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Reimont Otoni

Deputado federal (PT-RJ), vice-líder do PT na Câmara e membro da Comissão de Trabalho

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Tempos difíceis. Aglutinar forças é urgente

Nosso caminho é o da reconstrução. A democracia está pisoteada e ergue as mãos a nós. Precisamos caminhar juntos e juntas. As forças democráticas têm o dever de se aglutinar

Tempos difíceis. Aglutinar forças é urgente
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Por prática, prefiro não citar nomes, embora isso seja muito difícil, porque os retrocessos estão personificados e o vale tudo virou regra para muita gente. Para esses, não é importante o caminho que se faz ou o método que se tem, importante mesmo é alcançar o objetivo; qualquer caminho, qualquer atalho, qualquer performance parecem justificáveis.

Outro dia, no plenário da Câmara Municipal, fui procurado por um colega vereador que quis me preparar para os ataques que me faria. Disse-me que, nos dois anos de seu primeiro mandato, teve que se aproximar de pautas que interessavam aos que o elegeram como as questões trabalhistas, projetos de leis que os beneficiassem, acordos com o prefeito para ficar bem e passar a imagem de que é um parlamentar ativo. "No entanto" - disse-me - "não leve para o lado pessoal, mas vou passar a atacar o seu partido e os partidos de esquerda de maneira contundente, porque ficou claro que há um crescimento do conservadorismo e, assim, vou me colocar nessas pautas mais reacionárias, que me darão mais visibilidade. Não quero" - continuou ele -, "que você leve nada para o lado pessoal. Ao sairmos daquela porta para fora, somos amigos e nos tratamos com respeito."

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Fiquei chocado! Em 10 anos de Parlamento, convivendo com vereadores dos mais diversos pensamentos e posturas, nunca alguém foi tão claro, tão explícito. É como se tivesse me falado: "vou espezinhar você aqui dentro, mas lá fora, vamos à praia juntos, no final de semana."

As expressões "saíram do armário" e "abriu-se a caixa de pandora" ganharam, para mim, significado concreto.

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Um rapaz me disse na rua, ainda ontem, que não tem problema os da periferia ficarem sem atendimento médico, o importante é mandar os médicos cubanos embora. Um ator brasileiro famoso disse que, de fato, a tortura é inadmissível, mas esta é sua única discordância com o presidente eleito. Uma jovem reclamou do Prefeito do Rio, mas admitiu que vota nele de novo, se a disputa em 2020 for a mesma do segundo turno de 2016.

Tenho uma dezena de exemplos assim, são muitas as histórias que ouço de pessoas que imaginava nunca ouvir.

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Vamos tentar refletir sobre o "Mais Médicos". Lembro-me de uma máxima da política tradicional brasileira, pela qual o eleito tem que apagar a história de seu antecessor, de modo particular, se o combate a ele for a sua estratégia de sobrevivência.

Não estou aqui para falar sobre Cuba e, assim, angariar atenção de quem me lê. Prefiro partilhar o relato de uma senhora, Dona Alzira, atendida por um dos médicos cubanos. Disse-me ela: "assim que cheguei e sentei, ele estava me esperando, me pegou pelo pulso, perguntou sobre minha família, quantos filhos, qual era o meu trabalho, se meu marido estava bem e, muito rapidamente, eu tinha um médico conversando comigo. Foi a primeira vez que me consultei com ele. Ele me tocou! Falei sobre alimentação, sobre meu sono, sobre muita coisa que não falava com ninguém... voltei lá algumas vezes e ele está acertando no meu tratamento... minha pressão está bem mais controlada."

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Eu tenho amigos médicos maravilhosos que não são cubanos e que fazem também a mesma coisa. Mas também já fui atendido em emergência de hospital em que um médico usava um aplicativo de seu telefone e por ele me examinou e me prescreveu.

Sei que, na Revolução Cubana, muitos médicos fugiram para Miami e só restaram 10 professores na faculdade de medicina de Cuba, que quase fechou as portas. A partir de então, resolveram enfrentar a crise e organizaram uma medicina científico-popular, que tem dado mostras de ser a mais avançada do mundo, por trabalhar com promoção e prevenção. Formam-se muitos médicos e médicas que vivem nas comunidades ao lado do povo e que não se destacam como donos do saber e das técnicas, mas as administram desde Cuba até outros tantos países, de modo maravilhoso, nas missões além fronteiras, para atender em ambientes de guerras, de catástrofes naturais ou de carência social, humana e profissional. Os médicos cubanos trabalham em 67 países e será mesmo uma pena que deixem o Brasil. Como Dona Alzira, lá do Vale do Jequitinhonha, milhões de brasileiras e brasileiros dirão em breve: quem nos "tocará"?

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Discursos inflamados são proferidos por aí de que os médicos cubanos são explorados e que seu país fica com o dinheiro deles. Não entendem uma coisa básica, que talvez ainda não tenham tido tempo aprender: a Medicina não é profissão para enriquecer quem a exerce, assim como a Política e a Educação também não o são.

Discursos inflamados em nosso Parlamento falam de respeito aos profissionais brasileiros que ficam sem mercado de trabalho. Mas esquecem que as vagas foram oferecidas prioritariamente para médicos brasileiros, formados no Brasil. As vagas não foram preenchidas. Também não entendem outra coisa básica: para a Saúde, não pode haver reserva de mercado. Saúde é direito! Não é mercadoria!

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Muitas são as vozes que se levantam contra a ameaça ao Programa Mais Médicos, dentro e fora do Brasil. A própria Defensoria Pública entrou com uma ação na justiça para manter as regras firmadas com a Organização Panamericana de Saúde, que intermedia os contratos.

Vamos aguardar as próximas cenas. Surpresas e sobressaltos têm sido nossos dias, embora não devêssemos mais nos surpreender com nada. Nosso caminho é o da reconstrução. A democracia está pisoteada e ergue as mãos a nós. Precisamos caminhar juntos e juntas. As forças democráticas têm o dever de se aglutinar.

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