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Washington Araújo

Mestre em Cinema, psicanalista, jornalista e conferencista, é autor de 19 livros publicados em diversos países. Professor de Comunicação, Sociologia, Geopolítica e Ética, tem mais de duas décadas de experiência na Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal. Especialista em IA, redes sociais e cultura global, atua na reflexão crítica sobre políticas públicas e direitos humanos. Produz o Podcast 1844 no Spotify e edita o site palavrafilmada.com.

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The Sound of Silence reflete a amizade de Art Garfunkel e Sandy Greenberg

Uma amizade que venceu a escuridão ilumina o mundo de 1º a 5 de setembro de 2025, na Cúpula Mundial da Cegueira, o maior encontro global pela inclusão

Art Garfunkel e Sanford “Sandy” Greenberg (Foto: Reprodução/YouTube/Simon & Garfunkel)

Em meio a manchetes de guerras, crises econômicas e tensões globais, uma história de lealdade e transformação oferece um alívio necessário. A canção The Sound of Silence, de Simon & Garfunkel, carrega uma narrativa de amizade que transcende o tempo, conectando-se à Cúpula Mundial da Cegueira, que reunirá milhares em São Paulo, de 1º a 5 de setembro de 2025, para discutir inclusão e superação.

No Brasil, 1,8 milhão de pessoas vivem com cegueira, e 28,6 milhões enfrentam perda de visão. Nesse cenário, a cúpula destaca a luta por acessibilidade. Mas é a história por trás da canção de 1965 que dá alma ao evento, revelando um laço humano que desafia a escuridão.

Na Universidade de Columbia, em 1960, Art Garfunkel, com sua voz etérea, avistou Sanford “Sandy” Greenberg, um calouro de Buffalo, durante a orientação. Um “oi” despretensioso uniu-os. Apaixonados por poesia, música folk e debates sobre Dostoiévski, tornaram-se inseparáveis, dividindo um quarto apertado no dormitório Hartley.

Sentados sob a luz fraca de uma luminária, selaram um pacto: “Se você precisar de mim, estarei lá, não importa o quê.” Greenberg, de família humilde, sonhava com um futuro grandioso. Garfunkel, já esboçando canções, via nele um espírito indomável. A promessa seria testada cedo.

No terceiro ano, Greenberg assistia a um jogo de beisebol quando sua visão embaçou. Médicos prometeram recuperação, mas o glaucoma destruiu seus nervos ópticos. A escuridão o engoliu. Depressivo, ele trancou a faculdade, isolando-se em Buffalo, onde sua família, sem recursos, pouco podia fazer.

Garfunkel não aceitou o silêncio do amigo. Viajava regularmente de Nova York a Buffalo, carregando livros e esperança. Lia em voz alta, de Platão a Hemingway, com uma paciência que Greenberg descreveria como “quase sagrada”. Convenceu-o a voltar à Columbia, prometendo ser seus olhos.

De volta ao campus, Art ajustou sua vida. Caminhava com Sandy, descrevendo o brilho das folhas outonais ou o caos das ruas de Manhattan. Preenchia formulários, tratava arranhões de tropeços e se autodenominava “Escuridão”, um apelido que misturava humor e empatia, como se dissesse: “Estamos juntos nessa.”

Um dia, na Grand Central Station, Art armou um plano ousado. Anunciou uma “tarefa urgente” e fingiu deixar Greenberg na multidão. Sandy, apavorado, enfrentou sons e colisões até chegar à universidade. Lá, esbarrou em Art, que o seguira em segredo. “Você pode fazer isso”, disse Garfunkel, reacendendo a confiança de Greenberg.

A amizade floresceu além da tragédia. Em 1963, Greenberg casou-se com Sue, sua namorada de infância, com Garfunkel como padrinho, brindando com lágrimas e risadas. Quando Art, agora parceiro de Paul Simon, precisou de US$ 400 para gravar um álbum, Sandy, com apenas US$ 404, doou tudo sem hesitar.

O álbum Wednesday Morning, 3 AM foi um fiasco inicial, mas The Sound of Silence emergiu como hino global. Escrita por Simon, a canção carregava a alma de Garfunkel, com “Olá, escuridão, meu velho amigo” refletindo sua empatia por Greenberg. Em 2012, a Biblioteca do Congresso reconheceu seu impacto cultural.

Greenberg transformou a cegueira em missão. Inventou um dispositivo que acelerava a leitura em áudio para cegos, fundou empresas e aconselhou presidentes como Johnson, Ford e Carter. Recusando bengalas, declarou: “Não sou ‘o cara cego’. Sou Sandy Greenberg.” Seu Prêmio Greenberg, de US$ 3 milhões, impulsiona a busca pela cura da cegueira.

Para Garfunkel, Sandy é “o padrão ouro de decência”. “Ele me fez um homem melhor”, confessou Art, que ainda guarda fotos do casamento de Sandy como tesouro.

Essa história tem tudo a ver com a Cúpula Mundial da Cegueira, no Anhembi Convention Center, em São Paulo. O evento reúne 190 países, com Congresso Técnico-Científico, Feira de Tecnologia Assistiva e jantar no Hotel Unique.

No Brasil, onde a inclusão é desafio, deve-se dar destaque a iniciativas como coletivos que guiam deficientes visuais em aventuras urbanas, promovendo autonomia.

Greenberg inspira os debates sobre resiliência e acessibilidade. A cúpula reforça: a visão limitada não limita vidas. The Sound of Silence ressoa como um hino de empatia, unindo a amizade de dois jovens à luta global.

Em São Paulo, o evento celebra a força coletiva. Da escuridão de Greenberg à luz de um movimento, a canção e a cúpula provam: a solidariedade transforma silêncios em esperança.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.