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Ricardo Nêggo Tom

Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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Trazei todos os dízimos à casa do senhor Sóstenes Cavalcante

O flat caiu para o ungido de Silas Malafaia no Congresso Nacional

Sóstenes Cavalcante (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Os roteiristas da história política deste país não nos deixam morrer de tédio. Mal comemoramos a cassação de Alexandre Ramagem e de Eduardo Bolsonaro, e o capítulo seguinte da novela da política nossa de cada dia nos brinda com mais uma ação da PF e com mais bolsonaristas entrando pelo cano. Ou seria saindo? O fato é que, de cima dos galhos fracos de uma árvore qualquer, acabam de despencar dois deputados federais da linha de frente do bolsonarismo: Carlos Jordy e Sóstenes Cavalcante. O segundo, pastor evangélico e homem de confiança do também pastor Silas Malafaia, que já declarou que Sóstenes é os seus olhos na Câmara dos Deputados, em Brasília.

A julgar pela desesperada reação do estridente empresário da fé ao saber da operação contra o seu profeta parlamentar, podemos dizer que os olhos do pastor foram atingidos por um dos galhos da Operação Galho Fraco, deflagrada nesta sexta-feira. Malafaia, muito mais inspirado pelo “pai da mentira” do que nunca, deu a seguinte declaração: “Isso é mais uma prova de que estamos a caminho da Venezuela. Querem calar todo mundo que se levanta contra Alexandre de Moraes e o governo Lula. Eles querem calar. Gente, que país é esse?! O líder do maior partido da oposição. Inventam uma operação para tentar pescar coisa para ver se incriminam o cara. Porque Sóstenes tem sido um gigante. Tem batido duro no Alexandre de Moraes e no governo”.

O curioso é que Malafaia não apresentou uma explicação para os R$ 430 mil em espécie encontrados no flat do seu deputado malvado favorito, após dizer que as acusações contra o seu ungido são inventadas. Pode ser que a inspiração diabólica que lhe é peculiar tenha faltado, ou ele não quis mesmo tentar explicar a origem do montante encontrado em um flat alugado por Sóstenes Cavalcante, numa área central de Brasília (DF). Será que a PF “plantou” todo esse dinheiro no apartamento onde Sóstenes estava, a mando de Alexandre de Moraes e do governo Lula? Ou será que os fiéis erraram o caminho da igreja e foram depositar o dízimo diretamente na casa do senhor Cavalcante? Ou será que estamos diante do milagre da multiplicação das notas de cem reais?

Nem Malafaia nem Sóstenes deveriam se preocupar em dar explicações à igreja sobre a origem da grana encontrada, porque sabem que suas ovelhas religiosas são adestradas e obedecem cegamente a seus comandos. Para os demais cidadãos brasileiros que, graças a Deus, não estão sob o cajado opressor dos indecentes pastores, nem imersos na cegueira religiosa e no engano do evangelho pregado por ambos e que afeta a cognição de seus fiéis, eles devem muitas explicações. Eu digo “eles” porque Sóstenes Cavalcante é Silas Malafaia na Câmara dos Deputados, e tudo o que o primeiro faz tem a ciência e a anuência do segundo. Esses R$ 430 mil desviados de cotas parlamentares e encontrados em endereço “neutro” não pertencem apenas ao deputado do PL. E nem precisa revelação profética para entender o que está sendo dito. Até porque eu não escrevo em línguas estranhas.

Em declaração à imprensa, Sóstenes Cavalcante disse que a vultuosa quantia é oriunda da venda de um imóvel de sua propriedade, que foi pago à vista e em dinheiro vivo. Ô, glória! Ele jura em nome de Jesus que o dinheiro é de procedência lícita e que a busca e apreensão contra ele é um ataque aos “conservadores” e tem a finalidade de desviar o foco das acusações contra o filho do presidente Lula por suposto envolvimento no roubo dos aposentados do INSS e do contrato milionário que a esposa do ministro Alexandre de Moraes tem com o Banco Master. À Polícia Federal cabe apurar a informação sobre a venda do imóvel, a identificação do seu comprador, a origem do dinheiro utilizado na transação e tornar públicas tais apurações. Afinal, não é qualquer um que compra um imóvel de R$ 430 mil com dinheiro vivo. A não ser que seja da família Bolsonaro.

De uma coisa Malafaia tem razão: Sóstenes tem sido um gigante. Seja na arte de mentir em seu nome, seja na capacidade de enganar seus fiéis eleitores com sua postura impositiva, que precisa se sobrepor aos rasos e risíveis argumentos que ele costuma apresentar, como na explicação para o dinheiro encontrado no flat onde estava hospedado. Eu só queria lembrar-vos — embora eles devessem saber disso melhor do que eu — que até mesmo os gigantes podem ser derrubados com uma simples pedrada. Basta o atirador ter boa pontaria, como Davi teve ao derrubar Golias. Neste caso, o gigante de Malafaia pode ser derrubado por um galho seco que o atingiu bem nos olhos, tornando-o cego dentro do ambiente político em que ele vem dando as cartas há muito tempo. Mas eles não devem estar preocupados. Se eles andam com Jesus, e o mesmo curou o cego de Jericó, vai que tal gigante também seja salvo por mais este milagre? Eu só quero saber quem salvará o povo desses demônios políticos da extrema-direita. Quem?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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