Tempo de Guerra (Warfare) | 2025: Quando a ação imersiva se mostra estéril e alienante
"O novo filme de Alex Garland, co-dirigido por Ray Mendoza, é um grande desperdício"
O novo filme de Alex Garland, co-dirigido por Ray Mendoza, é um grande desperdício.
Do ponto de vista temático e narrativo, o longa aposta em fórmulas já conhecidas do cinema de guerra norte-americano contemporâneo: ação imersiva — sustentada por um desenho de som competente, essencial à proposta — e uma abordagem hiper-realista. A mise-en-scène, apesar de clássica, reforça a tensão com sua fotografia árida, planos fechados que acentuam o encurralamento dos soldados e uma violência gráfica constante.
Essa combinação mergulha a audiência no combate de forma eficaz e, por vezes, assustadora. No entanto, o filme não convida à reflexão. Nada se aprofunda sobre a guerra do Iraque — nem sobre qualquer outro conflito do século XXI. A experiência sensorial é turbinada, mas o pensamento é ignorado. Trata-se de um cinema que impõe a imersão dos sentidos, mas negligencia o significado e a reflexão do que estamos vendo. Espetacular, sim. Mas vazio.
A experiência de Ray Mendoza como ex-combatente (ele, inclusive, tomou parte no combate retratado no filme), explica o realismo impressionante e a coerência narrativa.
Logo na primeira cena, o filme dialoga com Soldado Anônimo (2005), de Sam Mendes. Em ambos, os soldados estão hipnotizados diante de uma tela. Aqui, se entorpecem assistindo a vídeos de mulheres em roupas de ginástica, embaladas por música eletrônica estridente. O corte seguinte é abrupto e, talvez, o momento mais criativo do longa: uma transição brusca nos leva a uma rua silenciosa de Ramadi, em 2006, no auge da resistência iraquiana contra a ocupação americana.
É inegável constatar que o filme impressiona pela forma realista com que filma a rotina militar durante um combate. Tudo soa crível. Não há feitos heroicos, apenas a urgência de sobreviver. O longa retoma arquétipos clássicos do gênero: o comandante que sucumbe à pressão, o novato paralisado pelo medo, o inimigo reduzido a figurações distantes — tanto no quadro quanto na narrativa.
Em pouco mais de 90 minutos, o filme entrega um retrato quase forense do campo de batalha. É eficaz nesse objetivo. Mas evita qualquer questionamento mais profundo — o que é especialmente grave nos tempos atuais. A ética militar é apresentada como moralmente superior, servindo de base para uma idealizada (e cínica) harmonia racial e cultural dentro da tropa, como um referencial para a fragmentada sociedade estadunidense. O resultado é uma obra conservadora e, em certa medida, preconceituosa — especialmente pela forma abjeta como retrata os personagens árabes.
O Grande cinema de guerra é aquele que critica, verdadeiramente, aquilo que esta retratando. Assistam os filmes de Samuel Fuller sobre a guerra, que ele testemunhou como soldado.
Esses equívocos tornam o projeto questionável e esquecível…
Um grande desperdício.
O Filme estreou em circuito nacional na quinta-feira, 17/04/25
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

