – para gerar lucros em meio à volatilidade. Quando Trump anunciou a tarifa de 50% contra o Brasil, a B3 viu o Ibovespa cair 4,7%, segundo dados da bolsa. O real desvalorizou 2,3% frente ao dólar, conforme o Banco Central.
Esse solavanco não é isolado. Desde fevereiro de 2025, as tarifas “recíprocas” de Trump, que variam de 10% a 49% sobre países como China (34%), Vietnã (46%), Japão (24%) e União Europeia (20%), desencadearam turbulências globais. Em 3 de abril, o S&P 500 despencou 4,8%, o pior dia desde junho de 2020, segundo a Bloomberg. A bolsa de Xangai caiu 3,2%, e o FTSE 100 oscilou.
Em 12 de julho de 2025, a Casa Branca anunciou tarifas de 35% sobre Canadá e México, seus vizinhos e parceiros do USMCA, intensificando a pressão sobre a economia norte-americana integrada, segundo a Reuters. Esses choques criam um palco onde especuladores, munidos de informações privilegiadas, compram ativos desvalorizados e lucram com a recuperação. Essa recuperação frequentemente ocorre após negociações diplomáticas ou pausas táticas, como a extensão do prazo tarifário até 1º de agosto.
O vaivém das tarifas é crucial. A suspensão temporária de tarifas ou prazos esticados, como os 90 dias de negociações com a China em maio de 2025, que reduziram tarifas de 145% para 30%, segundo o Peterson Institute, cria janelas de oportunidade para manipulação. Investidores posicionados vendem a descoberto durante o pânico e compram na baixa, antecipando a estabilização.
Na guerra comercial EUA-China de 2018-2019, fundos de hedge lucraram US$ 12 bilhões com essas oscilações, segundo o Goldman Sachs. Agora, com tarifas de 35% sobre Canadá e México, o Federal Reserve Bank de Atlanta projeta uma contração de 2,8% no PIB americano no primeiro trimestre de 2025. Isso evidencia como o caos beneficia quem sabe dançar entre os fios.
O Brasil, no entanto, não está preso a um roteiro catastrófico. Desde 2009, a China é seu principal parceiro comercial, absorvendo 28% das exportações brasileiras em 2024, segundo o ComexVis. Em contraste, os EUA respondem por apenas 12%, equivalente a 2% do PIB.
Em 2024, o comércio Brasil-China atingiu US$ 188,17 bilhões, com um superávit brasileiro de US$ 44 bilhões, segundo a General Administration of Customs da China. As exportações de soja (76,6% para a China no primeiro trimestre de 2025), petróleo (40%) e carne bovina crescem, especialmente após a China banir 400 frigoríficos americanos.
A tarifa de 50% sobre café (33% do mercado americano), suco de laranja (50%) e carne pode elevar custos, mas o Brasil tem condições de redirecionar exportações para Ásia, Europa e Oriente Médio a médio prazo. A Embraer, com 20% de sua receita atrelada aos EUA, e a Petrobras enfrentam desafios, mas a diversificação comercial, fortalecida pelo BRICS, é um trunfo. No 17º Summit do BRICS, em julho de 2025, no Rio, espera-se avanços em acordos com a China, segundo a Lexology.
As tarifas custam caro. Nos EUA, arrecadaram US$ 108 bilhões em nove meses, mas 49% desse custo recai sobre consumidores americanos, 39% sobre empresas e apenas 12% sobre exportadores, segundo o Goldman Sachs. O Brasil, com a Lei de Reciprocidade Econômica, ameaça retaliar com tarifas sobre bens americanos, como combustíveis e aeronaves.
Lula classificou as justificativas de Trump como “ultrajantes”, mas a resposta brasileira é pragmática: diversificar mercados e contestar as tarifas na OMC. A volatilidade global, com investidores estrangeiros controlando 55,8% do volume financeiro da B3 em 2024, exige vigilância da CVM e da SEC contra manipulações.
Nesse teatro, os fios invisíveis das tarifas criam um balé de incertezas, mas o Brasil pode ajustar seus passos. A manipulação financeira prospera nas pausas e recuos das tarifas, e o mundo precisa cortar esses fios. A OMC, reguladores e nações devem garantir que o palco global não seja dominado por marionetistas que lucram enquanto as economias dançam no caos.
Porém, como toda mágica repetida exaustivamente em um curto espaço de tempo, o truque das tarifas começa a perder seu encanto. Os mercados, calejados por sucessivos anúncios e recuos, aprendem a prever os movimentos do mágico. A volatilidade, antes chocante, torna-se um roteiro esperado, e os lucros dos especuladores podem diminuir à medida que as nações ajustam suas estratégias.
Um choque de seriedade é inadiável. Os protagonistas desse vendaval econômico – governos, reguladores e instituições internacionais – precisam abandonar o espetáculo de ilusões e adotar medidas transparentes e coordenadas. Só assim o palco global deixará de ser um circo de manipulações, permitindo que as nações dancem com soberania e estabilidade.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

