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Jeferson Miola

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Treinamento de guerra do Exército contra “inimigos internos” cobra reação urgente da sociedade

"A sociedade brasileira está chamada a enfrentar com absoluta urgência a questão militar", escreve o colunista Jeferson Miola

Jair Bolsonaro durante demonstração Operativa por ocasião da Operação Formosa – 2021 (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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Por Jeferson Miola 

O portal The Intercept acessou documento oficial do Exército que descreve “simulação feita em 2020 [que] revela como a tropa de elite do Exército está sendo treinada para combater a esquerda e movimentos sociais”.

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O exercício relatado – “Operação Mantiqueira” – não é um treinamento de defesa do país ante agressores externos. É, ao contrário disso, uma atividade de adestramento ideológico para combater “inimigos internos” – movimentos sociais, organizações e partidos de esquerda.

Se dito documento [aqui] não simulasse situações que aparecem no texto como ambientadas nos anos 2012 a 2020, poderia ser confundido com um manual doutrinário da década de 1935 do século passado. Mostra um Exército anacrônico, aprisionado à lógica embolorada dos longínquos tempos da guerra fria e impregnado ideologicamente pelo anticomunismo que, nos dias atuais, corresponde genericamente ao antipetismo e ao antilulismo.

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O texto incute reacionarismo, conservadorismo e sectarismo nas tropas e reforça uma auto-imagem delirante do papel das Forças Armadas na tutela da democracia.

Para simular o exercício, o Exército criou uma fábula disparatada em que um partido marxista institucionalizado na vida do país tem um braço armado na guerrilha. Escolheram descrições, siglas e denominações para insinuar alusão ao PT, ao MST e a parlamentares de esquerda.

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O instrutivo sugere o papel de “salvação nacional” e de tutela que o Exército “está chamado” a cumprir porque “até o presente as autoridades não percebem o ELPB [sigla de Exército de Libertação do Povo Brasaniano] como ameaça à democracia” [sic].

O roteiro alega, além disso, que “uma ala mais tendenciosa da imprensa vem acompanhando o ELPB de forma velada, com notícias que buscam divulgar o caráter ‘democrático e de liberdade’ que o ELPB ‘defende’”.

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O professor Juliano Cortinhas, da UnB, ouvido pela reportagem do Intercept, opina que “uma operação como essa, de Forças Especiais, seria completamente ilegal. Não há nenhum respaldo legal ou constitucional” e não se refere “a situações plausíveis com que os militares podem eventualmente se deparar”.

Para o professor da UFSCar João Roberto Martins Filho, também citado na reportagem, “não há nenhuma ameaça à democracia partindo de organizações de esquerda, mas sim das de direita, que têm ameaçado instituições democráticas e [estão] sendo investigadas em inquéritos do Supremo Tribunal Federal”.

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Embora no cabeçalho e no rodapé do documento conste a classificação de “reservado”, por algum motivo o mesmo vazou.

Uma fonte militar consultada aventou a hipótese de que o vazamento tenha sido propiciado por algum oficial indignado com o aparelhamento e partidarização do Exército ou, também, que pode ter acontecido por decisão do próprio Comando, interessado em mandar mensagem de intimidação para os movimentos, partidos e organizações de esquerda.

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A potencial vitória eleitoral do ex-presidente Lula em 2022 não é digerida pelo partido dos generais, que moverá montanhas para sabotar sua eleição, sua posse e seu governo. Lula é um entrave à continuidade do projeto de poder da cúpula militar; é o único com chances de mandar os militares de volta aos quartéis.

Como confessou o general conspirador Villas Bôas no livro organizado por Celso Castro [Conversando com o comandante], “me preocupa uma eventual volta ao poder pela esquerda e que ocorra o que disse Tayreland sobre os Bourbon: ‘Não aprendem e também não esquecem’” [pág. 158].

A histeria anticomunista e reacionária que vem de quase um século anima até hoje a atuação partidária das Forças Armadas. Que o diga não sem hipocrisia Villas Bôas: “Mais uma vez, a esquerda empurrou os militares para uma postura anticomunista. Cometeu o erro crasso de provocar fraturas, tanto verticais quanto horizontais, no estamento militar” [sic] [pág. 161].

Para “justificar” a interferência política inconstitucional, o general conspirador evoca “o fato de a esquerda, com pautas esvaziadas desde a queda do comunismo, terem aderido ao ‘politicamente correto’”.

A “Operação Mantiqueira” atesta que o Exército desperdiça milhões de reais numa preparação totalmente inútil para o desempenho da função profissional e constitucional de defesa do Brasil. Ao invés disso, treina e se prepara para guerrear militarmente contra os próprios brasileiros, aqueles considerados inimigos políticos internos.

A sociedade brasileira está chamada a enfrentar com absoluta urgência a questão militar. O treinamento de guerra do Exército contra “inimigos internos” cobra reação urgente do Congresso, do MPF e do judiciário.

Aceitar o insulamento institucional das Forças Armadas poderá ser fatal. Eles têm justiça própria, previdência própria, escolas próprias, currículos próprios, regulamentos próprios, leis próprias, ética própria, pensões vitalícias para filhas, privilégios e mais regalias intrínsecas à vida que levam – à parte e acima do controle da sociedade civil.

Os militares só formalmente estão subordinados ao comando do poder civil. Eles não se submetem a controles públicos, gerenciam com obscuridade [e corrupção] um orçamento anual de mais de R$ 100 bilhões e pior de tudo: atuam como facção partidária e milícia armada que corrompe a democracia, afronta o Estado de Direito e é adestrado para aniquilar segmentos do próprio povo brasileiro.

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