Tornozeleira e gosto de jabuticaba
Trump e Bolsonaro simbolizam o fracasso ético das urnas
É, sem dúvida, uma tragédia o fato de que, nas democracias modernas, a população frequentemente escolha, como dirigentes, os piores nomes de suas listas. No século XX, já tivemos Hitler e Mussolini, dois grandes responsáveis pelos massacres da II Grande Guerra. Agora, nos vemos diante de Donald Trump (um inculpado que não se colocou na prisão) e Jair Bolsonaro, mescla de autoritário e cafajeste que exerceu mandato e se acha perto da condenação, com tornozeleira na canela. Trata-se de anomalia completa para reflexão de cientistas sociais, com vistas a melhorias em nossos sistemas de consulta. Entre nós, felizmente, contamos com Luiz Inácio Lula da Silva, dotado de inteligência e habilidade para exercer as mais altas funções e impedir, com sua simples presença, a ascensão de arrivistas perigosos.
Na comparação com Bolsonaro, nosso líder sindical o deixa para trás com vários corpos de vantagem. Enquanto um carrega o traço dos malfeitos que aprontou, o Presidente desfruta das jabuticabas nos jardins palacianos, preparado para ir além do simbolismo e se valer do gesto como mensagem política. Trump ficará com água na boca, sem dispor de um recurso daquela natureza para lhe retirar o fel que, desde a posse, lhe contamina as decisões. Bolsonaro, numa de suas últimas entrevistas, não pôde deixar de comentar o evento, destilando inveja. Ignorante como é, quis emitir lições de comportamento no que vê como principal adversário, corrigindo-o (!) no português. “É chupar e não comer jabuticaba”, disse ele. Desta feita, pretendeu simular educação e se esqueceu dos palavrões, detendo-se no capítulo das frutas e sua degustação.
Ao contrário dos Estados Unidos, contamos com uma legislação que se mantém em alerta para prevenir os infortúnios da picaretagem e do oportunismo. Na Casa Branca, não. Devem suportar, até o extremo limite, as agruras de um despreparado para funcionar como Primeiro Mandatário. Estratégias para se dar bem, no seu caso, parecem cristalinas. Joga um escândalo contra outro como forma de sufocá-lo. Quanto às denúncias de pedofilia que o vinculam a Epstein, levanta relatórios de espionagem dos órgãos de segurança para comprometer antecessores (Barack Obama e Hillary Clinton), envolvendo manobras nas eleições. Ambos os exemplos soam como pérolas na lama que cerca os nossos sistemas democráticos. Claro que não podemos esquecer da máxima sempre repetida: a democracia representa a pior das formas de governo, melhor do que todas as outras.
Diante do que se passa no momento em termos de justiça em território nacional, não há como não reconhecer que as leis, uma vez bem escolhidas, dão conta do recado. Recorde-se que o inelegível ocupou o Palácio do Planalto em circunstâncias específicas, na esteira de um golpe contra Dilma Rousseff, com as arbitrariedades de um juiz corrupto (o tal do Moro) para assegurar o vazio de quadros. O fim da nossa indústria da construção civil estava na linha de fogo, com a participação da CIA. Ainda carregamos na alma o peso do ocorrido. Mas golpes, não. É preciso esconjurá-los.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

