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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Trapalhada de Janot pode beneficiar Temer

Na verdade, por ingenuidade, burrice ou má fé, Rodrigo Janot deu de bandeja para Temer e Aécio o argumento que eles precisavam para pedir a anulação das delações dos irmãos Batista. Talvez pela obsessão por holofotes, mesmo problema do juiz Sergio Moro, o Procurador Geral da República apressou-se em falar em anulação do acordo de delação premiada sem examinar melhor a questão e seus efeitos

Janot (Foto: Ribamar Fonseca)
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A entrevista do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para anunciar com estardalhaço o que seria uma nova “bomba” da JBS, foi um verdadeiro desastre para ele e para o seu suposto objetivo de afastar Temer da Presidência da República. De imediato provocou dois efeitos: colocou os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal sob suspeita de envolvimento com tramoias dos irmãos Batista e abriu, para Michel Temer, a possibilidade de safar-se mais uma vez das acusações de corrupção e permanecer no Palácio do Planalto. A “bomba”, mesmo, que provocou um terremoto no Judiciário e no Ministério Público e cujos efeitos benéficos foram sentidos na China, onde Temer esboçou um sorriso de satisfação, não foi a gravação do diálogo entre Joesley Batista e o ex-diretor Ricardo Saud, que o procurador considerou “gravíssima”, mas o anuncio da possível anulação do acordo de delação premiada feito com eles, por terem omitido informações. Deputados da base aliada comemoraram a fala de Janot e os advogados de Temer e Aécio, os dois principais acusados na delação do dono da JBS, imediatamente aventaram a possibilidade de pedir a anulação das acusações.

Na verdade, por ingenuidade, burrice ou má fé, Rodrigo Janot deu de bandeja para Temer e Aécio o argumento que eles precisavam para pedir a anulação das delações dos irmãos Batista. Talvez pela obsessão por holofotes, mesmo problema do juiz Sergio Moro, o Procurador Geral da República apressou-se em falar em anulação do acordo de delação premiada sem examinar melhor a questão e seus efeitos. Primeiro, não há nenhuma razão para anular o acordo, porque Joesley não mentiu, mas sim omitiu informações que, no entanto, não alteram nada do que foi dito na delação. As novas informações, na pior das hipóteses podem, apenas, agravar as acusações. Segundo, a gravação de quatro horas não contém nada além de uma conversa entre Joesley e seu ex-diretor Saud, sem nenhuma fala de qualquer outra pessoa. Até onde se sabe o que contém a gravação são comentários de dois sujeitos que, numa estranha conversa, citam nomes de políticos e ministros do Supremo em atitudes suspeitas. O estardalhaço, portanto, ficou por conta de Janot.

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Prova disso é que a JBS, através de nota, disse que houve precipitação do Procurador Geral da República em dar publicidade à gravação. Diz a nota que “a interpretação precipitada dada ao material entregue pelos próprios executivos à Procuradoria Geral da República será rapidamente esclarecida, assim que a gravação for melhor examinada”. E acrescenta: “Conforme declarou a própria PGR, em nota oficial, o diálogo em questão é composto de "meras elucubrações, sem qualquer respaldo fático". Ou seja, apenas cogitações de hipóteses — não houve uma palavra sequer a comprometer autoridades”. Na opinião do procurador, porém, os áudios são “gravíssimos”, com “referências indevidas” à PGR e ao Supremo Tribunal Federal, inclusive contendo indícios de conduta criminosa atribuída ao ex-procurador Marcelo Muller. Embora o ministro Edson Fachin tenha levantado o sigilo dos áudios, até agora não se sabe exatamente o que disseram sobre os ministros do STF, quem são eles, etc. Se realmente existiu, essa parte do diálogo não foi divulgada, o que deixa Janot muito mal no Supremo, obrigando a sua presidenta, ministra Carmen Lucia, a determinar rigorosa investigação pela Policia Federal, a fim de salvar a honorabilidade dos magistrados.

Existe um outro aspecto que precisa ser analisado, questionado e esclarecido: qual o objetivo de Joesley ao gravar uma conversa entre amigos, onde eles sabiam que estavam sendo gravados? Não foi uma gravação clandestina, que flagrasse alguma coisa, mas uma novelinha com roteiro e tudo. Por que ele entregou essa gravação à Procuradoria Geral da República, como se fosse uma bomba? E por que Janot fez tanto estardalhaço, criando um clima de suspeita sobre o Supremo? Tem-se a impressão de que tudo isso não passou de uma grande encenação que, por mais paradoxal que possa parecer, aparentemente teria o objetivo de abrir uma brecha para salvar Temer. Por alguma razão que todos desconhecem, Janot vem cozinhando a tal bombástica segunda denúncia, adiada seguidamente, embora anunciada como o tiro de misericórdia no mandato de Temer. Na sua entrevista o Procurador parece ter dado um alerta quando disse que tinha medo de algo, não necessariamente de decepcionar a instituição. A armação, porém, acabou produzindo um resultado contrário ao que provavelmente ele esperava, pois fez surgir suspeitas sobre o seu próprio envolvimento com o ex-procurador Marcello Muller na produção da delação de Joesley. Ou seja, Janot deu um enorme tiro no pé e pode ter dado a Temer a tábua de salvação.

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O mandato dele como PGR expira dentro de dez dias, mas ele não disse quando pretende fazer a segunda denúncia contra o presidente golpista. Para tentar de alguma forma amenizar a decepção da sociedade e satisfazer a expectativa da população, no entanto, decidiu copiar Deltan Dallagnol e fazer um novo power point com uma denúncia contra Lula, Dilma e a cúpula do PT, garantindo manchete do jornal “O Globo”. Janot acusou Lula de ser o chefão de uma organização criminosa, baseado apenas numa declaração de Marcelo Odebrecht, sem qualquer prova, que disse “acreditar” que o ex-presidente operário sabia de tudo. Ilações e suposições. O jornalão carioca, que até hoje não deu uma linha sobre a vitoriosa caravana de Lula, aproveitou a oportunidade para, no seu já conhecido estilo antiprofissional, produzir uma capa destinada a enganar os leitores com uma enorme foto, sem nenhuma relação com a manchete, das malas e caixas de dinheiro de Geddel Lima apreendidas pela Policia Federal. Enquanto pede ao Supremo uma grande pena de prisão para Lula, Janot silencia sobre esse dinheirão. E Geddel, confortavelmente instalado em seu apartamento de luxo em salvador e sem tornezeleira eletrônica, deve estar rindo das trapalhadas de Janot que, agora sob suspeita e criticado por todos, deixará a PGR de maneira melancólica.

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