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Washington Araújo

Jornalista, escritor, professor da UnB, tem 17 livros sobre mídia e direitos humanos. Autor do blog de jornalismo e cultura Cidadaodomundo.org

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Teerã, 1817 – Mundo, 2017

Existem datas que não dá para deixar passar batido. Outubro de 2017 é uma destas. Foi há exatos duzentos anos, em 1817, em Teerã, que nasceu Mirzá Husayn Ali, primogênito de um ministro da então opulenta Corte Persa. Caberia a esta criança a formidável missão de realinhar o melhor do sentimento oriental com o melhor do pensamento ocidental. E foi o que ele fez

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Existem datas que não dá para deixar passar batido. Outubro de 2017 é uma destas. Foi há exatos duzentos anos, em 1817, em Teerã, que nasceu Mirzá Husayn Ali, primogênito de um ministro da então opulenta Corte Persa. Caberia e esta criança a formidável missão de realinhar o melhor do sentimento oriental com o melhor do pensamento ocidental. E foi o que ele fez.

Na percepção oriental da vida sempre sobra vasto espaço para a espiritualidade, para trazer dimensão sobre-humana à mera existência material que levamos desde que nos tornamos humanos. É dessa percepção oriental que somos apresentados à milenar arte da meditação, ao uso irrestrito de preces, orações e súplicas, a tratar de entender se a vida termina quando nosso corpo entra em colapso, as moléculas se desintegram, o coração para de funcionar. Ou não. Se a vida que aqui levamos nada mais é que o preâmbulo, o primeiro parágrafo que é escrito no Livro da Vida. Se assim for, tudo alcança um sentido muito maior, uma dimensão muitíssimo mais ampla e prenhe de tremendos significados.

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Na percepção ocidental da vida o espaço para o etéreo, para o que não se põe de pé, é mínimo. Tudo é mensurado pelo tamanho da existência humana, das conquistas que o indivíduo possa ostentar ao fim de sua vida: grau de cultura, títulos acadêmicos, riqueza acumulada, bem-estar físico e emocional assegurado a si e à sua descendência. Para o ocidental mediano, a vida é curta e, portanto, nunca deveria ser pequena. A infância deve ser superprotegida, a juventude alargada ao máximo possível, a maturidade um tempo de colheitas inesgotáveis e a velhice a mais serena, tranquila e, tanto quanto possível, indolor e sem sofrimentos. Como temas espiritualistas e místicos são exilados de sua rotina diária, tudo se resume a duas palavras – o aqui e o agora.

Não poucos foram os místicos, pensadores, filósofos e 'aventureiros em busca de si mesmos' que intuíram como prioridade máxima da existência humana buscar a pedra-de-toque, o traço-de-união entre o que é puro espírito e o que é excelência física e emocional. Mas, a narrativa mais comum foi aquela em que se optou privilegiar uma concepção de vida em detrimento de outra: aquisição de bens e riquezas materiais em detrimento da aquisição de bens e qualidades espirituais; cuidados exagerados com a boa forma física em detrimento de cuidados com o bem-estar moral e espiritual; o corpo em primeiro plano versus o espírito em primeiro plano. Em resumo e grosso modo: ou Oriente ou Ocidente, ou Matéria ou Espírito, ou Existência ou Inexistência.

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É neste estado acelerado de equivocada - e trágica - compreensão da verdadeira natureza do ser humano que, há exatos duzentos anos, Mirzá Husayn Ali, que depois assumiu o título de Bahá'u'lláh, foi portador de uma mensagem de unidade e de coesão completa entre o ser e o existir, entre este mundo físico e material e infindáveis mundos espirituais. Sua mensagem tratou logo de pontuar três unidades essenciais: a unidade de Deus, a unidade do pensamento religioso e a unidade do gênero humano. E o fez com assertividade sobre-humana, com elocução divina, ao se apresentar não como proprietário da mensagem e sim, como o mais recente portador de uma mensagem enviada por Deus.

A propósito, para unir visões tão dicotômicas das realidades física e espiritual, tratou de ensinar que existe uma unidade essencial entre os dois mundos, que um trata da matéria e outro do espírito e que, em seu âmago mesmo, são partes de uma mesma e única unidade. Ele ensinou que, se por um lado, fomos criados para conhecer e adorar a um mesmo Deus, fomos também incumbidos desde o nascimento a levarmos adiante uma civilização em constante evolução. Daí, a percepção certeira de que a verdadeira riqueza que podemos obter em nossa temporada neste plano da existência tem tudo a ver com a forma de como personificamos em nosso dia a dia virtudes divinas, tais como amor, bondade, lealdade, pureza de intenções, desapego, honestidade, veracidade. Neste contexto, o corpo e a matéria são veículos e canais do que é Espírito; uma forma, e não muito mais que isso, de se deixar incendiar pelo que tem gosto de eternidade, que ultrapassa todo tipo de limitações físicas.

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Bahá'u'lláh, como médico competente de um mundo em franco colapso moral e em completa derrocada espiritual, diagnosticou os males que desde há muito tem afligido o corpo da humanidade: a unidade de pensamento e de ação, a unidade toda inclusiva, a unidade sem contraindicações e sem quaisquer efeitos colaterais nocivos.

Para esta unidade ensinou o poder que existe na eliminação das diversas formas de preconceitos e de racismos, fontes que são de tantas e tão ruinosas guerras e conflitos armados, que dizimaram gerações e gerações de seres humanos, que causaram a eclosão de duas hecatombes mundiais – a 1ª. E a 2ª. Guerras mundiais – e que conduziram o mundo à presente situação de completa instabilidade geopolítica, com milhões de refugiados se locomovendo do Oriente para o Ocidente e deste de regresso ao Oriente, em uma eterna dízima periódica, em que a humanidade refaz o viciado jogo do perde-perde, onde não há vencedores e apenas e tão-somente perdedores.

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Defendeu direitos e oportunidade iguais para homens e mulheres. Demonstrou quão estúpidos temos sido em relação às mulheres, relegando-a a um papel secundário e subalterno na tomada de decisões que impactam a vida ordenada das nações e que, em primeira instância fazem sofrer seus entes mais queridos e amados – seus filhos, essa imensa legião de seres humanos que formam a presente e as novas gerações de seres humanos. E foi além: se algum privilégio deve ser concedido a um dos sexos, este deve ser preferencialmente ao sexo feminino, pois a menina de hoje será a primeira educadora da geração futura.

Bahá'u'lláh proclamou em alto e bom som, em suas inspiradas cartas dirigidas às cabeças coroadas das dinastias europeias dos séculos 19 e 20, aos presidentes das emergentes repúblicas da América, e a todos intimando-os a serem justos, leais e corretos com seus súditos, a se reconciliarem em torno da manutenção de uma paz estável e em completa união contra todo pensamento conducente a guerras, calamidades e carnificinas armadas.

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Em mensagens claras e inequívocas dirigidas aos líderes do pensamento religioso de então tanto do judaísmo, cristianismo e do islamismo, ele os convocou poderosamente para o Deus a quem se proclamavam como sendo seus mais diletos representantes e seguidores. Estas missivas tiveram o impacto de portentoso freio de arrumação em uma Ordem Mundial cambaleante e falida, onde as águas vivas do pensamento religioso pareciam terrivelmente conspurcadas por séculos de estéreis teologias, interpretações tacanhas e pueris, e que viram o crescimento de seitas em oposta contradição ao disposto nos livros sagrados da humanidade – a Torah dos judeus, o Evangelho dos cristãos, o Alcorão dos muçulmanos.

Acenando à civilização, então encantada com o Iluminismo, em que a razão bastava-se a si mesma e onde o progresso humano apresentava-se como o início de uma era de paz e progresso humanos jamais antes imaginado, Bahá'u'lláh estabeleceu o conceito todo-abrangente de que religião, ciência e razão devem caminhar juntas, que todas elas se fundamentar apenas na verdade e que a verdade é apenas um ponto, embora os ignorantes em todas as épocas, o tenham multiplicado. Como a prenunciar a falta de madurez humana para lidar com as muitas conquistas científicas, afirmou que ciência sem religião resulta no mais completo materialismo e, de outro lado, religião sem ciência se transmuta em ignorância e superstição. E não será isso o que vemos no mundo atual? Cinco por cento da humanidade desfrutando de todos os bens materiais, riquezas que fariam Faraós do passado corarem de vergonha e, noventa e cinco por cento dos seres humanos sofrendo discriminação racial, epidemias de fome e enfermidades facilmente debeláveis, massas de apátridas vagando nos cinco continentes, e o planeta, como um todo, à mercê de maciços ataques terroristas, com seus recursos naturais à beira da exaustão e do colapso, e novamente enfrentando os temores de uma nova e imprevista hecatombe nuclear, capaz de destruir o inteiro planeta nada menos que uma dezena de vezes.

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A ocorrência nos próximos três meses do bicentenário de nascimento de Mirzá Husayn Ali é uma data que merece ser observada, estudada, analisada e, acima de tudo, celebrada. Em 1817, ele era conhecido apenas em Teerã, na Pérsia, hoje Irã, mas agora, dois séculos passados, é tão claramente manifesta a influência unificadora de sua mensagem que vemos o planeta transformado em uma única unidade, dentro do conceito que ele enunciou de que "a Terra é um só país e os seres humanos seus cidadãos". Daí ser tão assertivo o título deste artigo: Teerã, 1817 - Mundo, 2017.

Isto porque se alguém tem a chave para as dores e angústias que acometem nossa espécie nos dias que correm, esse alguém tem nome, sobrenome e mais de sete milhões de seguidores. Este alguém se chama Bahá'u'lláh. E seus seguidores são simplesmente chamados "bahá´ís".

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