Thiago, Thiaguinho querido

Thiago, Thiaguinho querido! Nós te matamos, de forma fria e brutal!

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Você vinha com teu amigo na moto dele, quando nossos policiais, aqueles que nós contratamos, que nós empregamos para nos defender de roubos, de ladrões, de defender a nossa propriedade privada, a nossa polícia disparou sobre vocês. E quando você caiu no chão, dispararam sobre você caído, indefeso.

Posso imaginar teus olhos, apavorados, diante daqueles malta de policiais e seus armamentos, disparando sobre você.

Nós tiramos a tua vida, Thiago, Thiaguinho querido. De forma miserável, covarde, canalha.

Você não vai mais passear de moto com teu amigo. Não vai mais jogar futebol com teus amigos. Não vai mais ser acordado pela tua mãe toda manhã, para te dar café com pão, carinhosamente, toda manhã, enquanto ela separa tua roupa limpa e passada, para você ir à escola.

Nunca mais tuas professoras vão te esperar, te dar bom dia. Nunca mais teus colegas vão estar com você na sala de aula, no recreio, brincando e zoando no recreio e na saída da escola.

Nunca mais você nos verá passando de carro, com os vidros fechados, correndo, na frente da tua escola. Nunca mais nós te veremos com teus amigos, saindo da escola, jogando bola na rua, no meio de tantos moleques, que não sabem quanto tempo viverão.

Nós te matamos, Thiago, Thiaguinho querido. Alguns de nós chegamos pelo te fizemos. Outros tantos não se dão conta do que tem a ver com tua morte.

Quantos de nós soubemos da tua morte no meio de tantas notícias na TV, no rádio, no jornal. Como mais um, um entre tantos outros Tiaguinhos mortos pela polícia, aumentando as estatísticas, ao lado de outras tantas notícias.

Você já não está entre nós, Thiago,Thiaguinho querido. Não te deixamos seguir vivendo. Nossa polícia, que nós financiamos, nas suas fardas, nas suas armas, entre aquelas que tiraram tua vida e de tantos outros Tiaguinhos. A polícia que nós treinamos para atacar jovens como você e seus amigos.

Uma vida a menos, um Thiaguinho a menos. A vida que segue, com tua mãe sem você, com teu pai sem você, com teus irmãos sem você, com teus amigos sem você.

Você nasceu há 13 anos. Viveu 13 anos de menino pobre, discriminado, vítima das desigualdades no País mais desigual do continente mais desigual do mundo. Seguiremos vivendo, protegidos pela polícia que te matou. Convivendo com outros Tiaguinhos, que ainda sobrevivem.

Não sei se teremos ainda mais lágrimas para chorar a outros Thiaguinhos.

Nós te matamos, Thiago, Thiaguinho querido. Não temos nada a te dizer, a dizer à tua mãe, aos teus amigos, aos outros Tiaguinhos como você.