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Celso Raeder

Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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Trabalho e chicote no lombo

Se vivo fosse, Getúlio Vargas seguiria o caminho inverso, decretando mais medidas de proteção ao trabalhador. Empregos surgem quando existe mercado de consumo

Bras�lia - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles anuncia durante entrevista a imprensa, o novo presidente do Banco Central, o economista Ilan Goldfajn (Jos� Cruz/Ag�ncia Brasil) (Foto: Celso Raeder)
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Peço desculpas aos meus poucos leitores, mas não consigo chamar Michel Temer de presidente. Seja interino ou efetivo, para mim será apenas um Michel Temer. Bem, feita essa ressalva, vamos ao que interessa. E o assunto agora é desemprego. Segundo as últimas informações divulgadas pelo IBGE, 11,4 milhões de pessoas estão fora do mercado de trabalho. Aí eu pergunto: a culpa é da Dilma? É da política econômica mascarada pelas pedaladas fiscais que acabaram justificando o afastamento da presidente? É isso que a turma do Movimento Brasil Livre e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, querem que vocês e os torcedores do Ibis acreditem. Mas isso é tão falso quanto uma nota de três reais.

A linha crescente no gráfico do desemprego coincide com o início do desmonte do Estado Brasileiro, inaugurado por Fernando Collor e sacramentado nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Em nome da competitividade, da agilidade dos processos e da atração de investimentos externos, o governo tucano promoveu a deterioração das condições de trabalho, jogando milhões de brasileiros na informalidade. Mas não vou ficar aqui fazendo jogo de empurra. Deixo isso para a Miriam Leitão, que dá a devida importância a estas agências de classificação de risco, e que para mim não passam de bancas de especuladores mafiosos, em busca de dinheiro fácil pelo mundo. Eu quero é rosetar!

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Então, a pergunta que faço é a seguinte: onde estão esses 11,4 milhões de empregos que desapareceram? Eu sei que muita gente quebrou, comércios fecharam as portas, os estoques industriais estão abarrotados, o dinheiro saiu de circulação, etc, etc. Mas nada disso guarda relação, por exemplo, com a extinção de empregos de milhares de cobradores de ônibus, cujos patrões transferiram para os motoristas a dupla função, sem incorporação de salários. O Brasil tem uma frota de meio milhão de ônibus urbanos circulando, muitos deles já sem a presença do cobrador. Só aí se foram uns 100 mil empregos. E aquele pessoal que trabalhava nas cabines de estacionamento dos shoppings, onde foram parar? Se juntar com os bilheteiros dos cinemas, dá um monte de gente trocada por máquinas que te lembram de não esquecer o cinto de segurança. Não estou aqui defendendo a volta à Idade das Cavernas. Só estou dando exemplos de que a tecnologia se alia a um modelo econômico dominado por empresários que não gostam mesmo de pagar salários. Pode acreditar: tudo o que seu patrão sonha é com o dia em que não vai mais precisar de você.

Querem outro exemplo de que a crise econômica não é a maior responsável pelo desemprego de quase 12 milhões de brasileiros? Quebrem os monopólios. Na minha área de atuação, por exemplo, apenas doze famílias controlam com mãos de ferro os meios de comunicação de massa no Brasil. Como pode, em pleno século 21, o brasileiro ter apenas meia dúzia de canais para escolher na TV aberta? Deveríamos ter mais de 30, tomando-se o cuidado de não deixa-las cair nas garras desses telepastores, que fazem da televisão o seu templo de fé e arrecadação. Monopólio é concentração de riqueza e poder. Quantos projetos bacanas existem por aí, que mereciam parte dos recursos públicos que vão direto para os cofres da Globo, do SBT e da Record?

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Todo o discurso do ministro Henrique Meirelles em favor da retomada do crescimento é bullshit. Investidores internacionais estão se lixando para geração de empregos. O interesse dessa gente é apenas na manutenção de uma faixa de consumo para seus produtos, que vai das classes A a C. O resto, meus amigos, que morra. Daí o desprezo já manifestado com relação às políticas sociais implantadas nos últimos 15 anos.

Nessa semana, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro divulgou seu plano estratégico para o próximo decênio, que tem como eixo central "flexibilizar" direitos trabalhistas. Todos os sinais emitidos até agora, pela equipe econômica do governo, indicam que os empresários não precisarão de muito esforço para alcançar este objetivo. Como se já não bastassem os bilhões de reais concedidos a título de renúncia fiscal pelo governo do PMDB de Sérgio Cabral/Pezão, agora querem aumentar ainda mais seus faturamentos, precarizando a mão de obra do trabalhador fluminense.

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Se vivo fosse, Getúlio Vargas seguiria o caminho inverso, decretando mais medidas de proteção ao trabalhador. Empregos surgem quando existe mercado de consumo. E, para isso, é preciso que as pessoas tenham dinheiro no bolso. O que o ministro Henrique Meirelles quer, em perfeita sinergia com o pensamento da elite exploradora brasileira, é tornar o Brasil competitivo pela equivalência do modelo de exploração da mão de obra chinesa. Vamos produzir para os consumidores dos países ricos. E não teremos dinheiro para comprar o que nossas mãos realizaram. Ao que parece, a cultura escravagista do trabalho e chicote no lombo ainda é muito viva em nossa República.

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