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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Tenho acordado com lágrimas nos olhos

"Tenho acordado, nesses últimos dias, com lágrimas nos olhos. Qualquer coisa me dá vontade de chorar. Não sei o que é. Não é tristeza, é uma dor que ainda não chegou, uma premonição. Hoje aconteceu de novo ao ler a notícia de que 'Roda Viva' volta aos palcos", diz o colunista Alex Solnik. "Apesar de o texto não ser o melhor que a dramaturgia brasileira já produziu, a encenação tinha alguma coisa de mágico. Você saía da peça melhor do que entrou, mais forte, acreditando que nem tudo estava perdido, que era possível mudar o destino"

Tenho acordado com lágrimas nos olhos
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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia Tenho acordado, nesses últimos dias, com lágrimas nos olhos. Qualquer coisa me dá vontade de chorar. Não sei o que é. Não é tristeza, é uma dor que ainda não chegou, uma premonição. Hoje aconteceu de novo ao ler a notícia de que “Roda Viva” volta aos palcos.

   Eu vi a peça aos 18 anos. O Teatro Galpão lotado, muita gente sentada no chão, eu inclusive. Era quase obrigatório assistir. Achei a peça fraca, como, aliás, o próprio Chico Buarque. Tanto que nunca mais tinha deixado encenar. Até agora.

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   Mas, por algum motivo ela mexeu, em 68, com os baixos instintos da extrema-direita da época, encarnada num grupo clandestino formado principalmente por universitários do Mackenzie e policiais à paisana autointitulado CCC-Comando de Caça aos Comunistas.

   Não se sabe exatamente quantos deles invadiram o teatro depois de uma das apresentações. Armados com tacos de beisebol e empunhando socos-ingleses, depredaram o auditório, quebraram cadeiras, cenário, camarins e agrediram covardemente a estrela da peça, Marília Pêra.

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   Não foi a única agressão, essa de São Paulo. Em Porto Alegre os atores foram embarcados de volta a São Paulo antes da estreia, pela polícia.

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   Por que uma peça de texto “fraco” foi tão odiada pelos obscurantistas?

   Porque ela era transformadora, como acontece como algumas peças e filmes, nem sempre obras primas.

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   Apesar de o texto não ser o melhor que a dramaturgia brasileira já produziu, a encenação tinha alguma coisa de mágico. Você saía da peça melhor do que entrou, mais forte, acreditando que nem tudo estava perdido, que era possível mudar o destino.

   Quem entrava no teatro deprimido com a situação de opressão saía disposto a enfrentar as baionetas de peito aberto. Por isso o “Roda Viva” era uma ameaça à ditadura. Era uma peça que exaltava e exalava liberdade e a liberdade é contagiosa.

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   Os teatros foram os nossos abrigos antiaéreos durante a ditadura. Eles nos alimentavam de coragem e de esperança. Nas peças e nos shows musicais encontrávamos energia para ir em frente. Atores, dramaturgos, diretores, compositores e cantores eram nossos líderes e heróis, aos quais peço uma salva de palmas: Ruth Escobar, Augusto Boal, Plínio Marcos, Zé Celso, Cacilda Becker, Valmor Chagas, Flávio Rangel, Raul Cortez, Fernanda Montenegro, Lauro César Muniz, Rubens Corrêa, Chico de Assis, Gilberto Gil, Gianfrancesco Guarnieri, Lima Duarte, Marília Pêra, Caetano Veloso, Edu Lobo, Marieta Severo, Flávio Império, Marilia Medaglia, Jorge Andrade, Braulio Pedroso, Maria Bethânia, Zé Keti, Oduvaldo Viana Filho, Odete Lara, Norma Bengel... e muitos outros.  

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