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Tiririca e Reguffe: quem debocha do povo?

Os dois deputados tem muito mais coisas em comum do que podem imaginar os eleitores simples de São Paulo ou os endinheirados moradores das hollywoodianas mansões de Brasília

Os dois deputados tem muito mais coisas em comum do que podem imaginar os eleitores simples de São Paulo ou os endinheirados moradores das hollywoodianas mansões de Brasília (Foto: JOÃO TAVARES)
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Há uma interessante discussão sendo travada nas redes sociais. O Deputado Tiririca debocha dos eleitores em sua forma irreverente de fazer campanha ou ele tem o direito inalienável de pedir votos como quiser? Para quem ainda não viu, o ex-palhaço fez uma paródia do cantor Roberto Carlos, mostrou os podres de uma Brasília (automóvel) e gravou um 'funk ostentação' ao lado de duas dançarinas em trajes sumários. Nesse clip ele canta "trabalhei duro o tempo todo, não faltei em votação, fiz projetos para o povo, na cultura e educação".

Tiririca foi o Deputado mais votado do país. Em Brasília, outro campeão de votos, Antônio Reguffe, não usa do histrionismo do seu colega paulista mas, posando de sério, abusa das meias verdades para confundir o eleitor com proposições que na maior parte das vezes extrapolam as possibilidades de um parlamentar realizar, isso quando essas propostas não resvalam nos próprios limites das prerrogativas constitucionais do Poder Legislativo. O funk do Tiririca bem que poderia ser o jingle de campanha de Reguffe que ninguém acharia estranho.

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Reguffe faz crer que mudar a Constituição depende apenas de um gesto de abnegação individual e não da necessária e exaustiva discussão entre os pares para uma posterior aprovação de três quintos da Câmara e do Senado em dois turnos de votação. Tiririca pelo menos confessa que não sabe 'o que um deputado faz'. Será que Reguffe também não sabe ou prefere se fazer de ignorante para vender terrenos na lua?

Cada um, ao seu modo, diz: 'fiz a minha parte'. Se Tiririca não implantou um circo em cada esquina do país e Reguffe não conseguiu convencer seus pares a economizar dois tostões para salvar um orçamento de bilhões de reais a culpa será sempre dos outros. Ao eleitor 'abestado' sobra o riso diante das peripécias do palhaço e o semblante cético diante dos compromissos de um candidato ao Senado que repete chavões do tipo 'a maioria dos políticos fica com os governos, eu fico com o povo'.

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Tiririca, semi-analfabeto, penetrou no mundo das elites e conquistou um mandato parlamentar. Não brinca de doutor nem quer ser chamado de excelência. Reguffe - elite até a medula, neto, filho e sobrinho de político - esconde a árvore genealógica, carrega no sotaque carioca, franze a testa e aperta os olhos para encarar as câmeras e entrar dentro dos lares mais humildes sem precisar sujar os sapatos com a terra vermelha de Brasília, nem amassar a roupa engomada com os abraços suados do povo que mora distante do Plano Piloto.

Os dois Deputados tem muito mais coisas em comum do que podem imaginar os eleitores simples de São Paulo ou os endinheirados moradores das hollywoodianas mansões de Brasília. Eles não faltam a uma única sessão, não aprovam projetos e são ignorados nas grandes questões nacionais. Possuem também uma habilidade extraordinária em manejar técnicas publicitárias de autopromoção.

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Quando se questiona os limites que possam ser estabelecidos na propaganda eleitoral os direitos individuais, a liberdade de informação e a proibição de todo tipo de censura são princípios inalienáveis. Mas como fica o cidadão diante da propaganda enganosa, da falsa promessa e do engodo eleitoral? Que fazer diante de um candidato que deseduca ao sofismar que num sistema representativo, pluripartidário, vale mais a boa vontade individual que o debate de idéias? Que dizer diante de um homem público que se afasta da busca, no convencimento e no voto, de maiorias políticas construídas pela persuasão e pelo embate político?

Muitos consideram a campanha de Tiririca um deboche. Outros tantos avaliam a campanha de Reguffe como coisa séria. Questão de estilo. Tiririca procura ser o mesmo - um palhaço - para romper preconceitos e ser aceito como um igual em deveres e direitos. Reguffe afirma ser diferente - única vestal - e torna-se a caricatura de si mesmo ao renegar o prato que lhe enche a barriga. Da indumentária circense a um Armani bem cortado perguntas ficam no ar. Qual traje veste melhor um embuste? Quem presta um melhor serviço à democracia? Quem debocha mais do povo: o que brinca publicamente com coisas sérias ou o que faz da seriedade uma mercadoria para não sair da brincadeira?

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