Trump 2: tempos de conflitos com México e Panamá e amores com Argentina
Este é um momento extremamente desafiante para a integração regional e para a América Latina como um todo, escreve Marcia Carmo
Em seu discurso de posse, nesta segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que vai mudar o nome do Golfo do México para ‘Golfo da América’ e “pegar de volta” o Canal do Panamá. Trump já havia feito declarações semelhantes antes de assumir a Casa Branca novamente. Mas que as repita em seu discurso na cerimônia de posse aumenta o dramatismo e a preocupação em relação aos seus planos para dois países da América Latina.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, voltou a dizer, no fim de semana, que seu país “não é colônia de ninguém”. Para ela, a soberania do México inclui a manutenção do nome do Golfo do México, que é compartilhado por seu país, pelos Estados Unidos e por Cuba.
Há duas semanas, quando Trump citou a intenção de mudar o nome do Golfo do México, Sheinbaum respondeu diante de um mapa histórico, dizendo: “Que tal mudarmos o nome dos Estados Unidos para América Mexicana?”. Ela também já disse que "defenderá" os imigrantes mexicanos que vivem no país vizinho, diante das insistentes declarações de Trump sobre a deportação em massa dos "ilegais" -, que tiram o sono não só dos que estão nos Estados Unidos de maneira irregular.
Parece evidente que Trump passará a olhar mais para a América Latina em sua nova gestão. Mas essa mirada inclui, como já deixou claro, tensão com o México, com a Venezuela e com o Panamá. Em 1977, o então presidente Carter assinou um acordo com seu colega panamenho da época, general Omar Torrijos Herrera, por meio do qual, anos mais tarde, em 1999, o canal passou a ser controlado pelo Panamá e não mais pelos Estados Unidos. Hoje, o canal é decisivo para a economia panamenha. Trump disse, porém, que essa foi uma “estafa” (um roubo).
O presidente panamenho, José Raúl Mulino, está preocupado. “Cada metro quadrado do Canal seguirá pertencendo ao Panamá”. Para Trump, como ele disse em seu discurso de posse, a China tem sido beneficiada por esse corredor hídrico internacional. Pode se tratar de um capítulo da nova guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. Mulino, que participou das últimas reuniões do Mercosul, acha que a integração de seu país com os países da América do Sul é o caminho para fortalecê-lo.
Com o retorno de Trump à Casa Branca, o tabuleiro da geopolítica mundial sente uma espécie de terremoto. Mas na Argentina, Javier Milei, entende que já está sendo favorecido por esses movimentos das placas tectônicas da política internacional.
Milei participou da cerimônia de posse de Trump. No domingo e nesta segunda-feira. O argentino costuma ser elogiado publicamente por Trump e por Elon Musk, que integra o novo governo dos Estados Unidos. “Amo Milei”, escreveu Musk, em espanhol, no fim de semana. Nos próximos dias, deverá desembarcar na Argentina uma nova missão do FMI para analisar a economia do país. Provavelmente, um passo antes do envio de recursos do organismo internacional para a Argentina.
O governo Milei espera receber um novo empréstimo para reforçar as reservas raquíticas do Banco Central e acabar com o controle de câmbio no país. E Milei pretende ser, principalmente, a referência de Trump na América Latina e, especialmente, na América do Sul.
Hoje, a presidência temporária do Mercosul – que é semestral – está com a Argentina. Milei só pensa em números, na sua ‘motosserra’ do ajuste fiscal (e por isso tem sido elogiado pelo FMI) e na relação da Argentina com os Estados Unidos. Ele já fez várias críticas ao bloco que reúne Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia (Mercosul). Chamou o bloco de “burocrático” e defende que seu país tenha “liberdade” para estabelecer uma relação de livre comércio com os Estados Unidos.
Milei acha que terá apoio de Trump para essa iniciativa – que depende do apoio do Congresso argentino, onde seu partido, o nanico A Liberdade Avança, não tem maioria, mas tem contado com o apoio de outras legendas para aprovar seus projetos.
Em síntese: este é um momento extremamente desafiante para a integração regional e para a América Latina como um todo.
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