TikTok nos EUA: pimenta nos olhos dos outros é refresco
Washington usa o TikTok como bode expiatório enquanto protege os interesses das big techs norte-americanas
O governo Trump e a China costuram um acordo para que uma empresa dos Estados Unidos assuma o controle da operação do TikTok em solo norte-americano. O motivo alegado pelos norte-americanos, você poderia imaginar, seria o risco de monopólio de uma empresa chinesa em um setor da economia. Mas é claro que não se trata disso. Apesar dos 170 milhões de usuários nas terras do Pateta, o TikTok está longe de representar ameaça real às demais redes sociais de empresas norte-americanas.
Você então poderia supor que a pressão do governo dos Estados Unidos para que os chineses vendam sua operação nas terras do Pateta tenha a ver com a disseminação, nessas redes, de discursos de ódio e fake news. Também não é o caso. Pois o que vale para o TikTok por lá vale igualmente para o X, para o Facebook e para o Instagram.
O argumento mobilizado para banir o TikTok dos Estados Unidos – ou para forçar sua venda a uma empresa não chinesa –, vejam só, se ancora na preocupação com a segurança nacional e no risco de o governo chinês acessar os dados dos usuários norte-americanos. Ora bolas, isso é ou não é uma forma de regulamentação das redes sociais? É ou não é a indicação de que o governo dos Estados Unidos, por meio das empresas com sede em seus limites, já tem acesso aos dados de usuários mundo afora, inclusive aqui no Brasil? É ou não é a confirmação de que é preciso normatizar a atuação dessas empresas de acordo com a legislação de cada país em que operam?
Mas o que vale para os norte-americanos eles não querem que valha para os demais países. Assim, ganha força a ideia de Yanis Varoufakis de que vivemos sob um tecnofeudalismo e fica mais do que provado que os Estados Unidos buscam se afirmar como o grande senhor global. Porque não custa recordar: um dos argumentos (mais um dos falsos argumentos) utilizados pelo governo Trump para impor o tarifaço contra produtos brasileiros foi justamente o fato de decisões judiciais do Supremo Tribunal Federal contrariarem interesses de empresas norte-americanas de tecnologia, exigindo que elas tivessem representantes no Brasil e cumprissem as leis nacionais.
Este acordo de venda, que deve ser selado nesta semana entre os governos chinês e norte-americano, com a transferência da operação norte-americana do TikTok para uma empresa dos EUA, precisa servir de exemplo e de combustível para avançarmos na regulamentação das redes por aqui. Pois nisso, ao menos nisso, concordo com os senhores da terra do Pateta: trata-se de uma questão de segurança nacional – ou melhor, de segurança global – não ficarmos reféns dos algoritmos das big techs, que têm lado e ideologia na ponta dos dedos de quem as comanda.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




